São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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Comentário/erudito

Nelson Freire e solistas estrangeiros se destacam no Festival de Campos

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Foi à saída da capela do palácio Boa Vista, em Campos do Jordão, na última sexta-feira. Uma jovem aluna-bolsista comentou, ensimesmada: "Como eu gostaria de ter estudado com ele desde pequena".
Ela se referia ao violista de origem israelense Atar Arad, que hoje leciona em cinco festivais ou universidades americanas. Integrou por sete anos o Cleveland Quartet. E acabava de interpretar sua "Sonata para Viola Solo", escrita com temas árabes, israelenses e búlgaros.
O 39º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão traz tantos nomes conhecidos que o público freqüentemente se esquece de que, entre os professores convidados, há extraordinários solistas.
No mesmo concerto, o violinista holandês Kees Hülsmann não deixou as pessoas de res- piração presa apenas pela sonoridade excepcional de seu Stradivarius.
O músico foi um dos solistas da "Sonata a Kreutzer", com a fidelidade de quem a interpretasse em sua estréia, em 1802, com o compositor, o próprio Beethoven, ao piano.
Outro susto, por assim dizer, aconteceu no sábado, com o pianista holandês John Snijders e o clarinetista britânico Michael Collins, em programa cujo destaque foi a "Sonata" para os dois instrumentos do francês Francis Poulenc.
Eles ensaiaram por apenas quatro dias. No entanto, transmitiram um refinamento técnico como se fosse a principal peça de um repertório há anos interpretado.
Collins tem 21 CDs gravados, com peças de Copland, Bartok e Mozart. Snijders é especialista em música contemporânea e tem gravações, entre outros, do americano John Cage.

Beethoven por Freire
O sábado também teve o pianista Nelson Freire. A "Sonata alla Turca", de Mozart, é relativamente simples. Ele deu a ela profundidade, como se trouxesse um recado em cada movimento. A "Sonata nº 31", de Beethoven, é complicadíssima, mas foi como se o pianista brasileiro descomprimisse seus fraseados, trazendo-a a uma incrível transparência.
A Orquestra Acadêmica, formada pelos melhores dos 150 bolsistas, fez sua primeira apresentação na sexta-feira, regida por Ronald Zollman, com leituras maduras de Prokofiev e Chostakovich. Estreou ainda "Olhos de Capitu", de João Guilherme Ripper, compositor-residente do festival, com narração de Fernando Portari e a voz da soprano Rosana Lamosa.


O jornalista JOÃO BATISTA NATALI foi hospedado pela produção do festival

ORQUESTRA TOCA NA SALA SÃO PAULO
Com regência de Kurt Masur, a Orquestra Acadêmica encerra o festival, às 17h, no domingo. O concerto ocorre na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 0/ xx/11/3223-3966; ingressos esgotados).


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