São Paulo, quinta, 23 de julho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Artista mexicana apresenta 27 obras inéditas no Brasil em mostra que abre hoje, às 19h, no Memorial
Mónica Castillo se expõe em auto-retratos

CAMILA VIEGAS
da Reportagem Local

Os brasileiros poderão ver a si mesmos por meio dos trabalhos da artista plástica Mónica Castillo, em exposição a partir das 19h de hoje, na galeria Marta Traba da Fundação Memorial da América Latina.
"Yo Es un Otro" reúne 27 pinturas, fotografias digitais e objetos representativos da produção da artista mexicana que abre sua primeira mostra no país.
Castillo parte do auto-retrato -tema recorrente na pintura mexicana, em especial aquela produzida a partir dos anos 80- para discutir a representação metafórica da interioridade do artista e seus estados de espírito, comuns a todas as pessoas.
A pintura, em óleo sobre tela, intitulada "Auto-Retrato Anatômico", por exemplo, apresenta a musculatura interna da face da artista como um desenho detalhado encontrado em livros científicos.
"Até o ângulo em que a cabeça está reclinada foi baseado nesses desenhos para que se veja melhor a musculatura do pescoço. Esse é um ser genérico, não sou mais eu", explica a artista.
Produzidas desde 1993, as obras da exposição estão carregadas desse tipo de discussão formal e simbólica. Na galeria, elas estão dispostas em três grandes grupos: a matéria, o outro e a imagem.
No primeiro grupo, a intenção é trabalhar com a idéia de individualidade. No segundo, a representação da artista é definida por índices (uma parte que indica o todo), como em "A Maleta", de 94.
Trata-se de uma pequena mala forrada de tecido brilhante contendo utensílios que a artista julga imprescindíveis para a manutenção da identidade, mesmo fora de seu ambiente cotidiano.
Entre os objetos da maleta, há uma escova de cabelos, uma camisa, pasta e escova de dentes, meias, sandálias, sabonete.
No terceiro segmento, a imagem, a artista enfatiza a mediação necessária para observar seu próprio rosto. "Preciso, no mínimo, de um espelho ou de uma fotografia para ver meu rosto", diz.
A obrigação de partir de um intermediário para estudar sua imagem a força a distanciar-se de si e faz com que se relacione com o entorno. Castillo produziu três modelos, tipo manequins, para os auto-retratos desse grupo.
Eles são feitos de fios de algodão, ora soltos ora bordados, para criar um clone do rosto da artista. Dois desses bonecos são acompanhados de uma imagem bordada com o mesmo material, como uma espiral de representações.
A essa altura, o visitante já está envolvido com os objetos da mostra. Pode-se portanto entrar em mais uma discussão. A imagem é definida pela memória alheia. Depois de ver tantos auto-retratos, ele está apenas começando a conhecer a obra e a artista Mónica Castillo.


Exposição: Yo es um otro, Mónica Castillo Quando: hoje (abertura), às 19h. De terça a domingo, das 9h às 18h. Até 16 de agosto Onde: galeria Marta Traba de Arte Latino-Americana da Fundação Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda; tel. 011/3823-9611) Quanto: entrada franca




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