São Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999
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De olhos bem abertos (de medo)

Associated Press
Heather Donahue, em cena do filme-sensação "The Blair Witch Project", produção barata de terror que está sendo tão comentada nos EUA quanto blockbusters coomo "Star Wars" e "James West"



Em poucas salas e com um custo baixíssimo, "The Blair Witch Project", assustador filme sobre bruxaria, é a maior sensação do verão nos EUA, em ano de "Star Wars" e Kubrick"


LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Para começar, o que você precisa saber: o nome do filme é "The Blair Witch Project". Escrito e dirigido por Eduardo Sanchez e Daniel Myrick. Os atores são três: Heather Donahue (Heather), Joshua Leonard (Josh) e Michael Williams (Mike).
Com os nomes acima na cabeça, os executivos do cinema nos EUA devem estar a esta hora se coçando em alguma reunião de emergência, a portas fechadas, trancados em uma sala gigante qualquer nos corredores de Hollywood, debruçados sobre papéis, números. Se não estão, deveriam.
Um filmeco de US$ 20 mil (praticamente o preço de três Uno Mille, o carro popular mais barato da Fiat), estrelado por desconhecidos e dirigido por dois sujeitos recém-saídos da escola de arte, está recontando a história do cinema americano em um ano de "Star Wars" (US$ 110 milhões de custo, algo como 18 mil Uno Mille), "As Loucas Aventuras de James West" (US$ 170 milhões, 27.820 Mille), "Matrix" (US$ 63 milhões, 10.270 Mille), Kubrick, Nicole Kidman e Tom Cruise...
Para se ter uma idéia mais "nossa", o custo de "The Blair Witch Project" é umas 334 vezes menor do que Guilherme Fontes está torrando para rodar "Chatô" (R$ 12 milhões). Ou 250 vezes mais barato do que "Tieta".
É fato. "The Blair Witch Project", uma produção B sobre bruxaria (já conto a história), é a grande sensação cinematográfica da atual temporada de verão norte-americano (e ainda não tem nem sequer comprador interessado no Brasil).
Acredite no hype. "The Blair Witch Project", filme de terror que explora o nada, sobre o vazio, sobre o desconhecido (já, já, a história), está fazendo carreira meteórica no boca-a-boca de crítica e público desde que foi visto por poucos no último Sundance Festival, em janeiro.
De todas as salas de cinema de Nova York, "The Blair Witch Project", desde sua estréia em 16 de julho, entrou logo em... um lugar (uma sala no Angelika Film Center, cinema destinado a filmes "cult"). Quer ver o filme em Hollywood? Vai ter de se deslocar até Santa Monica, para a mais próxima das três (3) salas que estão exibindo o filme na região de Los Angeles, capital do cinema.
O que intriga é como um filme barato, que não tem nomes de peso e quase nenhuma propaganda na televisão saltou rápido das conversas de rodinha de cinéfilos direto para a conquista do ciberespaço, TV, jornais e revistas.
O "humilde" "The Blair Witch Project" tem chamado a atenção nos últimos dias tanto quanto seus colegas blockbusters, mesmo estreando em apenas 27 cinemas da América ("Star Wars" estava em 2.447 salas quando "Project" estreou; "As Loucas Aventuras de James West", em 3.342).
Depois de três exibições em Sundance, os jovens diretores venderam o filme para a distribuidora Artisan Entertainment por US$ 1 milhão. No final de semana passado, o da estréia, só a fama em torno do filme levou a produção a abocanhar US$ 1,5 milhão na bilheteria. Os dois valores (venda e bilheteria) somados, e "The Blair Witch Project" já tinha levantado 125 vezes mais que seu custo de produção.
Na próxima sexta, 30, o filme passa das 27 salas para 800 na América, seguido por uma extensa campanha de TV e rádio.
Na mídia escrita, a crítica de cinema da descolada revista californiana "Entertainment Weekly" cravou que a obra é o mais apavorante filme que ela viu na vida. Já o poderoso "The New York Times" estampa no final de seu texto sobre o filme que não vê a hora de saber qual será a próxima brilhante idéia desses talentosos novos diretores.
Roger Ebert, do "Chicago Sun-Times", o crítico mais popular dos EUA depois da aposentadoria de Pauline Kael, dá avaliação máxima e diz que é um extraordinário filme de terror, uma amostra de que, num tempo em que as técnicas digitais nos mostram tudo, o que mais nos apavora, realmente, é aquilo que não podemos ver.
O canal pago Sci-Fi tem levado ao ar programas especiais sobre o filme. Myrick e Sanchez, os diretores, estudam propostas de TVs para realizarem seriados.

A história, afinal
Cena inicial, tela preta, palavras: "Em 21 de outubro de 1994, três estudantes de cinema penetram numa mata chamada Black Florest, em Maryland, para filmar um documentário sobre uma lenda local conhecida como "A Bruxa de Blair". E nunca mais são vistos de novo".
O filme começa mesmo quando, um ano depois do sumiço dos três aspirantes a cineastas, uma sacola é encontrada na região. Dentro, o material dos rapazes: duas câmeras, uma colorida e outra p&b, e um gravador.
A floresta onde os cineastas desapareceram depois de alguns dias de pesquisa abrigava, 200 anos atrás, a cidade de Blair. Em Blair, reza a lenda, existiu uma mulher que utilizava o sangue das crianças locais em serviços de bruxaria.
Das imagens contidas na câmera e do som captado pelas fitas do gravador, surgirá o documentário "The Blair Witch Project", o filme em si.


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