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THE BLAIR WITCH PROJECT CRÍTICA
Filme é repleto de pavores sem nome
JORGE COLI
especial para a Folha, em Nova York
Às vezes, três atores, uma idéia
na cabeça e duas câmeras nas
mãos valem mais do que muitos
efeitos especiais e do que muitos
milhões gastos em Hollywood.
O filme "The Blair Witch Project" está sendo projetado apenas
em um cinema de arte, em Nova
York, mas tornou-se um fenômeno.
Por causa dele, formam-se filas
enormes, lotando todas as sessões. "The Blair Witch Project" é
um filme de terror bastante incomum.
Não provoca sustos nem ansiedades violentas ou imediatas. É
outra coisa. Há uma passagem
progressiva do mundo urbano e
seguro para o domínio da natureza que inquieta.
Natureza sem dramas, porém,
sem florestas cerradas e rios perigosos.
Uma natureza antes tranquila,
de aspecto agradável, espécie de
imenso bosque claro com um riacho.
Mas adquire tal presença e verdade no filme que dela emana
uma força mágica e implácavel.
Nas noites, a escuridão cria angústia mais forte. É quando se
manifestam sons estranhos e
quando as falas, perturbadas,
perdem o controle, enquanto,
durante vários minutos, a tela
torna-se apenas um retângulo negro.
Aos poucos começam a surgir
pedras amontoadas de uma certa
maneira ou gravetos amarrados,
inquietantes, belos objetos entre
o "land-art" e o feitiço.
No meio de um desses feixinhos, vai se descobrir uma pequena coisa orgânica e sangrenta,
nota vermelha que se destaca. No
final, a exploração de uma casa
isolada e em abandono, que parece querer voltar ao estado de natureza, subjuga o público.
Mas, como nos escritos de Lovecraft, nada de monstruoso é explicitado.
Idéia original
O filme, de orçamento irrisório,
dirigido por dois novatos, partiu
de uma idéia original. São três jovens fazendo um documentário
sobre uma bruxa que teria existido num certo lugar.
Puseram-se a caminho com
uma câmera de vídeo e outra de
16mm, filmando-se uns aos outros.
Os personagens têm o mesmo
nome dos atores e o filme resulta
daquilo que eles próprios filmaram, sem cameramen, isolados
no mato, apenas com um rádio
para contato com o resto da equipe e comida escassa, para ficarem
num certo condicionamento físico propício. Quando queriam interromper a ficção e voltar à realidade, tinham uma senha, a palavra "taco".
É uma espécie de jogo, que lembra os inventados pelos surrealistas para escapar dos mecanismos
conscientes.
No início, há um caráter um
pouco artificial nessas câmeras
girando mesmo nos momentos
mais duros e histéricos, o que cria
um certo distanciamento para o
espectador.
Isso, porém, auxilia a filtrar o
medo e nos entrega melhor a pavores sem nome.
Avaliação:
Jorge Coli é historiador da arte
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