São Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999
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THE BLAIR WITCH PROJECT CRÍTICA
Filme é repleto de pavores sem nome

JORGE COLI
especial para a Folha, em Nova York

Às vezes, três atores, uma idéia na cabeça e duas câmeras nas mãos valem mais do que muitos efeitos especiais e do que muitos milhões gastos em Hollywood.
O filme "The Blair Witch Project" está sendo projetado apenas em um cinema de arte, em Nova York, mas tornou-se um fenômeno.
Por causa dele, formam-se filas enormes, lotando todas as sessões. "The Blair Witch Project" é um filme de terror bastante incomum.
Não provoca sustos nem ansiedades violentas ou imediatas. É outra coisa. Há uma passagem progressiva do mundo urbano e seguro para o domínio da natureza que inquieta.
Natureza sem dramas, porém, sem florestas cerradas e rios perigosos.
Uma natureza antes tranquila, de aspecto agradável, espécie de imenso bosque claro com um riacho.
Mas adquire tal presença e verdade no filme que dela emana uma força mágica e implácavel.
Nas noites, a escuridão cria angústia mais forte. É quando se manifestam sons estranhos e quando as falas, perturbadas, perdem o controle, enquanto, durante vários minutos, a tela torna-se apenas um retângulo negro.
Aos poucos começam a surgir pedras amontoadas de uma certa maneira ou gravetos amarrados, inquietantes, belos objetos entre o "land-art" e o feitiço.
No meio de um desses feixinhos, vai se descobrir uma pequena coisa orgânica e sangrenta, nota vermelha que se destaca. No final, a exploração de uma casa isolada e em abandono, que parece querer voltar ao estado de natureza, subjuga o público.
Mas, como nos escritos de Lovecraft, nada de monstruoso é explicitado.

Idéia original
O filme, de orçamento irrisório, dirigido por dois novatos, partiu de uma idéia original. São três jovens fazendo um documentário sobre uma bruxa que teria existido num certo lugar.
Puseram-se a caminho com uma câmera de vídeo e outra de 16mm, filmando-se uns aos outros.
Os personagens têm o mesmo nome dos atores e o filme resulta daquilo que eles próprios filmaram, sem cameramen, isolados no mato, apenas com um rádio para contato com o resto da equipe e comida escassa, para ficarem num certo condicionamento físico propício. Quando queriam interromper a ficção e voltar à realidade, tinham uma senha, a palavra "taco".
É uma espécie de jogo, que lembra os inventados pelos surrealistas para escapar dos mecanismos conscientes.
No início, há um caráter um pouco artificial nessas câmeras girando mesmo nos momentos mais duros e histéricos, o que cria um certo distanciamento para o espectador.
Isso, porém, auxilia a filtrar o medo e nos entrega melhor a pavores sem nome.


Avaliação:    


Jorge Coli é historiador da arte


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