São Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999
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MÚSICA
Terceira edição do festival reúne 48 bandas para 60 horas de rock'n'roll, barracas e cachorros-quentes
Woodstock 99 começa em ex-base aérea

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Começa hoje o Woodstock 99 e, se tudo der certo, ele volta em 2004, 2009, 2014 etc.
Transformar o festival de rock mais famoso do planeta em um produto, quer dizer, um evento que acontece de cinco em cinco anos, é a grande meta do promotor Michael Lang e de sua firma Woodstock Ventures.
Mas, para isso, há uma meta anterior: fazer a festa de hoje, amanhã e domingo dar certo, quer dizer, dar lucro. "Vai ser lindo", antevê o promotor.
Lang, que ajudou a levantar o lendário Woodstock 69 e organizou a edição de 94, perdeu -ou pelo menos afirma ter perdido- dinheiro nas duas ocasiões. Se andou aprendendo com os erros, saberemos em 2004.
O que já sabemos é que há diversas diferenças e tantas outras semelhanças com os festivais anteriores.
Da mesma forma que nos anteriores, o grande foco do Woodstock 99 é em bandas que fazem sucesso nos Estados Unidos agora, como Limp Bizkit, Korn, Insane Clown Posse e Dave Matthews Band. Daí, não estranhe o fato de você não conhecer a maioria dos artistas.
É claro que há espaço para nomes mais conhecidos, como Bush, Red Hot Chili Peppers, Chemical Brothers, Metallica e Sheryl Crow, mas a idéia é oferecer um Woodstock para a geração que está aí, disposta a acampar três dias sem dormir numa fazenda barulhenta (48 bandas em 60 horas), comendo mal (centenas de barracas de cachorro-quente, tacos, pizzas, sanduíches e outras iguarias do mesmo porte) e sob risco de afogamento na lama (choveu bem nas duas edições anteriores).

US$ 150
Diferentemente das edições anteriores, Lang nem sonha em admitir gente de graça em seu festival. O primeiro Woodstock esperava, no máximo, 50 mil hippies, a US$ 18 por cabeça. Apareceram entre 400 mil e meio milhão, que foram entrando, sentando e fumando.
Em 94, a Woodstock Ventures queria mais de 300 mil pessoas dispostas a pagar US$ 135. Acabaram vendendo para 200 mil, mas nem 600 policiais e 1.200 seguranças conseguiram impedir invasões de dezenas de milhares.
Desta vez, espera-se 250 mil. O ingresso custa US$ 150 e, sem pagá-lo, vai ser muito difícil. O próprio lugar escolhido é uma fortaleza: o Griffiss Park, uma antiga base da Força Aérea norte-americana na cidadezinha de Rome (NY), EUA.
As cerquinhas da fazenda de Bethel (NY), em 1969, não contam, mas as de 1994, na cidade de Sugerties (NY), tinham mais de 2 metros.
Neste ano, além delas, há um muro de madeira e ferro que corre por cinco quilômetros ao redor da parte principal do festival.
Como é um evento de paz e amor (o slogan deste edição do evento é "Um Mundo, Muitas Vozes"), inventou-se que o tal muro é "comemorativo". Assim, diversos painéis inspirados no Woodstock 69 foram pintados em sua extensão.
Mas os afrescos não enganam todo mundo: "Este lugar foi construído para ser defendido de um ataque militar", congratula-se o chefe de segurança Ken Donohue.
Prevendo que muitos chegarão sem ingresso, a empresa Woodstock Ventures resolveu colocar bilhetes à venda durante o festival, o que não aconteceu na edição anterior.

Cerveja
Com 15 milhões de metros quadrados -o equivalente a dez parques Ibirapuera-, o Griffiss Park abriga dois enormes palcos principais -a 1,5 quilômetro de distância-, um terceiro para artistas iniciantes, raves noturnas em hangar, palcos de teatro experimental, um festival de cinema, um mercado de artes, um parque com novidades tecnológicas, local para acampamento (preço incluído no ingresso) e um espaço para esportes radicais.
Cerveja só poderá ser vendida e consumida em áreas reservadas, o que já é um reconhecimento de que os esforços de fazer um festival seco, como em 1994, não foram frutíferos. O estacionamento funciona no próprio local.
Por enquanto, o promotor Michael Lang só tem uma reclamação a fazer. "Está um pouco fraco na mídia", diz. "Mas é um evento único. Este é "o" festival americano. Não há outro lugar para ir e ter essa experiência."


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