ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Durante uma audição de três dias, que começa na próxima sexta, serão escolhidos os 20 bailarinos que devem integrar o elenco de um novo grupo de dança subvencionado pela prefeitura e pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Trata-se do Corpo de Baile do Teatro Municipal, que deverá desenvolver repertório clássico, sendo a estréia, programada para dezembro, com o balé "O Quebra-Nozes".
Em meio à comunidade de dança paulista, a notícia vem provocando surpresa e revolta. Sete dos mais importantes profissionais que atuam na cidade, consultados pela Folha, desconheciam o projeto. "Não estou sabendo de nada sobre as razões que estão motivando a criação de um novo grupo, tampouco quando, onde e como vai atuar", disse Ivonice Satie, diretora do Balé da Cidade de São Paulo, também subordinado à Secretaria Municipal da Cultura. "Cheira a coisa de véspera de eleições", afirmou Hulda Bittencourt, diretora do Cisne Negro, grupo fundado há 23 anos.
Idéia do maestro Julio Medaglia, que em junho foi nomeado diretor artístico do Teatro Municipal e também regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal, a nova companhia deverá ser dirigida por um desconhecido: o búlgaro Ivo Gueorguiev, cuja única experiência à frente de um grupo de dança ocorreu em 1998, quando ele ajudou a formar um elenco no teatro Amazonas, de Manaus.
"Vim para o Brasil acompanhando minha mulher, que é violinista e havia sido convidada por Medaglia para integrar a Orquestra Filarmônica de Manaus. Foi minha sorte, pois logo comecei a ajudar a secretaria a criar um grupo de dança. Só que eu não poderia viver no Amazonas, lá é muito quente, por isso achei bom me mudar para São Paulo", diz Gueorguiev, 39. Formado em balé clássico em seu país, ele dançou como solista no Ballet da Ópera Nacional de Sofia e no Komische Ópera Berlim, da Alemanha.
Segundo Medaglia, Gueorguiev dançou nos "maiores centros nervosos do balé clássico internacional", ou seja, nos balés Kirov e Bolshoi, da Rússia. "Eu o conheci quando fiz a regência de "O Guarani" na Ópera Nacional da Bulgária, em 1996. Ele tem informações muito atuais e achei que não poderia perder a chance de tê-lo à frente de uma companhia."
Porém Gueorguiev nunca trabalhou na Rússia, segundo ele mesmo confirmou à Folha. Como vários bailarinos brasileiros, participou de concursos em Moscou, sem conseguir classificações. Como coreógrafo, sua experiência se resume à ópera "L'Elisir d'Amore", de Donizetti, montada no teatro Amazonas em 1999. Ainda contrariando afirmação de Medaglia, Gueorguiev nunca montou balés do repertório clássico.


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