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LITERATURA
Crítico literário é o tema central em série de seminários na USP
Ciclo em SP aborda a crítica materialista de Schwarz
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
O crítico literário Roberto
Schwarz fez 66 anos na última
sexta-feira, mas a maior homenagem, se o termo se aplica, ele recebe a partir de hoje, na Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São
Paulo.
Trata-se de um ciclo de seminários que pretende avaliar a crítica
materialista, com ênfase na obra
de Roberto Schwarz, considerado
seu maior representante na América Latina.
A idéia partiu da professora Maria Elisa Cevasco, 52, que, junto
com Milton Ohata, do Instituto de
Estudos Brasileiros, organiza o
evento. Ela se inspirou num simpósio de avaliação da obra de
Schwarz, a que assistiu no ano
passado na Universidade de Stanford, nos EUA.
Em Stanford, os debates contaram com expoentes do pensamento de esquerda nos Estados
Unidos, como o crítico literário
Fredric Jameson e o historiador
Perry Anderson, que considera
"Um Mestre na Periferia do Capitalismo", obra de Schwarz sobre
Machado de Assis, "o mais importante livro de estudos literários publicado no mundo todo
nos últimos 50 anos".
Não que Schwarz precise do
aval do exterior. No Brasil, no ano
passado, um evento realizado no
Centro Universitário Maria Antonia, para marcar os 30 anos de seu
ensaio "As Idéias Fora do Lugar",
foi tão badalado que inúmeras
pessoas ficaram de fora.
O simpósio desta semana é
aberto hoje de manhã com um
depoimento do crítico Antonio
Candido, maior influência brasileira ao pensamento de Schwarz.
Em seguida falam Fernando Novais, José Arthur Giannotti e Paul
Singer, que, junto com Schwarz e
Fernando Henrique Cardoso, englobaram o grupo que, no final
dos anos de 1950, se reunia para
estudar a obra "O Capital", de
Karl Marx.
O historiador Luiz Felipe de
Alencastro e o poeta Francisco Alvim vêm ao Brasil para o evento.
Do Rio de Janeiro, chega o escritor Paulo Lins, de "Cidade de
Deus". Além deles, o encontro
conta com a presença de convidados estrangeiros, como o alemão
Robert Kurz, o norte-americano
Neil Larsen e a salvadorenha Silvia Lopez.
Para o sociólogo Francisco de
Oliveira, 69, que participa da mesa de hoje à tarde, o seminário é fundamental, pois, "na
tradição de Antonio Candido,
Schwarz elabora uma crítica originalíssima, materialista no melhor sentido, pois atenta à forma
literária", mas cujas "ressonâncias vão muito além da crítica literária".
Maria Elisa, para quem as condições atuais favorecem a reflexão
da crítica materialista, concorda
com ele. "Num mundo dito globalizado, o pensamento de
Schwarz constitui uma forma
produtiva de examinar a relação
entre os países dispostos na periferia do capitalismo, num "espaço
distinto, mas não alheio", e aqueles que estão em seu centro", argumenta.
Além disso, no espaço periférico, é possível observar melhor as
contradições do capitalismo. Maria Elisa ilustra seu ponto de vista
ao lembrar que não longe do local
onde ocorreu na quinta-feira passada o ataque aos moradores de
rua, no centro de São Paulo, situa-se a opulenta Bolsa de Valores.
"As pessoas não enxergam essas
contradições flagrantes. Para entendê-las, é preciso ler a obra de
Schwarz", arremata.
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