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FESTIVAL
"El Juego de la Silla", da diretora novata Ana Katz, foi um dos destaques do evento, que premiou produção francesa
Brasília vê "novíssimo" cinema argentino
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Já existe um "novíssimo" cinema argentino. Enquanto diretores
como Juan José Campanella ("O
Filho da Noiva") e Marcelo Piñeyro ("Kamchatka") e atores como
Ricardo Darín e Leonardo Sbaraglia conquistam projeção internacional e grandes bilheterias, uma
nova geração abre espaço ao
apostar num cinema experimental com forte relação com o teatro.
"El Juego de la Silla" (O Jogo da
Cadeira), exibido no 5º Festival
Internacional de Cinema de Brasília, encerrado anteontem, é um
exemplo dessa nova safra.
O filme, ainda sem previsão de
estréia aqui, é uma comédia familiar de humor negro e tem na direção Ana Katz, 28, ex-assistente de
Pablo Trapero ("Mundo Grúa").
O texto foi elaborado a partir de
experiências entre a diretora e um
grupo de atores teatrais. Conta a
história de uma família de classe
média portenha que recebe a visita do filho mais velho, Victor, que
vive no Canadá. Quando o rapaz
chega, sua mãe, suas duas irmãs, o
irmão e uma ex-namorada o
aguardam com uma intensa programação de entretenimentos caseiros. Aí entram exibições de filmes antigos, "performances"
com canções que marcaram sua
infância, jogos familiares e refeições intermináveis.
O que começa como um encontro repleto de recordações carinhosas, porém, vai se tornando
um embate dramático. Gestos e
reações passam a revelar diferenças mal resolvidas, traumas antigos e feridas ainda abertas.
A diretora gosta de defini-lo como uma ""A Noviça Rebelde" destroçada" e transportada para a
Argentina atual. Porém, a semelhança com o ambiente claustrofóbico e familiar de outro filme argentino, "La Ciénaga", de Lucrécia Martel, parece traduzir melhor
o incômodo que o filme provoca.
Presente no evento, o ator Diego
de Paula, 39, que faz Victor, disse
à Folha: "Meu personagem representa a crise de identidade argentina. Temos dificuldade de aceitar
nossas raízes. Assim como Victor
se sente incomodado e sente até
mesmo repulsa ao ver a humilhação da mãe e das irmãs para agradá-lo, os argentinos carregam o
incômodo de não serem europeus, de viverem no meio de crises e da precariedade".
Cinema valenciano
Além da boa surpresa argentina,
o festival reuniu também uma interessante amostragem do cinema espanhol atual, por meio da
Mostra Valenciana e da exibição
de "Los Lunes al Sol" (As Segundas-Feiras ao Sol), de Fernando
Leon de Aranoa, filme vencedor
do último Goya.
Em "A Ilha do Holandês", o valenciano Sigfrid Monleón projetou numa ilha imaginária uma
utopia à la Charles Fourier. Em
1969, durante a ditadura franquista, um professor universitário e
militante comunista (Pere Ponce)
é deportado e obrigado a viver
numa ilha salineira.
Naquele lugar perdido no tempo, suas idéias revolucionárias se
vêem de encontro com uma realidade que é a própria encarnação
de seus desejos políticos. Ali vive-se em comunidade, há solidariedade e a economia está fechada
para o mundo. Porém, ele assiste
à diluição de suas convicções, pois
apaixona-se por uma islenha e desiste de fugir para lutar pela resistência a Franco. Vê-se, ainda, ao
mesmo tempo amigo de um soldado da temida polícia franquista
e defensor da causa dos nativos.
"Quis retratar um lugar esquecido pela história, um refúgio de piratas e de excluídos da política.
Um lugar onde um comunista pode se encontrar com suas idéias
encarnadas em pessoas e então
sim perceber que a vida humana é
mais complexa, que não se trata
de uma divisão entre branco e
preto", disse Monleón, outro dos
convidados do festival.
"O cinema de Valência distinguiu-se nos anos 60 por desenvolver um cinema de investigação
formal, ao passo que em Madri se
fazia cinema político. Hoje somos
um foco independente, enquanto
Madri sedia a grande indústria do
cinema", explicou Monleón.
A jornalista Sylvia Colombo viajou a
convite do festival
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