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FERNANDO BONASSI
Grandes personagens da nossa história
Tinha aquele que dizia estar
perdido. Tinha aquele que
garantiu ter encontrado. Tinha
aquele que continuava procurando e tinha aquele que se achava.
Tinha aquele que chegava como
quem não queria nada. Tinha
aquele que metia o pé na porta.
Tinha aquele que abria.
Tinha aquele que era irmão. Tinha o pai daquela outra. Tinha
aquele que veio com a família, teve aquele que fugiu de casa e
aquele que empregou toda a indecência dos parentes. Tinha aquele
da mala preta, aquele da perna
torta, o do saco roxo. Tinha aquele
da toga ilibada. Tinha aquele da
pizza e o outro da marmelada. Tinha aquele que a pretexto de saúde espalhou doença. Tinha aquele
que à propósito de justiça se tornou um criminoso. Tinha aquele
que passava ileso nos processos.
Tinha aquele que soprava, aquele
que alisava e aquele que batia. Tinha aquele da palmatória e aquele do eletrochoque. Tinha aquele
da barba, aquele dos pelados e o
outro de bigode.
Tinha aquele que diziam que
não era. Tinha aquele que assumia que era o próprio. Tinha
aquele que roubava mas fazia e
aquele estuprava mas não matava. Tinha aquele que era gente
boa e aquele que a gente nunca
imaginava. Tinha aquele que só
de farda. Tinha o outro que não
honrava o terno. Tinha aquele de
batina, tinha aquele que chorava
e aquele que sorria. Tinha aquele
da economia, aquele que fazia
crescer o bolo e a barriga. Tinha
aquele que regulava um pedacinho. Tinha aquele que teve escrúpulos e aquele que os mandou às
favas.
Tinha aquele que contava com o
beneplácito, o que legislava em benefício e aquele que punia o malefício; nos casos, os alheios.
Tinha aquele que se desdobrava
e aquele que se defendia. Tinha
aquele que constava em todos os
sanatórios. Tinha aquele com cartórios de sua preferência. Tinha
aquele do orçamento, do senado,
do convento.
Tinha aquele que era torneiro.
Tinha aquela que era ambulante,
o japonês que era feirante e o ladrão que era banqueiro. Tinha
aquele da telefonia. Tinha um que
não se comunicava. Tinha aquele
que mandava recado. Tinha
aquele que perdia a paciência.
Tinha aquele peixe grande. Teve
aquele cachorro magro. Tinha
aquele que comprou o carro e tinha aquele que era o motorista.
Tinha aquele que fazia pagamentos escusos. Tinha aquele que recebia uma parte. Tinha aquele que
não prestava e tinha aquele que
servia. Tinha aquele que quebrava um galho, o outro que dava um
jeito e um terceiro que disfarçava.
Tinha aquele que bebia, que dormia, que roncava. Tinha aquele
que cheirava cocaína, que fumava
maconha e desvirginava menores
indolentes. Tinha uma de vestido
de oncinha. Teve aquela da foto
sem calcinha. Tinha aquele que
agenciava e tinha aquele que pedia. Tinha aquele do Fusca e o outro do Rolls Royce. Tinha aquele
da periferia e aquele que se achava o centro de tudo. Tinha aquele
que chegava antes da hora. Tinha
aquele que despistava, aquele que
transigia e aquele que atrapalhava.
Tinha aquele que engavetava.
Tinha aquele que estornava e
aquele que esquecia. Tinha aquele
que explorava. Tinha aquele que
tolerava. Tinha aquele que consumia.
Tinha aquele que sabia, mas
não dizia. Tinha aquele que se fazia de surdo aos desesperados. Tinha aquele que queria entrar pra
história dos esfomeados. Tinha
aquele que preferiu ficar pra tia.
Tinha aquele que era cego e aquele que fazia vista grossa. Tinha
aquele que era do grito. Tinha
aquele que achava mole. Tinha
aquele que obedecia. Tinha aquele que acenava com mundos e fundos. Tinha aquele que nos ferrava
nas costas. Tinha aquele que ousava. Tinha aquele que blefava.
Tinha aquele que ajoelhava e
aquele que rezava. Tinha aquele
que entornava. Tinha aquele que
não via outra saída. Tinha um cabeludo que cantava. Tinha um careca que acobertava. Tinha um laranja que assinava e um esperto
que escapava. Tinha um detetive
que descobria. Tinha aquele que
era herói e aquele foi morto.
Teve aqueles que esqueceram
agendas comprometedoras. Tinha
aquele que guardava tudo de cabeça. Teve um que ficou louco. Tinha aquele que lutava, aquele que
se entregava e aquele que desaparecia.
Tinha aquele que enterrava sob
nome falso. Tinha aquele que assinava o laudo. Tinha aquele que
garantia. Tinha aquele que mamava escondido nos seios exuberantes. Tinha aquele que metia os
peitos. Tinha aquele que prometia
um espetáculo e aquele que fazia
escândalo. Tinha aquele que a
mulher mandava e aquele que a
mulher enganava. Tinha aquele
que era homem e aquele que era
mulher.
Tinha aquele que tomava passe.
Teve aquele que nem tomou posse.
Tinha aquele que abençoava e
aquele que maldizia. Tinha aquele que era colega de trabalho. Tinha aquele que ordenava e tinha
aquele que cumpria. Tinha aquele
que era desordeiro. Teve um outro
que era feiticeiro. Teve aquele dos
fantasmas! Que medo!
Tinha aquele que respondia em
cima e aquele que nos pôs pra baixo...
Também tinha aqueles que se
foram tarde e tem esses que estão
por aí agora...
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