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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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ETERNAMENTE Joaquim Pedro


Seis longas e oito curtas que compõem a obra do cineasta serão restaurados e terão cópias digitais para preservação


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Alice, 38, Maria, 24, e Antônio, 26 -filhos do cineasta Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988)-, recuperaram de arquivos espalhados pela França, Bélgica e Portugal, além do Brasil, as matrizes (cópias originais) de todos os filmes do pai.
São seis longas e oito curtas-metragens, entre eles os clássicos cinemanovistas "Garrincha, a Alegria do Povo" (1963) e "O Padre e a Moça" (1965).
A reunião da obra completa de Joaquim Pedro de Andrade foi o primeiro passo para que a filmografia do cineasta seja restaurada em tecnologia digital, processo que deve ser iniciado na próxima semana, num laboratório de São Paulo, e se estender por um ano.
"Nossa prioridade é parar o processo de degradação física [da película]", diz Maria Andrade, curadora do projeto. Alice de Andrade faz o acompanhamento técnico, e Antônio de Andrade, a produção executiva.
"Quando as matrizes estiverem digitalizadas, estarão prontas para o formato DVD ou para gerar novas matrizes em película", diz Maria. Na fase atual do projeto, que tem patrocínio de R$ 2,6 milhões da Petrobras (leia texto nesta página), a confecção de novas cópias em película a partir da restauração digital está prevista apenas para o longa "Macunaíma" (1969) e o curta "Couro de Gato" (1960).
Antônio de Andrade diz que fará uma opção "conservadora" de restauro. Serão evitadas interferências na obra do cineasta para corrigir erros técnicos característicos da época de produção dos filmes. Tampouco haverá modificação das características do som, capazes de produzir um aumento de qualidade (de mono para dolby) incompatível com a tecnologia disponível no período em que a obra foi feita.
"[Nos filmes] Existem, por exemplo, pequenos problemas de sincronia entre o som e a imagem, que caracterizam toda uma época do cinema brasileiro. Tenho certeza de que o Joaquim corrigiria isso, mas nós não temos esse direito. Eu não sou meu pai", diz.
Os filhos do cineasta conseguiram a adesão dos fotógrafos que trabalharam com Joaquim Pedro de Andrade para o projeto. Afonso Beato, que hoje vive em Los Angeles, Pedro de Moraes e Mário Carneiro se comprometeram a acompanhar a restauração dos filmes em que trabalharam.
Com a ajuda de Beato, Antônio de Andrade fez a opção pelo tipo de tecnologia a ser usada, depois de cultivar "uma enorme dúvida" entre duas opções. Escolheu o processo 2K, já utilizado na restauração digital de "O Grande Ditador", de Charles Chaplin.
Numa parceria com a Secretaria para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais do Ministério da Cultura, o projeto abrirá espaço para a formação de mão-de-obra interessada em se especializar na restauração de filmes.
"Como teremos quatro etapas de trabalho, de três meses cada uma, haverá chance para que vários estagiários participem", diz Maria Andrade.
Antônio afirma que, além do aspecto de aperfeiçoamento dos profissionais brasileiros, o projeto de restauração da obra completa de Joaquim Pedro de Andrade quer contribuir para a "formação de uma consciência de memória e preservação".
"Nesse ponto, temos um link familiar muito importante, já que meu avô, Rodrigo Mello Franco de Andrade, foi fundador do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)."


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