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1 em cada 7 livros é vendido em casa
Porta a porta atrai "nova classe média", que não tem hábito de ir a livrarias, de acordo com diretor do grupo Ediouro
Vendedoras da Avon passaram a oferecer títulos de Paulo Coelho à série Harry Potter, além de manuais de gastronomia e moda
DA REPORTAGEM LOCAL
Um segmento do mercado
editorial que passa ao largo das
megalivrarias ou dos shopping
centers só tem motivos para comemorar. A velha prática da
venda porta a porta, em plena
era da internet, não só resiste
aos novos tempos como virou
uma grande aposta do setor.
O crescimento nesse segmento foi uma das surpresas da
última pesquisa anual da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe), patrocinada pelo Sindicato Nacional dos
Editores de Livros (Snel) e pela
Câmara Brasileira do Livro
(CBL), divulgada em agosto.
Nos últimos três anos, quase
triplicou a participação dessa
modalidade nas vendas. Segundo o estudo, 13,7% dos exemplares vendidos já são comercializados por vendedores a domicílio -um montante de 28,9
milhões de livros em 2008.
Boa parte dessa cifra é responsabilidade dos 30 mil vendedores contratados pelas 220
editoras e empresas ligadas à
Associação Brasileira de Difusão de Livro (ABDL), que fazem
um trabalho de venda capilarizada em todo o país e alcançam
áreas não servidas pelas livrarias -no Norte e Nordeste, por
exemplo.
Divulgada há duas semanas,
uma pesquisa da ABDL mostra
a força do setor: faturamento
de R$ 681 milhões em 2008
apenas entre seus associados.
Não há dados que permitam a
análise por região, mas a avaliação é que o crescimento ocorreu de forma generalizada.
Segundo a ABDL, o valor médio do livro vendido no setor
em 2008 foi de R$ 6,06. Um dado relevante, já que o economista Fabio Sá Earp (UFRJ)
atribui a queda no preço dos livros nos últimos anos em parte
às vendas a domicílio.
A vedete do segmento, no entanto, não está na ABDL. Trata-se da multinacional Avon, que
incluiu nos seus catálogos best-sellers tanto de autoajuda como de literatura. Cerca de 1,1
milhão de revendedoras passaram a vender títulos de Paulo
Coelho à série Harry Potter,
além de manuais de gastronomia e moda, entre outros.
Segundo Adriana Picazio, gerente de marketing desse segmento na Avon, o Brasil é um
caso único entre os mais de 100
países em que a empresa atua.
"Levamos cultura e informação
com comodidade. Temos uma
venda diferenciada, as revendedoras leem os livros e acabam indicando. É um outro tipo de relação", diz. Para ela, um
dos segredos do sucesso são os
preços competitivos, quando
comparados com a internet.
"Temos economia de escala.
Também não cobramos frete."
Para André Castro, diretor
executivo da Nova Fronteira e
da Agir, do grupo Ediouro, "a
Avon consegue chegar em locais que as livrarias não alcançam. As pessoas não confiam
nas compras pela internet". Segundo ele, "as classes C e D não
têm o hábito de frequentar as
livrarias. A Avon dialoga com
uma nova classe média".
É a mesma opinião de Luís
Antonio Torelli, presidente da
ABDL, que atribui o crescimento no segmento à ascensão financeira das classes C e D. Ele
aposta na introdução do Vale
Cultura, proposto em julho pelo governo Lula, para dar ainda
mais impulso ao setor.
Enquanto a ABDL comercializa principalmente títulos não
literários ou coleções, como Bíblias, enciclopédias e obras infantis, a Avon lida com grandes
editoras, como Ediouro, Record e Sextante -que passaram
usar esse segmento para testar
novos títulos e formatos, antes
de chegarem às lojas.
"A Avon sabe escolher os títulos que vão fazer sucesso, conhece seu público melhor do
que os editores", diz Carlo Carrenho, publisher da Thomas
Nelson Brasil, também do grupo Ediouro. Ele cita um dos hits
dos catálogos da Avon: Max Lucado, pastor americano, autor
de "Dias Melhores Virão".
"Desde 2007, vendi em livrarias 30 mil exemplares desse livro. Pela Avon, já vendi mais de
300 mil exemplares."
A pesquisa Livro no Orçamento Familiar, divulgada no
início do mês por entidades do
setor, com base em dados da
Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE (dados de 2002-2003), aponta que as livrarias
permanecem o canal preferencial para compra de livros não
didáticos (66%), mas a venda
porta a porta vem em segundo
lugar, com 15%.
(MARCOS STRECKER)
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