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Próximo filme vai tratar de vingança
da Reportagem Local
O próximo filme de Walter Salles, o sucessor de "Central do
Brasil", será sobre vingança. Da
mesma forma que "Central", deve
se passar no interior mais pobre
do país. Porém, diferentemente
desse, não é o amor que faz a história andar, mas o ódio.
A história é adaptada do livro
"Abril Despedaçado", do albanês
Ismail Kadare (Companhia das
Letras, R$ 21,50), e fala de um rapaz obrigado por seu pai a vingar
a morte do irmão.
"Descobri o livro graças a meu
irmão João. Fiquei impactado
com a sua narrativa seca e visceral, que trata da questão da violência atávica e pergunta se é possível interromper o ciclo da violência. Há uma carga poética,
uma verticalidade de sentimentos
incomum em "Abril". Tentei verter essas características para o cinema", diz o diretor.
No processo de adaptação, a
história deve ser transferida para
o sertão brasileiro: "O filme fala
daqueles territórios que foram
delimitados pela força, como o
sertão dos Inhamuns (uma das
regiões brasileiras mais atingidas
pela seca), no Ceará".
"Conta a história de um rapaz
de 18 anos que é obrigado pelo pai
a vingar a morte do irmão mais
velho. Só que esse rapaz não quer
cobrar a dívida de sangue. Sabe
que, se cometer o crime, sua vida
será dividida em duas. De um lado, os 18 anos que já viveu. Do outro, os poucos dias que lhe restarão antes de ser abatido. E ele ainda não conheceu o amor, nem o
mar...", conta Salles.
Os fãs do cinema de Walter Salles, entretanto, têm ainda muito a
esperar antes de ver o filme seguinte a "Central do Brasil".
"É preciso entender que um roteiro leva, às vezes, três, quatro
anos para atingir um ponto de
maturação. "Central" demorou
três anos. Por isso é preciso avançar em frentes diferentes, ir lapidando os roteiros aos poucos - é
um processo exaustivo, mas não
sei trabalhar de forma diferente."
No caso de "Abril Despedaçado", Salles está trabalhando na
adaptação há menos de um ano.
"Estamos começando a escolher os atores. É provável que
muitos não-atores façam parte,
como em "Central". Também teremos pessoas que estão começando atrás das câmeras."
A produção do novo filme deve
ser, como em "Central do Brasil",
de Arthur Cohn.
Há outras idéias em andamento, como um roteiro original com
João Manuel Carneiro (de "Central") e um projeto com a South
Fork, produtora de Robert Redford. "Todos no âmbito do cinema independente, que é onde prefiro estar", diz Salles.
O diretor também deu consultoria para o desenvolvimento de
dois roteiros independentes, um
deles sobre os artistas mexicanos
Frida Kahlo e Diego Rivera.
(IF)
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