São Paulo, Sábado, 23 de Outubro de 1999
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Próximo filme vai tratar de vingança

da Reportagem Local

O próximo filme de Walter Salles, o sucessor de "Central do Brasil", será sobre vingança. Da mesma forma que "Central", deve se passar no interior mais pobre do país. Porém, diferentemente desse, não é o amor que faz a história andar, mas o ódio.
A história é adaptada do livro "Abril Despedaçado", do albanês Ismail Kadare (Companhia das Letras, R$ 21,50), e fala de um rapaz obrigado por seu pai a vingar a morte do irmão.
"Descobri o livro graças a meu irmão João. Fiquei impactado com a sua narrativa seca e visceral, que trata da questão da violência atávica e pergunta se é possível interromper o ciclo da violência. Há uma carga poética, uma verticalidade de sentimentos incomum em "Abril". Tentei verter essas características para o cinema", diz o diretor.
No processo de adaptação, a história deve ser transferida para o sertão brasileiro: "O filme fala daqueles territórios que foram delimitados pela força, como o sertão dos Inhamuns (uma das regiões brasileiras mais atingidas pela seca), no Ceará".
"Conta a história de um rapaz de 18 anos que é obrigado pelo pai a vingar a morte do irmão mais velho. Só que esse rapaz não quer cobrar a dívida de sangue. Sabe que, se cometer o crime, sua vida será dividida em duas. De um lado, os 18 anos que já viveu. Do outro, os poucos dias que lhe restarão antes de ser abatido. E ele ainda não conheceu o amor, nem o mar...", conta Salles.
Os fãs do cinema de Walter Salles, entretanto, têm ainda muito a esperar antes de ver o filme seguinte a "Central do Brasil".
"É preciso entender que um roteiro leva, às vezes, três, quatro anos para atingir um ponto de maturação. "Central" demorou três anos. Por isso é preciso avançar em frentes diferentes, ir lapidando os roteiros aos poucos - é um processo exaustivo, mas não sei trabalhar de forma diferente."
No caso de "Abril Despedaçado", Salles está trabalhando na adaptação há menos de um ano.
"Estamos começando a escolher os atores. É provável que muitos não-atores façam parte, como em "Central". Também teremos pessoas que estão começando atrás das câmeras."
A produção do novo filme deve ser, como em "Central do Brasil", de Arthur Cohn.
Há outras idéias em andamento, como um roteiro original com João Manuel Carneiro (de "Central") e um projeto com a South Fork, produtora de Robert Redford. "Todos no âmbito do cinema independente, que é onde prefiro estar", diz Salles.
O diretor também deu consultoria para o desenvolvimento de dois roteiros independentes, um deles sobre os artistas mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera. (IF)


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