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ERUDITA
Karajan vira
evento
fonográfico
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Bem merecidamente, é provável que jamais se deixe de homenagear Herbert von Karajan
(1908-1989). Os dez anos de sua
morte têm sido um dos eventos
do ano da indústria fonográfica. A Deutsche Grammophon
reedita cem gravações em 25
CDs. A EMI lança uma série de
outros 30. A Sony relança em
DVD concertos por ele gravados a partir dos anos 70.
É até que bem pouco para um
maestro que começou a gravar
no final da década de 30 e que
deixou uma herança de aproximadamente 700 matrizes com
diferentes orquestras e solistas.
No Brasil, como pequena
amostragem, a Polygram, atual
proprietária do selo DGG, produziu e está colocando no mercado, em dois CDs, a pequena
antologia "Herbert von Karajan, a Lenda, in Memoriam".
O maestro austríaco comparece com aquilo em que sobrevive seu imenso vigor -Mozart, Bizet, Tchaikowski, Dvorak-, e também como referencial histórico, com duas
gravações de Bach -concertos
para violino, números 1.041 e
1.042 no catálogo BWV, com
Christian Ferras-, nas quais
sua leitura envelheceu.
A carreira do regente, iniciada em 1928 na Ópera de Ulm,
foi suficientemente longa para
que modismos e descobertas
musicológicas a atropelassem
em alguns de seus segmentos.
A partir dos anos 80 o público se habituou à execução do
repertório barroco com formações reduzidas, instrumentos e
afinação de época. O Bach de
Karajan, com os 130 músicos
que compõem a Filarmônica
de Berlim, tornou-se um despropósito.
Mas nem por isso Karajan
deixa de ser imaterial, perfeccionista, uma espécie de síntese
de Bruno Walter, Furtwaengler
e Toscanini, outros grandes
nomes da regência deste século. O forte da antologia agora
lançada está em duas sinfonias
gravadas em momentos distintos de sua carreira. É a "Quarta", de Tchaikowski (1966),
com a Filarmônica de Berlim,
da qual foi diretor por 34 anos,
e a "Oitava", de Dvorak (1985),
com a Filarmônica de Viena,
que ele nunca deixou de dirigir
esporadicamente.
São duas belas e magníficas
interpretações. O Tchaikowski
é dissecado com o bisturi que
põe em relevo as cores dramáticas, mas tratadas com estudado comedimento para não cair
nos clichês do emocionalismo.
Quanto à "Oitava", ela provoca antes de mais nada saudades dos sopros da Viena que esteve recentemente em São Paulo. Karajan traz à luz o Brahms
recôndito na partitura do compositor tcheco.
Trabalha com delicadeza extrema as cordas em seus registros mais graves, para em seguida soltar os demônios dos
"tuti" em acordes de predominância aguda. O lirismo dos
fraseados é ao mesmo tempo
tenro e professoral.
Disco: Herbert von Karajan, A Lenda,
in Memoriam
Lançamento: Deutsche
Grammophon
Quanto: R$ 25, em média
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