|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Trajetória priorizou
cinematografias indies
RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL
Como muitos eventos no cenário cultural brasileiro, a Mostra
Internacional de Cinema de São
Paulo surgiu do desejo pessoal de
seus realizadores. No caso, o jovem programador de cinema do
Museu de Arte São Paulo, Leon
Cakoff, então com 23 anos.
À frente da programação do
museu desde 74, Cakoff criou a
mostra em 77, com intenção de
atender uma demanda que ele via
reprimida entre os cinéfilos, a começar por ele próprio. "Era uma
necessidade que eu tinha como
espectador", conta o diretor das
25 edições do evento.
Outra barreira com a qual Cakoff teve de lidar era política, durante os anos do regime militar.
"A censura passou um medo para
as distribuidoras, mutilando os
filmes." Diante desse cenário, foi
criado um modelo de atuação que
acabou se transformando no
"modus operandi" por excelência
da Mostra. "Passei a usar as relações diplomáticas. Era um jeito de
furar o cerco, os filmes não passavam pela Polícia Federal", lembra.
Já na segunda edição, o evento
trouxe ao Brasil o cinema cubano
de Thomás Gutierrez Alea, premiado por "A Última Ceia", revelando suas intenções.
Após sete edições, Cakoff deixou o Masp, movido pelo que
chama de "ciúme" do diretor Pietro Maria Bardi. "Não dava. Ou
acabava com a Mostra ou saía."
Com um "leque de apoio internacional" já consolidado, passou
a ocupar outros espaços da cidade, dando vazão a seu projeto original. A atenção às cinematografias fora dos grandes centros produtores se afirmou ainda mais como uma vocação. Depois de premiar o hoje badalado cineasta iugoslavo Emir Kusturica na sexta
edição, por "Você se Lembra de
Dolly Bell?", cineastas como o holandês Jos Stelling e o russo Serguei Paradjanov tiveram sua vez.
Em 1989, foi o polonês
Krzysztof Kieslowski, duplamente laureado. Mais recentemente, o
cinema independente americano
foi contemplado: "Confiança", de
Hal Hartley, e "Felicidade", de
Todd Solondz, levaram prêmios
em 91 e 98, introduzindo os cineastas para o público brasileiro.
Para fazer um balanço das bodas de prata -uma história de
mudanças que começa nos primeiros 16 longas de 77 e chega à
profusão de títulos de hoje, que
exige que um programa de computador faça a programação-, a
organização promete lançar no
ano que vem um livro sobre suas
25 primeiras edições.
Texto Anterior: "Juha": Aki Kaurismäki homenageia a pureza Próximo Texto: Panorâmica - Festival: Infarto tira Art van Damme do Free Jazz Índice
|