São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004
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Um certo capitão Verissimo
CASSIANO ELEK MACHADO DA REPORTAGEM LOCAL E o vento não levou. E o tempo tampouco. E, nas margens do centenário do autor, a obra de um certo Erico Verissimo ganha a partir desta semana um projeto editorial de raras proporções para um escritor brasileiro. Desta segunda, quando chegam às livrarias os dois primeiros volumes da saga "O Tempo e o Vento", até 17 de dezembro de 2005, quando o escritor gaúcho completaria seus cem anos, 25 títulos dele serão lançados com novos projetos gráficos, novos prefácios, novas ilustrações e outra série de investimentos editoriais. Investimento é a palavra. A Companhia das Letras, que passa a ser o time de Erico Verissimo, não fala em valores, mas mede esforços. "É a maior operação em termos de trabalho editorial já realizada pela editora até aqui", afirma o dono da companhia, Luiz Schwarcz. Um folder de oito páginas distribuído pela Companhia das Letras para livreiros e imprensa dá a idéia do tamanho do montinho de fichas apostadas sobre o veludo verde do autor de "Incidente em Antares". "Estimado pelo público", "Consagrado pela crítica", "O Tempo e o Vento" - A mais famosa saga da literatura brasileira" são algumas das vinhetas. O nome do folheto diz ainda mais: "Erico Verissimo brasileiro". Schwarcz, que trata a empreitada como "aposta ganha", comenta: "Ele é um escritor que já tem uma colocação. Gostaríamos de fazer um trabalho que melhorasse ainda a colocação dele em termos nacionais". É mais ou menos a mesma explicação dada pelo também escritor Luis Fernando Verissimo, filho de Erico (1905-75), para a mudança para a Companhia. Verissimo, o pai, publicou seu primeiro livro, "Fantoches", pela antiga Globo, de Porto Alegre, em 1932. Dessa editora, onde trabalhou também como editor e tradutor, não mais havia se separado -mesmo quando a empresa foi vendida para o conglomerado de Roberto Marinho. "Não temos nenhuma queixa do trabalho da Globo, que afinal (apesar da Globo atual não ser mais a Globo de Porto Alegre) foi a continuação de uma ligação de 70 anos. Só sentimos que, com o vencimento do nosso último contrato, estava na hora de mudar, inclusive para proporcionar a um público novo a descoberta da obra", afirma Verissimo, o filho. A divulgação não será apenas pelos caminhos da propaganda -e displays e anúncios estão no projeto. Entre outras iniciativas, a Companhia das Letras está organizando palestras sobre Verissimo para livreiros de diversas partes do país. As "aulas" são dadas por Flávio Aguiar, professor da USP e supervisor editorial de todo o relançamento. Da caudalosa produção de Verissimo, Aguiar pinçou um trabalho especial para abrir a reedição: "O Continente". Luis Fernando diz que leu a obra completa de Erico e que é essa primeira parte da saga "O Tempo e o Vento" a sua predileta. Os elogios do saxofonista (Luis Fernando) ao clarinetista (Erico) não são 100% afinados com os que lhe fazem muitos críticos. A Folha ouviu três dos grandes críticos do país, Davi Arrigucci Jr. (SP), Wilson Martins (PR) e Benedito Nunes (PA), e encontrou como único consenso a afirmação de que o autor é um dos grandes da ficção brasileira. O próprio Erico tentava escapar deste tipo de afirmação. Tímido e modesto (características presentes no DNA do filho escritor -"Eu não tinha nenhuma idéia de ser escritor e continuo não tendo"), cravava sempre que podia algo na linha "Horroriza-me a idéia de ser transformado num medalhão. Não quero ser estátua, seja de busto ou de corpo inteiro" (como disse em entrevista à extinta revista "Realidade", em 1966). Mas o "fictício" Continente de São Pedro, os imaginados Ana Terra e capitão Rodrigo vão ressurgindo com mais força. O tempo e o vento parecem soprar contra esse "desejo" do escritor da pequena Cruz Alta. O CONTINENTE (VOLS 1. e 2.). Autor: Erico Verissimo. Editora: Companhia das Letras. Quanto: R$ 47 (cada volume). Colaborou Luciana Araujo, da Redação Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Para críticos, tempo faz bem a autor Índice |
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