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Mãe e "erro" inspiram comédia
DA REDAÇÃO
A escritora carioca Adriana Falcão, 44, possuía apenas uma idéia:
uma velha senhora que vira fantasma e, de tão tinhosa e controladora, convence Deus a voltar ao
mundo dos vivos para consertar
umas "últimas coisinhas".
Durante um ano, Adriana tentou transformar essa premissa em
roteiro para o cinema. Não conseguiu. "Meus livros têm essa característica do erro. Tudo o que eu
não consigo fazer vira um livro",
ri de si mesma a autora, que agora
lança "A Comédia dos Anjos".
"Tentei fazer uma peça, não deu
certo, eis que surge "A Máquina"
[que virou espetáculo de teatro
pelas mãos de seu marido, João
Falcão, e agora se transforma em
filme]. Depois, uma crônica mal
resolvida para uma revista virou o
infantil "Mania de Explicação". Eu
só tinha aquela idéia, era só ela
que me restava. Então pensei que
era melhor fazer um livro."
Bem-humorado e de diálogos
rápidos, "A Comédia dos Anjos"
tem o tom de um filme, mas
Adriana diz que, por enquanto,
não há nada previsto. "O Guel
[Arraes] e o Jorge [Furtado] leram
e gostaram do texto, mas foi só."
"Só" não é bem o termo, já que
foram essas boas críticas dos amigos próximos que deram à autora
e co-roteirista de "A Grande Família", da TV Globo, uma sensação de alívio. "É que sempre tenho uma agonia de que vão descobrir que sou uma impostora."
O livro, à moda do realismo mágico, que Adriana define como
"mais a sua praia", é completamente inspirado na sua mãe. "Toda mãe acha que só ela sabe resolver a vida dos filhos e que, se os
outros tentarem, vão fazer errado.
Minha mãe era assim. Quando ela
morreu, cheguei a pensar que, do
jeito que ela era insistente, ia convencer Deus para poder voltar.
Anos depois vi que eu também
sou assim, pensando que só eu
vou conseguir fazer as coisas mais
absurdas. Daí surgiu o livro."
A vontade de "controlar o mundo", como a personagem principal de "A Comédia", não se reflete
na autora no que toca à adaptação
ao teatro de "A Máquina". "Para a
peça, eu não controlei muito. No
cinema, que agora está em fase de
montagem, acompanhei mais.
Está superadiantado. Até o Chico
[Buarque] compôs uma música
inédita para a trilha", elogia.
Sobre o trabalho de criar diálogos para o cinema, Adriana diz
não gostar muito. "O cinema tem
muita regra, porque há muito dinheiro envolvido. Roteiro é técnica, e tenho a impressão de haver
um manual que, se você não seguir, num instante serão apontados todos os seus erros. A literatura é livre, não tem certo e errado."
E o que fazer agora que se acabaram as idéias? "Vou me jogar
do quinto andar", brinca, para
emendar, séria: "Estou finalizando a temporada de "A Grande Família" e preparando um dos especiais de final de ano da Globo.
Trabalhei tanto neste ano que estou fechando para balanço".
(LÚCIA VALENTIM RODRIGUES)
A COMÉDIA DOS ANJOS. De: Adriana
Falcão. Editora: Planeta. Quanto: R$ 32
(144 págs.).
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