São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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Mãe e "erro" inspiram comédia

DA REDAÇÃO

A escritora carioca Adriana Falcão, 44, possuía apenas uma idéia: uma velha senhora que vira fantasma e, de tão tinhosa e controladora, convence Deus a voltar ao mundo dos vivos para consertar umas "últimas coisinhas".
Durante um ano, Adriana tentou transformar essa premissa em roteiro para o cinema. Não conseguiu. "Meus livros têm essa característica do erro. Tudo o que eu não consigo fazer vira um livro", ri de si mesma a autora, que agora lança "A Comédia dos Anjos".
"Tentei fazer uma peça, não deu certo, eis que surge "A Máquina" [que virou espetáculo de teatro pelas mãos de seu marido, João Falcão, e agora se transforma em filme]. Depois, uma crônica mal resolvida para uma revista virou o infantil "Mania de Explicação". Eu só tinha aquela idéia, era só ela que me restava. Então pensei que era melhor fazer um livro."
Bem-humorado e de diálogos rápidos, "A Comédia dos Anjos" tem o tom de um filme, mas Adriana diz que, por enquanto, não há nada previsto. "O Guel [Arraes] e o Jorge [Furtado] leram e gostaram do texto, mas foi só."
"Só" não é bem o termo, já que foram essas boas críticas dos amigos próximos que deram à autora e co-roteirista de "A Grande Família", da TV Globo, uma sensação de alívio. "É que sempre tenho uma agonia de que vão descobrir que sou uma impostora."
O livro, à moda do realismo mágico, que Adriana define como "mais a sua praia", é completamente inspirado na sua mãe. "Toda mãe acha que só ela sabe resolver a vida dos filhos e que, se os outros tentarem, vão fazer errado. Minha mãe era assim. Quando ela morreu, cheguei a pensar que, do jeito que ela era insistente, ia convencer Deus para poder voltar. Anos depois vi que eu também sou assim, pensando que só eu vou conseguir fazer as coisas mais absurdas. Daí surgiu o livro."
A vontade de "controlar o mundo", como a personagem principal de "A Comédia", não se reflete na autora no que toca à adaptação ao teatro de "A Máquina". "Para a peça, eu não controlei muito. No cinema, que agora está em fase de montagem, acompanhei mais. Está superadiantado. Até o Chico [Buarque] compôs uma música inédita para a trilha", elogia.
Sobre o trabalho de criar diálogos para o cinema, Adriana diz não gostar muito. "O cinema tem muita regra, porque há muito dinheiro envolvido. Roteiro é técnica, e tenho a impressão de haver um manual que, se você não seguir, num instante serão apontados todos os seus erros. A literatura é livre, não tem certo e errado."
E o que fazer agora que se acabaram as idéias? "Vou me jogar do quinto andar", brinca, para emendar, séria: "Estou finalizando a temporada de "A Grande Família" e preparando um dos especiais de final de ano da Globo. Trabalhei tanto neste ano que estou fechando para balanço".
(LÚCIA VALENTIM RODRIGUES)


A COMÉDIA DOS ANJOS. De: Adriana Falcão. Editora: Planeta. Quanto: R$ 32 (144 págs.).


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