São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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COLEÇÃO FOLHA

Compositor de óperas consagradas, autor alemão esteve no centro de importantes polêmicas musicais

Próximo CD destaca genialidade de Wagner

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Semana que vem é tempo de ouvir a Royal Philharmonic Orchestra tocando a música de um dos mais consagrados e controversos autores da música erudita. Trechos orquestrais de óperas de Richard Wagner (1813-1883) formam o próximo volume da Coleção Folha de Música Clássica.
Poucos compositores são objeto de um culto tão intenso quanto Wagner. Desde 1876, o ritual se repete: wagnerianos de todas as partes do globo se reúnem na pequena cidade alemã de Bayreuth para comparecer ao festival de verão que encena apenas óperas do compositor germânico, no teatro que foi planejado pelo próprio Wagner. A fila de espera para os ingressos é de sete anos.
Poucos, também, são centro de polêmicas tão exacerbadas. Revolucionário na juventude, Wagner foi adotando posições cada vez mais anti-semitas ao longo de sua vida. Sua música foi incorporada pelo Terceiro Reich, e até hoje tentativas de execução de Wagner em Israel suscitam protestos de sobreviventes dos campos de extermínio.
O próprio Hitler tinha adoração por Wagner; o ditador nazista compareceu ao festival de Bayreuth, e consta que o manuscrito da ópera "Rienzi", cuja abertura integra o CD da Coleção Folha, pereceu com ele em seu bunker, em 1945.
Além de "Rienzi", o disco traz excertos bastante conhecidos da produção wagneriana, como "A Cavalgada das Valquírias" -trecho da ópera "A Valquíria", que faz parte da tetralogia "O Anel do Nibelungo", utilizado com grande impacto por Francis Ford Coppola em seu filme "Apocalipse Now" (1979).
Wagner tem obras sinfônicas que ninguém toca, e peças para piano solo que permanecem esquecidas. Seu verdadeiro legado como compositor repousa nas óperas, que lhe deram uma posição de liderança nas vanguardas estéticas do século 19.
Pelas inovações harmônicas, a produção do compositor era rotulada de "música do futuro", e ele almejava que seus espetáculos fossem a "obra integrada", fusão de todas as expressões artísticas.
Outra característica das óperas de Wagner é o uso constante do "leitmotiv" ("motivo condutor"). Trata-se de um tema musical claramente definido, que representa uma pessoa, objeto, estado de espírito ou situação, e que retorna sempre que o personagem ao qual ele está associado entra em cena ou é mencionado. Wagner não inventou o "leitmotiv", mas o empregou de maneira sistemática, transformando-o em um dos pontos capitais de sua estética.


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