DA REPORTAGEM LOCAL

"O meu mau é ingênuo -é um mau que só acha que é mau. Parece uma pedra, mas é feita de isopor." Essa é a autodefinição do cantor e compositor Erasmo Carlos, que acaba de lançar seu primeiro livro, o autobiográfico "Minha Fama de Mau".
O cantor conta que levou dois anos e meio escrevendo. Começou registrando "fatos aleatórios", contos "sem intenção nenhuma; se possível, com humor". Escrevia à mão. O filho Leo Esteves se encarregava de transcrever no computador. Mas não gosta de falar em autobiografia. "Aí a coisa fica muito séria, tem que contar mesmo as coisas, ser sincero pra caramba -coisa que ninguém consegue ser", diz. "O cara sempre se faz de vítima. E tem que entregar as pessoas. No meu caso, não quero fazer inimizade nenhuma."
Para tanto, ele diz ter trocado nomes de alguns personagens, principalmente daquelas "companheiras da gente que deram pra todo mundo". O tema "sexo" é recorrente, mas nunca escandaloso. O momento mais íntimo talvez seja quando o cantor relembra a própria operação de fimose.
Passa rapidamente pelas drogas. Mas o que a maioria dos "contos" enfoca é mesmo o rock and roll -mais especificamente o iê-iê-iê dos anos 60. Era o apogeu da jovem guarda, e Erasmo acabava de conhecer Roberto Carlos, Tim Maia, Jorge Ben, Carlos Imperial, Wilson Simonal e mais um monte de outros futuros ícones da música pop brasileira.
A propósito, Erasmo garante que não consultou nenhum dos citados no livro antes da publicação. "Bicho, fui falando as coisas e nem sei se não vou ter problemas", diz. "Como é que eu vou saber se a Wanderléa vai gostar? Ou se o próprio Roberto não vai achar ruim? Sei lá."

Show
Hoje, Erasmo chega a São Paulo com a turnê de "Rock'n'Roll". Mas, do disco novo, vai mostrar apenas seis músicas. "A crítica gosta muito quando o cara coloca músicas novas, mas o público não gosta disso", diz.
"Igual aos Stones, quando vêm. Se eles não cantam "Satisfaction", nego não fica satisfeito. Quero satisfazer a todos." Pois é: de mau, Erasmo só tem a fama. (MARCUS PRETO)