São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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CRÍTICA
Tropicália acha elo perdido

especial para a Folha

Se em entrevistas arrisca considerações sobre o país, a raça, o século, Carlinhos Brown em seus discos parece mais contido -pelo menos isso não aparece lá como discurso inteligível. A informação musical, talvez por sua formação original de percussionista, sobressai sobre as letras, que de resto seguem o formato "Som/ Dim-dom-dom/ São Bento/ Grande homem de movimento/ Martelo no Tribunal" etc., que o lançaram.
Mas aí vêm coisas como o "broken english" ("que cabe no português, porque é a língua que uso quando vou ao McDonald's, ao cachorro-quente, ao bar"), usado em "Irará", uma canção neotropicalista não por ser Irará a cidade natal de Tom Zé -e da avó de Brown e de "60% da gente do Candeal"-, mas por conter a preciosa letra: "Faraway, faraway/ Para o Irará irei".
Brown parece em "Omelete Man" realmente experimentar a liberdade que diz procurar e adere influências diversas, arranjos à George Martin, cordas, Cesaria Évora, frevo e axé, ou seja, Carnaval.
Se o que menos lhe concerne é estilo, nem por isso soa totalmente saco de gatos. Brown é inventivo, mistura percussão com sopros com os quais Caetano deveria ter sonhado um ano atrás, chega até a não ferir completamente os ouvidos com suas limitações vocais.
Pode não ter qualquer importância histórica, certamente não foi esse o intento do autor, mas com "Omelete Man" Brown acaba de achar o elo perdido da tropicália. Não tem peso nas letras -pinta até parceria com Arnaldo Antunes e frases consecutivamente iniciadas com "talvez"-, tem umas lentinhas sofríveis, mas o conjunto resiste, é bom, forte, vivaz. Naif, imprevisível, amalucado. E quase já ia abrindo uma vírgula e colocando em seguida: Brown.
²
Disco: Omelete Man Artista: Carlinhos Brown Lançamento: EMI Quanto: R$ 18 (em média)


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