|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Tropicália acha
elo perdido
especial para a Folha
Se em entrevistas arrisca
considerações sobre o país,
a raça, o século, Carlinhos
Brown em seus discos parece mais contido -pelo menos isso não aparece lá como discurso inteligível. A
informação musical, talvez
por sua formação original
de percussionista, sobressai
sobre as letras, que de resto
seguem o formato "Som/
Dim-dom-dom/ São Bento/
Grande homem de movimento/ Martelo no Tribunal" etc., que o lançaram.
Mas aí vêm coisas como o
"broken english" ("que cabe no português, porque é a
língua que uso quando vou
ao McDonald's, ao cachorro-quente, ao bar"), usado
em "Irará", uma canção
neotropicalista não por ser
Irará a cidade natal de Tom
Zé -e da avó de Brown e de
"60% da gente do Candeal"-, mas por conter a
preciosa letra: "Faraway, faraway/ Para o Irará irei".
Brown parece em "Omelete Man" realmente experimentar a liberdade que
diz procurar e adere influências diversas, arranjos
à George Martin, cordas,
Cesaria Évora, frevo e axé,
ou seja, Carnaval.
Se o que menos lhe concerne é estilo, nem por isso
soa totalmente saco de gatos. Brown é inventivo, mistura percussão com sopros
com os quais Caetano deveria ter sonhado um ano
atrás, chega até a não ferir
completamente os ouvidos
com suas limitações vocais.
Pode não ter qualquer importância histórica, certamente não foi esse o intento
do autor, mas com "Omelete Man" Brown acaba de
achar o elo perdido da tropicália. Não tem peso nas
letras -pinta até parceria
com Arnaldo Antunes e frases consecutivamente iniciadas com "talvez"-, tem
umas lentinhas sofríveis,
mas o conjunto resiste, é
bom, forte, vivaz. Naif, imprevisível, amalucado. E
quase já ia abrindo uma vírgula e colocando em seguida: Brown.
²
Disco: Omelete Man
Artista: Carlinhos Brown
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18 (em média)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|