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Carlinhos Brown
Rosane Marinho/Folha Imagem
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O cantor e compositor baiano Carlinhos Brown, que está lançando o disco 'Omelete Man'
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O cantor e compositor baiano fala sobre seu novo disco, "Omelete Man", Racionais MCs, música eletrônica, família Buarque e Brasil
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PAULO VIEIRA
enviado especial ao Rio
O objetivo da música é gerar felicidade. A música não traiu ninguém. Frases de um frasista meio
naif, o compositor Carlinhos
Brown, um homem que tem, entre
suas qualidades -e talvez ele considere isso musical-, uma camaradagem acima da média. Até aos
Racionais MCs, grupo que o hostilizou numa cerimônia recente,
destina elogios. O compositor chega ao segundo disco, "Omelete
Man", onde imagina ter impresso
tais conceitos. Para divulgá-lo recebeu a Folha no Rio.
Folha - Antes de falar do disco,
pergunto sobre o incidente com os
Racionais MCs, na entrega dos prêmios da MTV, que você apresentou. Eles não pegavam o troféu da
sua mão, começaram a entoar "filho da puta". Que achou do episódio todo?
Carlinhos Brown - Foi um momento feliz da MPB. Foi o encontro zumbi-aluvião. Ali, de um lado
tinha uma sociedade miscigenada
baiana com conhecimentos de que
é herdeira do Brasil, de que não é
colonizada, mas colonizador também. Por outro lado um grupo que
tem seu papel social, importância,
que faz uma música muito boa e
tem discurso aliado à situação que
vive em São Paulo. Era essa situação, não eu, nem Mano, nem ninguém. Agora eu não mudo minha
posição sobre o rap, essa música
tão fragilizada, um discurso tão
burro e fraco no mundo inteiro.
Nós não fazemos música para ostentar medalhões de ouro, carrões,
drogas e mulheres, isso não parece
muito com a história do Brasil.
Folha - Uma interpretação possível do encontro é o grupo querer
tentar não ser maculado por uma
certa indústria que você personificava como apresentador e artista
estabelecido. Esses arcabouços
não o oprimiam?
Brown - Em nenhum momento.
As pessoas falam que eu interferi,
que eu tomei a palavra. Mas eu era
o MC ali. Foi um grande acontecimento para mim e para o grupo.
Não era divergência, foi sadio,
uma prova de que há o que fazer na
música, nos discursos. Não achei
aquilo rancoroso, acho que eles foram originais do jeito deles, e eu do
meu.
Folha - Vocês conversaram depois daquilo?
Brown - Convidaram-me para
uma festa do dia das crianças que
eles fazem. Não pude, mas a gente
ainda vai se encontrar. Eu estou
tentando fazer um encontro na Bahia, e aí mostramos que não há diferença nenhuma, eles têm a onda
deles, a gente tem a nossa, não é
"indimizade". Eu estou tentando
levar para a Bahia o James Brown,
Charlie Brown Jr., Mano Brown e
MC's Racionais e Alcione.
Folha - Seu primeiro disco foi lançado com alguma pompa, lançamento mundial, e esse aqui está
mais tímido. O que aconteceu de
um para o o outro?
Brown - Não estou vendo assim.
Sou um artista que está começando. É a mesma cobrança que fazem
para o Brasil, querem que o Brasil
seja mais velho do que é. Cobram
de mim um resultado. Não entendo desse negócio de verbas. Tem
Pitágoras e tem pitadas. Esse negócio de quantia, passa-se muito pela
necessidade adolescente "eu significo se eu vender muito". Tenho
necessidade de fazer música, e fazer música não significa gravar.
disco. Há artistas no exterior, como os Fugees, o Chemical Brothers, que saem muito nos jornais
daqui, e são artistas da minha convivência.
Folha - E você pensa em fazer algo com eles?
Brown - Será natural se vier, mas
nunca vou forçar nada. São nomes
importantes da pop music de fora,
mas eu prefiro Chiquinho de Moraes. O que liga o meu timbal é o
Brasil.
Folha - Ao ouvir o disco, que é
muito diferente entre suas faixas,
fiquei me perguntando se o seu estilo é um monte de coisas juntas,
ou se você não tem estilo.
Brown - Eu sou assim, não é o
disco. O outro disco também, não
percebem que eu gosto de ter diferenças. Não vou ficar fazendo 30
"A Namorada" porque foi sucesso.
Folha - Você fecha o disco com
uma oração, à maneira do "Tropicália", que é fechado pelo "Hino
do Senhor do Bonfim".
Brown - Eu mesmo não sabia que
o "Hino" era a última música. Mas
eu sou sacro, não sou só candomblé, minha música é uma forma de
agradecer a quem me ajuda.
Folha - OK, agora, a palavra "alquimistas", da música "Vitamina
Ser", é Jorge Ben.
Brown - Claro que é. Não tinha
como conhecer essa palavra se não
fosse pela boca dele. Ele é meu verdadeiro "iniciante", a pessoa que
me iniciou de certo modo na música, e que tem uma visão que continua moderna. A obra de Jorge se
renova nos grupos de pagode, no
samba-reggae baiano.
Folha - Mas acho que não se renova nele.
Brown - Mas se renova nas pessoas. Eu vejo artistas dizerem, como o menino do Planet Hemp...
Ele falava sobre o disco dele, disse
"só não tem Gilberto Gil e Caetano,
não gosto muito de MPB, ela estacionou". Eu analisando aquilo ali,
acho que Caetano, Tom, Cecilia
Meireles... o tom de Tom é presente. A presença desses grandes criadores está para a gente não como
"estacionamento", mas como generosidade de ter permitido uma
adequação à música. O D2 é parecido com a capa de "Tropicália",
aquele cabelão, aquela barba, segurando o retrato. Por mais que fale aquilo, ele está inserido.
Folha - Você sabia exatamente o
que queria antes de entrar no estúdio, ou é desses que acreditam nas
mudanças do caminho?
Brown - O que as obras precisam
é de felicidade, para poder passar
isso às pessoas. Isso é o inatingível,
não tem nada que pague. O mundo
precisa ser envolto em felicidade, e
é a música que pode oferecer isso.
Folha - Qualquer música oferece
isso?
Brown - Acho que qualquer música feita com amor, sinceridade e
verdade.
Folha - ET e Rodolfo oferecem isso?
Brown - Eu me recuso a falar de
assuntos extraterrestres. Não compreendo essa turma. Sei que tem
ratinhos, leões. Mas na verdade essa música dúbia é uma evolução
dos Mamonas. Essa sacanagem é a
criança da pessoa, diz como o povo
brasileiro é, ingênuo, prestativo.
Eu assisto "Topa Tudo por Dinheiro", adoro. Quando a pegadinha
acaba, o cara recobra sua capacidade de contribuir, mostra valor,
caráter.
Folha - Você vê os anos 90 como
pródigos, mas não usa computador na música.
Brown - Só na mixagem, não na
produção do som, que é manufaturado. Eu nasci nos 60, posso pegar um violão e tirar uma distorção, fazer um wah-wah com a boca. Dizem que o som eletrônico é
moderno, mas você ouve e parece
demo.
Folha - Essa barba que você usa
parece com a do Gil em 71.
Brown - Eu nem sabia que tinha
barba, apareceu aí, comecei a deixar. Esse negócio de andar com
cabelo raspado parece opressão
da ditadura, eu ando buscando o
velho, o que antecede o homem.
Para entender o homem eu preferi esse visual mais primata.
Folha - Seu sogro, o Chico Buarque, nunca te enche o saco por você usar essas roupas esquisitas,
não gostar de futebol...
Brown - Quem disse que eu não
gosto de futebol, eu só não sei jogar. Mas se ele me enche o saco, é
de fartura, dou graças a Deus daquela família ter a educação de base que tem, Deus ajude que as famílias brasileiras tenham a oportunidade de ser como aquela, tão
gentil, tão boa gente.
Folha - Quando é que você vai fazer o público de seus shows de São
Paulo dar a volta no Palace, como
você faz com os baianos lá no Gueto Square?
Brown - É isso que eu quero com
o Brasil, dar uma volta nele, não no
sentido de enganá-lo. De retomar
nossos mantras. Estamos num lugar onde qualquer princípio cerimonial passa pelo giro, e aqui ainda vale o princípio europeu de parar defronte e observar alguém. O
Brasil é um país mântrico.
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