São Paulo, Terça-feira, 23 de Novembro de 1999
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TEATRO
Estréia montagem, produzida por Regina Duarte, de texto da australiana Joanna Murray-Smith
"Honra" retrata a anti-Malu Mulher

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

O enredo é típico de novela das oito: após 32 anos de casamento, homem troca mulher por outra que tem quase a idade da sua filha. Em cena, a chancela do padrão Globo de interpretação: Regina Duarte, Carolina Ferraz e Gabriela Duarte. Mas o assunto aqui é teatro.
"Esqueça o enredo. Ele é apenas pretexto para uma jóia da dramaturgia universal", garante a atriz e produtora Regina Duarte, 52. Ela sai em defesa de "Honra", texto inédito da australiana Joana Murray-Smith (leia texto abaixo).
Com direção de Celso Nunes, a montagem estréia hoje no teatro Cultura Artística, em São Paulo, para convidados, e inicia temporada amanhã para o público.
"Se eu queria um texto que fugisse do naturalismo que a televisão propõe, esse texto é "Honra". É uma história que só pode ser contada no teatro", descreve Regina.
Ela volta ao palco sete anos depois de protagonizar "A Vida É Sonho", de Calderón de La Barca, dirigida por Gabriel Villela. Ao contrário do papel do príncipe recluso, que lhe exigia expressão corporal, ela agora lida com uma interpretação meramente introspectiva.
Regina vive Norah, uma mulher elegante, cerca de 50 anos, que abdicou da carreira de escritora para ser mãe e mulher. O marido, Guilherme (Marcos Caruso), é jornalista famoso e cinquentão atraente. São pais de Sofia (Gabriela Duarte), universitária.
Essa típica família classe média é abalada com a chegada de Cláudia (Carolina Ferraz), uma linda jornalista de 30 anos. Ela tem um caso com Guilherme, que pede a separação e deixa mãe e filha perplexas.
"A Cláudia funciona como um anjo exterminador. Ela chega, aniquila uma situação que sobrevivia dentro de uma certa harmonia, mas que não estava propriamente viva", afirma Carolina Ferraz, 30. "Em função disso, surge uma nova vida para os quatro personagens da história."
Apesar das inevitáveis cenas de ciúme, o maniqueísmo não tem vez. "Os quatro personagens são muito genuínos nos seus desejos, nos seus movimentos na vida. Tudo que colocam em conflito é lícito de todos os lados, não existe o certo e o errado", explica Regina.
Nem o marido que trai, um prato feito para feministas roxas, é jogado à fogueira. "É porque o Guilherme abandona a mulher, é porque ele se apaixona por outra que a peça detona em todos os personagens o sentimento mais profundo do ser humano, que é a paixão, a necessidade de não ir contra, de ser fiel, de honrar seus próprios sentimentos", diz Caruso, 47.
"Honra" promove duas situações inéditas: o comediógrafo Caruso ("Trair e Coçar, É Só Começar") encara o "primeiro drama" em 25 anos de carreira. E Carolina debuta no teatro profissional, ela que só subiu ao palco na adolescência, como bailarina e atriz amadora.


Peça: Honra Autora: Joanna Murray-Smith Direção: Celso Nunes Quando: pré-estréia hoje, 21h; ter. e qua., 21h; qui., 18h e 21h. Até 16/12 Onde: teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel. 0/xx/11/258-3616) Quanto: R$ 20 (qui., 18h) e R$ 30 Patrocínio: Volkswagen e Telefônica


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