Confira os novos álbuns de rap de bandas de origem hispânica

CYPRESS HILL PAULO VIEIRA
especial para a Folha


O tema universalista do Cypress Hill nunca foi a própria "aldeia", mesmo porque Los Angeles não é exatamente Oliveira de Azeméis. Apesar da origem chicana do grupo, B-Real e patota se interessaram pouco, em sua lírica, pelos costas-molhadas e a proposição 187.
O negócio deles é falar das supostas propriedades libertárias da maconha. Neste "Los Grandes Exitos en Español", a famosa "I Wanna Get High" torna-se "Yo Quiero Fumar" e "Insane in the Brain", "Loco en el Coco".
Curiosamente, é menos a marijuana, mas a mera conversão das letras para o espanhol que representa uma subversão à ordem estabelecida.
Se historicamente são os artistas hispânicos que devem usar o inglês para estourar, o espanhol aqui pode ser uma afirmação pesada -ainda que involuntária- de identidade. Do ponto de vista mercadológico também parece ser a coisa a fazer: em 98, a música latina cresceu 25% nos EUA, o maior crescimento de um gênero naquele país.
Quanto à droga, associá-la a algum tipo de resistência é reincidir: ela ora é celebrada ("Legalize It", "Queimando Tudo"), ora atacada ("Devil Is Dope", toda a obra dos Racionais).
Já havia elementos latinos espalhados pela sonoridade do Cypress, especialmente os bongôs de Bobo. Rapear agora em espanhol mostra-se apropriado. Os vocais ásperos de B-Real cabem perfeitamente na ambiência soturna, arrastada, econômica e visivelmente velha escolha do Cypress.
Se a ligação com o grupo não é exatamente "orgânica", poderá parecer agora estranho para um fã brasileiro recitar "Se me encontras/ Em qualquer lugar/ Saca papéis/ Que eu quero fumar".

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