São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Mineiro, autor de projetos gráficos que marcaram a imprensa, se dedicou também à escultura

Morre aos 82 o artista Amilcar de Castro

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O artista plástico mineiro Amilcar de Castro morreu às 23h de anteontem em Belo Horizonte, aos 82 anos. Ele estava internado desde o último dia 6 no hospital Felício Rocho, vítima de complicações decorrentes de uma insuficiência cardíaca, conforme o boletim médico divulgado pouco tempo após sua morte.
O corpo do escultor foi velado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que tem na entrada uma obra do artista, instalada ali desde o final dos anos 80. O enterro foi marcado para as 16h, no cemitério do Bonfim, em BH.
No último dia 9, Amilcar de Castro foi submetido a uma angioplastia -procedimento para desobstruir artérias-, mas seu quadro clínico só piorou.
Segundo relatórios médicos, o artista apresentava um quadro de infecção generalizada e respirava por meio de aparelhos. Fazia hemodiálise para contornar insuficiência renal.

Artista gráfico
O artista mineiro estava planejando duas exposições, uma em Niterói (RJ) e outra em Belo Horizonte (MG). "Ele estava em pleno processo de produção. O Amilcar não parava nunca", afirmou Allen Roscoe da Cunha, 51, amigo e executor das obras escultóricas do artista plástico.
A produção recente de Amilcar foi marcada pelas esculturas, mas o artista nunca se desligou de sua formação gráfica.
Amilcar foi encarregado do projeto gráfico do caderno "Suplemento Dominical", do "Jornal do Brasil ", e, entre os anos de 1957 e 59, sob a coordenação do jornalista Janio de Freitas, foi um dos responsáveis pela reformulação gráfica do jornal, que influenciaria diversas outras publicações daí em diante. Em maio de 1999, fez o projeto gráfico do Jornal de Resenhas, da Folha, e passou a criar os desenhos que ilustravam as capas do caderno.
"Quanto a seu trabalho nas artes plásticas, é claro que ele pertence à história brasileira, mas há o notável trabalho gráfico realizado na segunda metade dos anos 50 na revolução comandada pelo poeta Mário Faustino, no "Jornal do Brasil". A diagramação é histórica. Uma coisa notável com o uso do espaço em branco", afirmou o poeta Décio Pignatari. "A reforma dividiu o jornalismo em antes e depois, toda a imprensa seguiu aquilo", afirma o jornalista Reynaldo Jardim.

Obras públicas
Em São Paulo, algumas de suas obras podem ser vistas na Pinacoteca do Estado, na praça da Sé e no jardim das esculturas do MAM/ SP. Amilcar realizou uma grande mostra, em agosto, no Rio de Janeiro, e outra em dezembro de 2001 na Pinacoteca.
Um grave problema vinha atormentando a capacidade de Amilcar na pintura. O artista sofria de degeneração das retinas, doença que gradativamente prejudicava sua acuidade visual.
"Ele pintava mais com o coração que com os olhos", afirmou Yana Coelho, coordenadora de pesquisa do livro "Amilcar de Castro", que reúne fotos das principais obras do escultor.
Primogênito de uma família de sete filhos, mineiro de Paraisópolis, Amilcar Augusto Pereira de Castro foi influenciado pelo pai, um desembargador, a seguir carreira na área de Direito.
Tornou-se bacharel em 1945, pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mas, durante o curso, sua atenção sempre esteve voltada para a arte. Enforcava aulas para ter lições de desenho com Alberto da Veiga Guignard (1896-1962).
Em nota divulgada na manhã de ontem, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), decretou luto oficial de três dias no Estado. "Minas sente de modo profundo a perda de um ícone que emblematizou o Estado na mineralidade da escultura de ferro e no recorrente triângulo da liberdade", disse o governador. "Minas e o Brasil se engrandeceram, em perspectiva internacional, com a repercussão intensa de sua obra", afirmou.


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