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ARTES PLÁSTICAS
Mineiro, autor de projetos gráficos que marcaram a imprensa, se dedicou também à escultura
Morre aos 82 o artista Amilcar de Castro
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O artista plástico mineiro Amilcar de Castro morreu às 23h de
anteontem em Belo Horizonte,
aos 82 anos. Ele estava internado
desde o último dia 6 no hospital
Felício Rocho, vítima de complicações decorrentes de uma insuficiência cardíaca, conforme o boletim médico divulgado pouco
tempo após sua morte.
O corpo do escultor foi velado
na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que tem na entrada
uma obra do artista, instalada ali
desde o final dos anos 80. O enterro foi marcado para as 16h, no cemitério do Bonfim, em BH.
No último dia 9, Amilcar de
Castro foi submetido a uma angioplastia -procedimento para
desobstruir artérias-, mas seu
quadro clínico só piorou.
Segundo relatórios médicos, o
artista apresentava um quadro de
infecção generalizada e respirava
por meio de aparelhos. Fazia hemodiálise para contornar insuficiência renal.
Artista gráfico
O artista mineiro estava planejando duas exposições, uma em
Niterói (RJ) e outra em Belo Horizonte (MG). "Ele estava em pleno
processo de produção. O Amilcar
não parava nunca", afirmou Allen
Roscoe da Cunha, 51, amigo e executor das obras escultóricas do artista plástico.
A produção recente de Amilcar
foi marcada pelas esculturas, mas
o artista nunca se desligou de sua
formação gráfica.
Amilcar foi encarregado do
projeto gráfico do caderno "Suplemento Dominical", do "Jornal
do Brasil ", e, entre os anos de
1957 e 59, sob a coordenação do
jornalista Janio de Freitas, foi um
dos responsáveis pela reformulação gráfica do jornal, que influenciaria diversas outras publicações
daí em diante. Em maio de 1999,
fez o projeto gráfico do Jornal de
Resenhas, da Folha, e passou a
criar os desenhos que ilustravam
as capas do caderno.
"Quanto a seu trabalho nas artes plásticas, é claro que ele pertence à história brasileira, mas há
o notável trabalho gráfico realizado na segunda metade dos anos
50 na revolução comandada pelo
poeta Mário Faustino, no "Jornal
do Brasil". A diagramação é histórica. Uma coisa notável com o uso
do espaço em branco", afirmou o
poeta Décio Pignatari. "A reforma
dividiu o jornalismo em antes e
depois, toda a imprensa seguiu
aquilo", afirma o jornalista Reynaldo Jardim.
Obras públicas
Em São Paulo, algumas de suas
obras podem ser vistas na Pinacoteca do Estado, na praça da Sé e no
jardim das esculturas do MAM/
SP. Amilcar realizou uma grande
mostra, em agosto, no Rio de Janeiro, e outra em dezembro de
2001 na Pinacoteca.
Um grave problema vinha atormentando a capacidade de Amilcar na pintura. O artista sofria de
degeneração das retinas, doença
que gradativamente prejudicava
sua acuidade visual.
"Ele pintava mais com o coração que com os olhos", afirmou
Yana Coelho, coordenadora de
pesquisa do livro "Amilcar de
Castro", que reúne fotos das principais obras do escultor.
Primogênito de uma família de
sete filhos, mineiro de Paraisópolis, Amilcar Augusto Pereira de
Castro foi influenciado pelo pai,
um desembargador, a seguir carreira na área de Direito.
Tornou-se bacharel em 1945,
pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mas, durante o curso, sua atenção sempre esteve voltada para a arte. Enforcava
aulas para ter lições de desenho
com Alberto da Veiga Guignard
(1896-1962).
Em nota divulgada na manhã de
ontem, o governador de Minas
Gerais, Itamar Franco (sem partido), decretou luto oficial de três
dias no Estado. "Minas sente de
modo profundo a perda de um
ícone que emblematizou o Estado
na mineralidade da escultura de
ferro e no recorrente triângulo da
liberdade", disse o governador.
"Minas e o Brasil se engrandeceram, em perspectiva internacional, com a repercussão intensa de
sua obra", afirmou.
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