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Crítica/"Viagem a Darjeeling"
Filme convida a uma viagem excêntrica e pessoal
Wes Anderson filma três irmãos em busca de redenção em seu novo longa
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Aparentemente convencionais, os filmes de
Wes Anderson são
marcados por uma fina estranheza. Não se trata de um desejo exibicionista de ser diferente, mas de um apelo a pequenas
excentricidades que vão contaminando o classicismo do filme
pelas bordas. Detalhes que se
fazem ver na dramaturgia, no
tom de interpretação dos atores e mesmo nos cenários e figurinos, que contribuem para
construir um universo de regras muito próprias.
"Viagem a Darjeeling" não é
melhor nem pior que os outros
três filmes desse diretor que
despontou em 1998 com "Três
É Demais". Os trabalhos de Anderson são raros exemplos de
uma sólida expressão pessoal,
em que virtudes e vícios contam pontos a favor. Os vícios fazem parte de sua singularidade.
Questões de paternidade, desajuste e a necessidade de
transformação espiritual reaparecem neste novo longa-metragem, que se apresenta como
uma viagem de possibilidades
redentoras empreendida por
três irmãos (Owen Wilson,
Adrien Brody e Jason
Schwartzman), brigados desde
o funeral do pai. O cenário: uma
Índia exótica e espiritual.
Entra em cena a primeira
"excentricidade". A estrutura é
montada como uma espécie de
ação em suspenso. Esperamos
o tempo todo pelo real começo
de uma história, mas, quando
nos damos conta, o filme acabou. O formato episódico, marcado pelo fracasso de (quase)
todas as tentativas de redenção
dos personagens evita a ilusão
de uma transformação óbvia.
Identificação
Vários outros recursos ajudam Anderson a criar um jogo
constante entre a identificação
e o distanciamento. Como o
barco em "A Vida Marinha com
Steve Zissou", o trem de "Viagem a Darjeeling" é como um
palco, um cenário em movimento que permite uma série
de jogos de deslocamento da
câmera, ora acompanhando a
direção do trem, ora movimentando-se em sentido contrário.
O visual e a interpretação dos
atores são de uma estranheza
divertida, enquanto a montagem e o uso da música ajudam a
criar pontos de identificação.
"Viagem a Darjeeling" começa com o trem partindo de uma
estação, enquanto um homem
corre para alcançá-lo. Os filmes
de Anderson são um pouco assim: um convite para se embarcar em uma viagem pessoal, em
que o diretor estabelece suas
próprias regras e cria um universo muito particular. Se elas
forem aceitas pelo espectador,
tanto melhor: seus filmes se
transformam em um deleite;
caso contrário, serão apenas
uma experiência tediosa.
VIAGEM A DARJEELING
Direção: Wes Anderson
Produção: EUA, 2007
Com: Owen Wilson, Adrien Brody e
Jason Schwartzman
Quando: estréia hoje no Bristol, Espaço Unibanco, Reserva Cultural e
circuito
Avaliação: bom
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