São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Crítica/"Viagem a Darjeeling"

Filme convida a uma viagem excêntrica e pessoal

Wes Anderson filma três irmãos em busca de redenção em seu novo longa

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Aparentemente convencionais, os filmes de Wes Anderson são marcados por uma fina estranheza. Não se trata de um desejo exibicionista de ser diferente, mas de um apelo a pequenas excentricidades que vão contaminando o classicismo do filme pelas bordas. Detalhes que se fazem ver na dramaturgia, no tom de interpretação dos atores e mesmo nos cenários e figurinos, que contribuem para construir um universo de regras muito próprias.
"Viagem a Darjeeling" não é melhor nem pior que os outros três filmes desse diretor que despontou em 1998 com "Três É Demais". Os trabalhos de Anderson são raros exemplos de uma sólida expressão pessoal, em que virtudes e vícios contam pontos a favor. Os vícios fazem parte de sua singularidade.
Questões de paternidade, desajuste e a necessidade de transformação espiritual reaparecem neste novo longa-metragem, que se apresenta como uma viagem de possibilidades redentoras empreendida por três irmãos (Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman), brigados desde o funeral do pai. O cenário: uma Índia exótica e espiritual.
Entra em cena a primeira "excentricidade". A estrutura é montada como uma espécie de ação em suspenso. Esperamos o tempo todo pelo real começo de uma história, mas, quando nos damos conta, o filme acabou. O formato episódico, marcado pelo fracasso de (quase) todas as tentativas de redenção dos personagens evita a ilusão de uma transformação óbvia.

Identificação
Vários outros recursos ajudam Anderson a criar um jogo constante entre a identificação e o distanciamento. Como o barco em "A Vida Marinha com Steve Zissou", o trem de "Viagem a Darjeeling" é como um palco, um cenário em movimento que permite uma série de jogos de deslocamento da câmera, ora acompanhando a direção do trem, ora movimentando-se em sentido contrário.
O visual e a interpretação dos atores são de uma estranheza divertida, enquanto a montagem e o uso da música ajudam a criar pontos de identificação.
"Viagem a Darjeeling" começa com o trem partindo de uma estação, enquanto um homem corre para alcançá-lo. Os filmes de Anderson são um pouco assim: um convite para se embarcar em uma viagem pessoal, em que o diretor estabelece suas próprias regras e cria um universo muito particular. Se elas forem aceitas pelo espectador, tanto melhor: seus filmes se transformam em um deleite; caso contrário, serão apenas uma experiência tediosa.


VIAGEM A DARJEELING
Direção:
Wes Anderson
Produção: EUA, 2007
Com: Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman
Quando: estréia hoje no Bristol, Espaço Unibanco, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: bom


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