São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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Crítica/ DVD/ "Fatalidade"

Filme de Cukor aproxima a vida e o palco

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Famoso pela habilidade em dirigir atrizes, em "Fatalidade" é a um ator, Ronald Colman, que George Cukor dedicou o melhor dos seus esforços. Foi compensador, já que Colman ficou com o Oscar de melhor ator em 1948, enquanto Cukor ganhava o prêmio por melhor direção.
No mais, Ruth Gordon e Garson Kanin foram indicados para o Oscar de melhor roteiro por este filme que pode ser visto como uma homenagem à arte do ator. Tony (Colman) é um famoso ator teatral que sofre intensamente a cada novo papel dramático. Chegar ao personagem, integrá-lo à sua personalidade, vivê-lo inteiramente durante duas horas é um exercício doloroso. A ponto de, quando alguém lhe pergunta quem é, responder é um problema. Não é difícil depreender que as coisas tornam-se ainda mais dramáticas quando ele vai fazer o Otelo de Shakespeare.
Por um lado, mais dramáticas. Por outro, um tanto esquemáticas. Embora Gordon e Kanin evitem deter-se no ciúme de Otelo, é inevitável que se desenvolva um paralelismo que tende ao esquemático entre a peça e o filme.
Talvez aí esteja o paradoxo do filme. Como Otelo termina por matar Desdêmona, sabemos que há mulheres correndo perigo -em cena ou fora dela. E Cukor cria cenas fantásticas a partir desse pressuposto.
Exemplo mais evidente, mas não único: a cena final de "Otelo", em que Tony estrangula não só Desdêmona, como, ao mesmo tempo, Brita (Signe Hasso), sua ex-mulher -o público do teatro, e nós também, ficamos em suspense, sem saber em que nível estamos, se no da vida ou no da representação.
Por intensos que sejam esses momentos, o fato é que, até a cena de assassinato (sim, acontece um no filme), "Fatalidade" deixa a impressão de que sua maior vocação é para uma magnífica "comédia do recasamento", dessas que Garson Kanin escreveu com maestria (às vezes na companhia de Gordon) e que Cukor dirigiu com a sensibilidade que se conhece. É como se o drama existisse sobretudo para ganhar o Oscar, graças ao prestígio que a comédia não costuma ter.
Depois que o crime acontece, no entanto, o filme adquire gravidade e coloca em oposição Tony, o ator, e Bill (Edmond O'Brien), o agente de imprensa, ou, se se prefere, o gênio e o medíocre. Ou seja, é exatamente quando "Fatalidade" mostra sua face de trama policial que o aspecto filme de bastidores se manifesta plenamente: o palco e a vida se comunicam de maneira mais intensa, e a teatralidade se mostra pelo aspecto mais rico.


FATALIDADE
Direção:
George Cukor
Distribuição: Lume Filmes
Quanto: R$ 37,50 (em média)
Classificação indicativa: não informada
Avaliação: bom



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