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Crítica/ DVD/ "Fatalidade"
Filme de Cukor aproxima a vida e o palco
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Famoso pela habilidade
em dirigir atrizes, em
"Fatalidade" é a um
ator, Ronald Colman, que
George Cukor dedicou o melhor dos seus esforços. Foi
compensador, já que Colman
ficou com o Oscar de melhor
ator em 1948, enquanto Cukor
ganhava o prêmio por melhor
direção.
No mais, Ruth Gordon e Garson Kanin foram indicados para o Oscar de melhor roteiro
por este filme que pode ser visto como uma homenagem à arte do ator. Tony (Colman) é um
famoso ator teatral que sofre
intensamente a cada novo papel dramático. Chegar ao personagem, integrá-lo à sua personalidade, vivê-lo inteiramente durante duas horas é um
exercício doloroso. A ponto de,
quando alguém lhe pergunta
quem é, responder é um problema. Não é difícil depreender
que as coisas tornam-se ainda
mais dramáticas quando ele vai
fazer o Otelo de Shakespeare.
Por um lado, mais dramáticas. Por outro, um tanto esquemáticas. Embora Gordon e Kanin evitem deter-se no ciúme
de Otelo, é inevitável que se desenvolva um paralelismo que
tende ao esquemático entre a
peça e o filme.
Talvez aí esteja o paradoxo
do filme. Como Otelo termina
por matar Desdêmona, sabemos que há mulheres correndo
perigo -em cena ou fora dela. E
Cukor cria cenas fantásticas a
partir desse pressuposto.
Exemplo mais evidente, mas
não único: a cena final de "Otelo", em que Tony estrangula
não só Desdêmona, como, ao
mesmo tempo, Brita (Signe
Hasso), sua ex-mulher -o público do teatro, e nós também,
ficamos em suspense, sem saber em que nível estamos, se no
da vida ou no da representação.
Por intensos que sejam esses
momentos, o fato é que, até a
cena de assassinato (sim, acontece um no filme), "Fatalidade"
deixa a impressão de que sua
maior vocação é para uma magnífica "comédia do recasamento", dessas que Garson Kanin
escreveu com maestria (às vezes na companhia de Gordon) e
que Cukor dirigiu com a sensibilidade que se conhece. É como se o drama existisse sobretudo para ganhar o Oscar, graças ao prestígio que a comédia
não costuma ter.
Depois que o crime acontece,
no entanto, o filme adquire gravidade e coloca em oposição
Tony, o ator, e Bill (Edmond
O'Brien), o agente de imprensa,
ou, se se prefere, o gênio e o medíocre. Ou seja, é exatamente
quando "Fatalidade" mostra
sua face de trama policial que o
aspecto filme de bastidores se
manifesta plenamente: o palco
e a vida se comunicam de maneira mais intensa, e a teatralidade se mostra pelo aspecto
mais rico.
FATALIDADE
Direção: George Cukor
Distribuição: Lume Filmes
Quanto: R$ 37,50 (em média)
Classificação indicativa: não informada
Avaliação: bom
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