São Paulo, segunda, 23 de novembro de 1998

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KISS DISCO
Álbum retoma fúria adolescente de três acordes

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

"Psycho Circus" é o melhor disco do Kiss nos últimos 18 anos. Não por acaso, retoma a força que a banda tinha nos anos 70. Para isso, recorreu à formação original do grupo. O guitarrista Paul Stanley e o baixista Gene Simmons, ambos vocalistas e presentes desde a criação do Kiss, precisam da guitarra de Ace Frehley e da bateria de Peter Criss para fazer a magia musical da banda mais adorada pelos adolescentes do planeta.
O novo disco poderia ser um lançamento de 1976 ou 1977, sem causar qualquer estranheza. É rock pesado retrô, sem aceleração hardcore nem frescuras eletrônicas. Rock de guitarra em três acordes, aqueles que fizeram de "Rock and Roll All Nite", maior clássico do Kiss, a eterna cartilha do gênero.
O álbum traz o melhor do Kiss. "Psycho Circus" e "Within", que abrem o disco, podem estar repletas das vinhetinhas que o grupo sempre adorou (como o início da clássica "Detroit Rock City"), mas convencem mesmo pelas guitarras rápidas e pesadas.
Embora seja um ícone do heavy metal, o Kiss rende mesmo quando não tem vergonha de assumir seu lado "bubble gum". Não é à toa que o quarteto é personagem de gibis e modelos para bonecos infantis e outros brinquedos.
Em "I Pledge Allegiance to the State of Rock & Roll" e "Into the Void", duas faixas que só podiam estar em sequência, a mistura de rock pesado com pop bobinho faz o ouvinte de qualquer idade ter novamente 13 anos. Parece trilha de desenho animado. Ou, para quem tem mais de 30, do "Banana Split". "Into the Void" é a única faixa do CD com vocal de Ace Frehley.
"We Are One" é uma baladona cantada por Simmons -coisa rara, já que o homem da língua gigante prefere cantar as pauleiras e deixar os momentos românticos para Paul Stanley. A música lembraria uma daquelas baladas fraquinhas do Van Halen, não fosse um arranjo vocal fantástico na parte final.
"You Wanted the Best" traz a urgência rock and roll, com os quatro fazendo um rodízio de vocais. Música básica e alucinada, como o Kiss faz há 25 anos -e faz melhor do que qualquer um.
"Raise Your Glasses" é o momento mais fraco do álbum. Rock redondinho, tipo anúncio de cigarros Hollywood, só deve ficar na memória dos fãs mais radicais.
"I Finally Found My Way", cantada por Peter Criss, tenta, sem sucesso, repetir a fórmula de "Beth", um dos maiores êxitos da história da banda. Mas "Beth" não virou um clássico por causa da voz de Criss. É uma pérola romântica, com um andamento de bateria singular. Já "I Finally Found My Way" é só uma balada bem agradável, mas dispensável.
Outra boa canção é "Dreamin'", rock pesado, mas lento. Parceria de Paul Stanley com Bruce Kullick, ex-guitarrista da banda, tem aquele refrão épico que Stanley gosta, combinando com seu jeito pomposo de cantar. Mas é Kiss no melhor estilo. Deve levantar a moçada nos estádios.
O álbum termina com "Journey of 1.000 Years", uma pequena peça cheia de variações rítmicas e com a melhor letra que Gene Simmons escreveu nos anos 90 ("Você já dormiu sem sonhar?/Você já tocou sem sentir?").
Existe um momento na vida de todo garoto roqueiro, por mais breve que seja, em que o Kiss é a coisa mais importante do mundo. "Psycho Circus" é só mais uma prova disso.
²
Disco: Psycho Circus Artista: Kiss Lançamento: PolyGram Quanto: R$ 18, em média


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