São Paulo, segunda, 23 de novembro de 1998

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TELEVISÃO
"Pérola Negra' é a mais simétrica em sua chatice

TELMO MARTINO
Colunista da Folha ² "Pérola Negra"? Será que, assim como a Xica da Silva, a Jovelina pagodeira já é personagem de novela da televisão? Ritmada, mas tola esperança. Essa "Pérola negra", que serve de "lever de rideau" para o "Programa do Ratinho" e tão perseguido do SBT, é apenas uma daquelas novelas titubeantes em seu melodrama que o canal do Silvio Santos tanto aprecia. Vê-se um capítulo para nunca mais voltar.
O autor é um certo Enrique Torres. O "H" que está faltando já explica muito mais da metade do que será visto. Ele e uma bailarina que, como um cisne tresloucado, ilustra a ficha técnica do dramalhão. Ana Botafogo? Nunca. Talvez Aninha Peruíbe. Dos nomes listados, poucos, como Patrícia de Sabrit, Angela Dip e Tadeu Menezes, evocam algum passado. Mas é a tal de Maximina Figueiredo que mereceu a honra de um convite especial. Só o fato de ter aceito o convite mostra que ela não é especial.
Em quase todas as cenas da novela, apenas duas pessoas num diálogo. O começo do capítulo foi, portanto, enganador.
Tendo como cenário um restaurante de várias mesas ocupadas, onde um senhor louco para ser cosmopolita apesar do traje lembrava para um rapaz louro sua presença, como convidado, no casamento da princesa Anne. Entre um "trés chic" e outro "trés mélancolique" a cena se esvaiu. Num capítulo anterior, aconteceu um acidente com um carro. A sobrevivente é uma moça chamada de Eva e logo depois de Pérola. Deve ser um grande e bobo mistério. Só se sabe que ela tem um colar com uma única pérola negra. A trama ganha densidade? Nem um pouco.
Uma mulher loura de boas maneiras tenta suavizar o mau humor de uma velha cega e chata. Uma mulher reclama que o marido não pára em casa. Perfuma-se e sai todas as noites para se encontrar, por exemplo, com um banqueiro japonês. "Todo perfumado?" "Melhor do que cheirando à gordura." Esse Enrique sem H é terrível.
Mal sabe ele que, vingativa, a mulher gordurosa resolve visitar o quarto de um rapaz que sempre diz que ela ainda tem encantos. Essa novela parece o bolero da Elis Regina. É dois pra lá, dois pra cá. Só que com dois band-aids em cada calcanhar. É a novela mais simétrica do mundo em sua chatice.
Dizem que ficou muito tempo guardada numa gaveta do SBT. Mas o seu mofo já vem de época mais antiga. O rapaz pede dinheiro ao pai. Ele não dá. Vai passar uma conversa na empregada. Ela também não dá. A Eva que é Pérola sai do hospital e pede afeto à cega e má. É outra que não dá. Em novela que ninguém dá, não dá.



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