São Paulo, Quinta-feira, 23 de Dezembro de 1999


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PERSONALIDADE
Filósofo francês morreu dia 10
Gérard Lebrun é enterrado em Paris


FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris

Desde as 11h30 de ontem, o corpo do filósofo francês Gérard Lebrun repousa na 24ª divisão da avenida de Tunnel, no cemitério de Montmartre, em Paris. Cerca de 80 pessoas, a maioria professores e universitários, além da família, estiveram presentes ao adeus ao filósofo, um dos intelectuais que mais marcaram a vida acadêmica brasileira neste século.
O filósofo foi encontrado morto pela polícia, em seu apartamento parisiense, onde morava sozinho, no dia último dia 10, após um aviso de seus colegas professores, que estranharam a ausência de Lebrun numa banca de defesa de tese, na qual seria o arguidor.
Entre 1960 e 1996, Lebrun dividiu-se entre França e Brasil, sobretudo São Paulo, onde era professor no departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo), e a França.
Costumava lecionar um semestre na USP e outro em Aix-en-Provence, nos arredores de Paris. Seu colega na escola francesa, Alonso Tordesillas, fez um discurso de despedida a Lebrun.
Para Tordesillas, entre os muitos méritos de Lebrun é de se destacar a "sua maneira crítica de ler os textos da filosofia e, sobretudo, sua competência como professor". "Lebrun era mais do que um professor, era um mestre", afirmou Tordesillas.

Aneurisma
Ele informou que o Instituto Médico Legal ainda não divulgou a causa da morte de Lebrun, mas acredita que possa ter sido algum problema cerebral, "porque ele estava fazendo acompanhamento médico desde que sofreu um aneurisma, há quatro anos".
Entre os acadêmicos presentes ao enterro, estavam o especialista em Aristóteles, Pierre Aubanque, Paule Mounique Vernes e a diretora do departamento de filosofia da USP, Maria das Graças e Souza.
"Lebrun formou várias gerações de professores na USP, com sua maneira rigorosa de fazer a história da filosofia. Rigorosa, mas ao mesmo tempo muito viva; ele nos mostrou essa sua vivacidade no lidar com a tradição filosófica", comentou Souza.

Mestre
Mas foi Francis Wolff, atualmente professor de filosofia na Universidade de Paris 10, e "substituto" - "tarefa impossível", disse- de Lebrun nas suas aulas na USP, onde lecionou nos anos 80, quem precisou a importância do filósofo para o Brasil.
"Ele não foi apenas o melhor professor de filosofia, foi um mestre de três gerações de intelectuais brasileiros, de todas as áreas", afirmou Wolff.
Para ele, Lebrun desempenhou no Brasil o papel de um intelectual -um dos maiores- no sentido francês da palavra, como Sartre ou Foucault.
"Lebrun era a passagem entre o meio acadêmico e a sociedade, formava no sentido acadêmico, mas também no sentido cultural, político. E fez isso sem jamais abrir mão do rigor intelectual, sua marca, ou com a intenção de vulgarizar ou popularizar a filosofia", completou Wolff.
Ele afirma ainda que, na França, Lebrun é respeitado, nos meios acadêmicos, como um dos maiores professores e historiadores da filosofia, em particular a filosofia alemã, "mas todos sabiam que seu coração era essencialmente brasileiro".


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