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PERSONALIDADE
Filósofo francês morreu dia 10
Gérard Lebrun é enterrado em Paris
FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
Desde as 11h30 de ontem, o corpo do filósofo francês Gérard Lebrun repousa na 24ª divisão da
avenida de Tunnel, no cemitério
de Montmartre, em Paris. Cerca
de 80 pessoas, a maioria professores e universitários, além da família, estiveram presentes ao adeus
ao filósofo, um dos intelectuais
que mais marcaram a vida acadêmica brasileira neste século.
O filósofo foi encontrado morto
pela polícia, em seu apartamento
parisiense, onde morava sozinho,
no dia último dia 10, após um aviso de seus colegas professores,
que estranharam a ausência de
Lebrun numa banca de defesa de
tese, na qual seria o arguidor.
Entre 1960 e 1996, Lebrun dividiu-se entre França e Brasil, sobretudo São Paulo, onde era professor no departamento de filosofia da USP (Universidade de São
Paulo), e a França.
Costumava lecionar um semestre na USP e outro em Aix-en-Provence, nos arredores de Paris.
Seu colega na escola francesa,
Alonso Tordesillas, fez um discurso de despedida a Lebrun.
Para Tordesillas, entre os muitos méritos de Lebrun é de se destacar a "sua maneira crítica de ler
os textos da filosofia e, sobretudo,
sua competência como professor". "Lebrun era mais do que um
professor, era um mestre", afirmou Tordesillas.
Aneurisma
Ele informou que o Instituto
Médico Legal ainda não divulgou
a causa da morte de Lebrun, mas
acredita que possa ter sido algum
problema cerebral, "porque ele
estava fazendo acompanhamento
médico desde que sofreu um
aneurisma, há quatro anos".
Entre os acadêmicos presentes
ao enterro, estavam o especialista
em Aristóteles, Pierre Aubanque,
Paule Mounique Vernes e a diretora do departamento de filosofia
da USP, Maria das Graças e Souza.
"Lebrun formou várias gerações de professores na USP, com
sua maneira rigorosa de fazer a
história da filosofia. Rigorosa,
mas ao mesmo tempo muito viva;
ele nos mostrou essa sua vivacidade no lidar com a tradição filosófica", comentou Souza.
Mestre
Mas foi Francis Wolff, atualmente professor de filosofia na
Universidade de Paris 10, e "substituto" - "tarefa impossível",
disse- de Lebrun nas suas aulas
na USP, onde lecionou nos anos
80, quem precisou a importância
do filósofo para o Brasil.
"Ele não foi apenas o melhor
professor de filosofia, foi um mestre de três gerações de intelectuais
brasileiros, de todas as áreas",
afirmou Wolff.
Para ele, Lebrun desempenhou
no Brasil o papel de um intelectual -um dos maiores- no sentido francês da palavra, como Sartre ou Foucault.
"Lebrun era a passagem entre o
meio acadêmico e a sociedade,
formava no sentido acadêmico,
mas também no sentido cultural,
político. E fez isso sem jamais
abrir mão do rigor intelectual, sua
marca, ou com a intenção de vulgarizar ou popularizar a filosofia",
completou Wolff.
Ele afirma ainda que, na França,
Lebrun é respeitado, nos meios
acadêmicos, como um dos maiores professores e historiadores da
filosofia, em particular a filosofia
alemã, "mas todos sabiam que
seu coração era essencialmente
brasileiro".
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