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"Brasil não conhece Brasil", diz "vaga-luma"
DO ENVIADO A CASTANHAL (PA)
Muitos anos depois a estudante Vanuza Filgueira da
Silva se lembraria do dia em
que conheceu "Gilgamesh".
"Adorei", diz a menina de 12
anos, livro ainda no colo.
O encontro da paraense
com essa epopéia suméria
de 4.000 anos atrás foi em
um galpão de teto de zinco e
chão de terra batida, a escola
que serve as 157 famílias do
assentamento João Batista
do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra.
Osiane Brasílio, 4, se encantou mesmo foi com uma
história mais brasileira.
"Tio, lê para mim a Mula
sem Cabeça?" Como não? E
lá vai a quinta leitura do
mesmo livro para a menininha de traços indígenas.
Histórias dessas se contam
aos montes nos pousos da
Expedição Vaga-Lume, que
levaram Gilgamesh, a Mula
sem Cabeça e vasto elenco
para este assentamento do
MST próximo à cidade de
Castanhal (PA) e pela Amazônia afora.
"É incrível como as crianças piram completamente
com os livros", conta a "vaga-luma" Laís Fleury.
"Piram" tanto que passam
a levar as histórias para os
pais. "Nesta região hoje existem muitas famílias com filhos alfabetizados e pais
analfabetos. Quando eles
têm um livro por perto, muitas vezes correm para contar
para os pais", diz Regina,
uma das educadoras que
participaram do curso de
mediadora de leitura no assentamento.
"Essas coisas me fazem
lembrar a velha frase da música de Elis Regina", fala a
"vaga-luma" Sylvia Guimarães. "O Brasil não conhece o
Brasil."
(CEM)
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