São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

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"Brasil não conhece Brasil", diz "vaga-luma"

DO ENVIADO A CASTANHAL (PA)

Muitos anos depois a estudante Vanuza Filgueira da Silva se lembraria do dia em que conheceu "Gilgamesh". "Adorei", diz a menina de 12 anos, livro ainda no colo.
O encontro da paraense com essa epopéia suméria de 4.000 anos atrás foi em um galpão de teto de zinco e chão de terra batida, a escola que serve as 157 famílias do assentamento João Batista do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra.
Osiane Brasílio, 4, se encantou mesmo foi com uma história mais brasileira. "Tio, lê para mim a Mula sem Cabeça?" Como não? E lá vai a quinta leitura do mesmo livro para a menininha de traços indígenas.
Histórias dessas se contam aos montes nos pousos da Expedição Vaga-Lume, que levaram Gilgamesh, a Mula sem Cabeça e vasto elenco para este assentamento do MST próximo à cidade de Castanhal (PA) e pela Amazônia afora.
"É incrível como as crianças piram completamente com os livros", conta a "vaga-luma" Laís Fleury.
"Piram" tanto que passam a levar as histórias para os pais. "Nesta região hoje existem muitas famílias com filhos alfabetizados e pais analfabetos. Quando eles têm um livro por perto, muitas vezes correm para contar para os pais", diz Regina, uma das educadoras que participaram do curso de mediadora de leitura no assentamento.
"Essas coisas me fazem lembrar a velha frase da música de Elis Regina", fala a "vaga-luma" Sylvia Guimarães. "O Brasil não conhece o Brasil." (CEM)


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