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Para Herzog, "fazer um filme na Antártida é fácil"
Diretor alemão roda documentário no continente e diz que é errônea sua imagem de local selvagem e hostil ao homem
"Temos café, salão de barbeiro, estação de TV, caixa automático. De que mais uma pessoa precisa?"
DEBORAH ZAKARENKO
DA REUTERS
Werner Herzog, que dirigiu
filmes sobre ursos selvagens no
Alasca ("O Homem Urso") e sobre um piloto de caça que teve
seu avião abatido sobre o Laos
("Rescue Dawn"), acaba de
concluir uma filmagem na Antártida e gostaria de deixar uma
coisa bem clara: foi fácil.
Herzog, 64, filmou no monte
Erebus, que abriga um vulcão
ativo, durante a primavera antártida. Embora reconheça que
estava frio e que sua equipe teve de passar dois dias se aclimatando antes de começar os trabalhos no pico de 4.118 metros
de altitude -que parece ser mil
metros mais alto devido à baixa
pressão atmosférica-, ele elogiou as facilidades da locação.
"Foi fácil. A Antártida é fácil",
disse, enquanto esperava sobre
o gelo para embarcar em um jato militar, ao final da filmagem.
O premiado cineasta, roteirista, ator e diretor de ópera
alemão é mais conhecido por
filmes de arte, como "Fitzcarraldo" e "Nosferatu".
Herzog diz que as pessoas
têm impressão errada sobre a
severidade das condições na
Antártida, com base na era heróica de exploradores polares.
"É uma imagem perpetuada
daqueles dias em 1903, 1910 ou
1911, quando Scott, Amundsen
e Shackleton estiveram aqui."
Ele afirma que "agora, temos
um café, um salão de barbeiro,
uma estação de TV. Há até um
caixa automático. De que mais
uma pessoa precisa?". Essas
são as facilidades disponíveis
na estação McMurdo, a maior
instalação científica norte-americana no continente, que
Herzog usou como base para a
filmagem de seu documentário.
"Bom sistema de transporte,
uma cama confortável, um chuveiro", diz o cineasta, enumerando as condições que encontrou na Antártida. "É fácil, e
ninguém deveria tentar perpetuar o aspecto de que se trata de
um continente selvagem e furiosamente hostil ao homem."
Ele se interessou pela possibilidade de filmar na Antártida
depois de assistir a algumas
imagens submarinas feitas perto da estação McMurdo pelo
mergulhador e guitarrista experimental Henry Kaiser.
O diretor, que vive em Los
Angeles, demonstrou entusiasmo quando Kaiser propôs que
ele filmasse no continente, mas
tinha certas dúvidas.
"Um dia, casualmente, ele
me perguntou se eu não gostaria de vir à Antártida. E eu disse
que sim, mas não tenho serventia aqui: não sou piloto, não sou
cientista, não sei cozinhar, não
sou mecânico. Sou desnecessário e um tanto inútil", disse.
Herzog viajou como parte do
programa da Fundação Nacional de Ciência norte-americana
para artistas e escritores.
A Antártida há muito é um
tema que cativa cineastas, começando ainda em 1913, quando um filme australiano sobre a vida na região foi lançado, e
continuando até os pingüins do
sucesso de animação desta
temporada, "Happy Feet".
Muitas vezes, o tema desses
trabalhos é a insensatez dos sonhos humanos de conquistar
essa terra inóspita. O foco de
Herzog era mais as pessoas que
trabalham na Antártida hoje, e
o clima agradável que ele encontrou não o agradou.
"Parecia uma série de cartões
postais idiotas: céu azul todo
dia", disse. "Meu sentimento
gira basicamente em torno das
pessoas que vêm parar aqui, os
cientistas, os organizadores
que trabalham por toda a comunidade, o pessoal da logística, o pessoal que lava a louça", disse. "Não é tão fácil encontrar
bons homens e mulheres como
estes em qualquer parte."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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