São Paulo, Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000


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INTERNET
Pesquisadora da Universidade de Stanford compila casos mais bizarros no www.darwinawards.com
Site dá prêmio a mortes estúpidas

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha, em San Francisco

É pior que morrer. É morrer passando ridículo.
O site www.darwinawards.com, sucesso no circuito alternativo americano, celebra as mais bizarras passagens desta para melhor, provocadas unicamente pela estupidez humana. São casos do mundo todo, rigorosamente compilados e verificados por uma cientista da prestigiosa Universidade de Stanford (Califórnia, Costa Oeste dos EUA).
Entre as histórias, está a do pescador ucraniano que decidiu eletrocutar os peixes, puxando cabos de alta tensão para dentro de um rio. Funcionou, mas ele se esqueceu de retirar os fios antes de mergulhar em busca do resultado da pescaria...
Ou a do polonês Krystof Azninski, que depois de beber com os amigos resolveu provar que era o maior machão da Europa. Um dos colegas beberrões pegou uma serra elétrica e cortou um pedaço do pé, para mostrar coragem. Sem querer ficar atrás, Azninsky tomou a serra, gritando: "Ah, é? Então veja isso". E arrancou a própria cabeça.
Anualmente, as mortes mais grotescas são "premiadas", e por isso o site traz no nome a palavra "awards" ("prêmios", em inglês). A alusão ao pai da teoria da evolução das espécies, Charles Darwin (1809-1882), é explicada pela misteriosa pesquisadora de Stanford: "O prêmio honra indivíduos que protegem nossa herança genética ao sacrificarem, de modo extremo, a própria vida. Praticando a auto-eliminação de maneira extremamente idiota, melhoram as chances de nossa espécie sobreviver a longo prazo".
A cientista se mantém anônima. Sobre ela, sabe-se apenas que formou-se em biologia molecular em outra universidade da região, a da Califórnia, em Berkeley, antes de mudar para Stanford. No site, chama a si própria de "Darwin". Não se deixa fotografar e responde a pouquíssimos pedidos de entrevistas.
Recentemente, disse sim para a revista on line "Salon" (www.salon.com), seguidamente premiada como a melhor da Internet.
Na entrevista à "Salon", aplicou seus conhecimentos biológicos para explicar por que algumas pessoas perdem a vida de maneira insana, mas outras pensam um pouco antes de fazer bobagem.
"Leva cerca de 20 milissegundos para uma sinapse (conexão entre duas células nervosas) disparar, e a atividade de milhões de neurônios cria um pensamento. No curso de uns poucos segundos, seu cérebro pode tomar milhares de decisões. Mas pode ser que, para algumas pessoas, a transmissão sináptica leve mais tempo para passar do cérebro para a medula espinhal e daí pra os músculos, provocando uma ação. E, se isso demora mais, então a pessoa tem mais tempo para imaginar possíveis desvantagens e interromper a ação antes que os músculos se movam de fato. Fazemos muitas coisas por impulso, sem pensar."
A preocupação com método, na medida do possível "científico", é constante nos "Darwin Awards". Por exemplo: só ganham lugar nas compilações anuais (a parte "séria" do site) os casos que puderam ser investigados e atribuídos a uma fonte específica, como um jornal ou revista.
Casos do tipo "ouvi dizer", ou que se assemelham a lendas urbanas, são registrados numa seção separada, muitas vezes seguidos de comentários enfatizando a baixa credibilidade dos relatos.
Para "Darwin", várias das mortes descritas no site mostram que existe uma fronteira tênue entre a criatividade e o mais absoluto desleixo. "Se a pessoa é negligente ao avaliar as consequências mortais do risco que está correndo, então só a sorte pode salvá-la de um desfecho vergonhoso."
Como exemplo, cita o pioneiro da pesquisa com eletricidade, Benjamin Franklin (1706-1790), que provou a natureza elétrica dos relâmpagos usando uma chave metálica presa a uma pipa. "A sorte salvou um inovador de um desastre", avalia "Darwin".
É possível acessar, pela Internet, os ganhadores dos "Darwin Awards" desde 1992, além de vários casos "não-premiados", mas nem por isso menos engraçados.
Os vencedores de 1999 foram palestinos confusos pelo horário de verão, que já tinha acabado em Israel (onde eles iriam cometer um atentado), mas ainda vigorava nos territórios sob administração da OLP. Resultado: duas bombas coordenadas explodiram uma hora antes do previsto, matando três terroristas palestinos.
Para quem só enxerga morbidez nas compilações dos "Darwin Awards", o site traz a seguinte frase: "Não tenha vergonha de rir da desgraça dos outros. Só o cérebro humano consegue perceber o humor, o que nos diferencia de outros seres. Piadas sempre envolvem o choque surpreendente entre a realidade e a expectativa".


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