|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA/LANÇAMENTOS
"MALABARISTAS..."
CD tem 11 inéditas e regravação de "Andar com Fé", de Gil
Bosco comemora 30 anos de carreira sem saudades
DA REPORTAGEM LOCAL
O mote de comemorar 30 anos
de carreira em CD não passa de
um mote, para o mineiro João
Bosco, 56. O novo "Malabaristas
do Sinal Fechado" troca qualquer
saudosismo ou revisionismo por
11 canções inéditas e, de novo, a
parceria com seu filho poeta e letrista Francisco Bosco, 26.
"A experiência desses 30 anos
está contida no disco, mas só como experiência. O que eu queria
mesmo era me sentir em forma,
trabalhando, produzindo, olhando para o novo", afirma o autor.
Não é fácil, ele admite: "Só com
malabarismo se consegue ao mesmo tempo conciliar marca, estilo
e singularidade e obter certo reconhecimento dentro do mercado
atual. É preciso ter algo a mais, ter
fé. Não é à toa que regravei "Andar
com Fé" (82), de Gilberto Gil".
Essa necessidade de conciliação
ele parece fotografar na já duradoura associação com seu filho. É
assim que o moço de 26 anos se
torna ventríloquo do senhor de 56
e constrói a letra que mais cita os
30 anos de trajetória do pai, "Não
Me Arrependo de Nada".
Em caminho oposto, "Cinema
Cidade" (com participação meio
hip hop do jovem Seu Jorge) coloca na boca experiente de João incertezas de um jovem: "Posso tentar a sorte/ em qualquer outro lugar/ se aqui não melhorar".
Francisco confirma o pendor
autobiográfico dos versos: "Isso é
biográfico, é a minha situação.
Tenho atividades acadêmicas em
teoria literária, escrevo poesia e
faço letras de música. Somadas as
três, não tenho garantia de sobrevivência no Brasil".
E o filho se torna confessional
pelo pai: "Mas esses versos também refletem a situação dele, em
certo aspecto. A crise geral da indústria fonográfica atinge muito
os artistas da geração dele. Ele
ocupa um lugar peculiar, não vende milhões como Djavan nem faz
um trabalho comercial que pudesse ampliar mais seu espaço".
Francisco conclui: "O que conquistou foi com muito esforço, e
cada vez parece que é necessário
fazer mais esforço para manter.
Aqueles versos poderiam servir
para ele também".
Sobre a releitura do agora ministro da Cultura, João ri: "Gravei
em agosto, não sabia que ele iria
ser ministro. Mas acho superlegal,
Gil é um viajante à moda de Luiz
Gonzaga, mas pelo mundo afora.
Tem condições de resolver várias
de nossas questões culturais".
De volta às dissonâncias da parceria de gerações distintas, Francisco é quem admite, de novo:
"Sem dúvida eu não teria tido a
oportunidade de trabalhar com
ele se não fosse seu filho".
Mas João defende a dissonância: "Às vezes sinto que estou mais
aprendendo com Chico do que
ensinando coisas a ele. Sinto mais
ele me trazendo vontade, prazer.
Quem recebe sou eu".
Vem, então, a comparação com
a parceria clássica entre Bosco e o
letrista Aldir Blanc, há anos interrompida. "Nós temos a mesma
idade, começamos juntos, ambos
universitários, vendo o mundo da
mesma maneira. Hoje tudo é diferente, o modo de ouvir música,
absorver estilos e histórias", diz.
Mesmo assim o reencontro
Bosco-Blanc já se deu, no final de
2001. Cantaram juntos o clássico
da dupla "O Bêbado e a Equilibrista" (79) para um songbook
ainda não lançado de João. "Temos nos falado muito desde então, mas por enquanto não aconteceu nenhuma nova parceria",
encerra o assunto, conciso.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Texto Anterior: 3º Fórum Social Mundial - Audiovisual: Evento questiona política de concessão e qualidade da TV Próximo Texto: Crítica: Forte e frágil, parceria de pai e filho norteia CD Índice
|