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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"MALABARISTAS..."

CD tem 11 inéditas e regravação de "Andar com Fé", de Gil

Bosco comemora 30 anos de carreira sem saudades

DA REPORTAGEM LOCAL

O mote de comemorar 30 anos de carreira em CD não passa de um mote, para o mineiro João Bosco, 56. O novo "Malabaristas do Sinal Fechado" troca qualquer saudosismo ou revisionismo por 11 canções inéditas e, de novo, a parceria com seu filho poeta e letrista Francisco Bosco, 26.
"A experiência desses 30 anos está contida no disco, mas só como experiência. O que eu queria mesmo era me sentir em forma, trabalhando, produzindo, olhando para o novo", afirma o autor.
Não é fácil, ele admite: "Só com malabarismo se consegue ao mesmo tempo conciliar marca, estilo e singularidade e obter certo reconhecimento dentro do mercado atual. É preciso ter algo a mais, ter fé. Não é à toa que regravei "Andar com Fé" (82), de Gilberto Gil".
Essa necessidade de conciliação ele parece fotografar na já duradoura associação com seu filho. É assim que o moço de 26 anos se torna ventríloquo do senhor de 56 e constrói a letra que mais cita os 30 anos de trajetória do pai, "Não Me Arrependo de Nada".
Em caminho oposto, "Cinema Cidade" (com participação meio hip hop do jovem Seu Jorge) coloca na boca experiente de João incertezas de um jovem: "Posso tentar a sorte/ em qualquer outro lugar/ se aqui não melhorar".
Francisco confirma o pendor autobiográfico dos versos: "Isso é biográfico, é a minha situação. Tenho atividades acadêmicas em teoria literária, escrevo poesia e faço letras de música. Somadas as três, não tenho garantia de sobrevivência no Brasil".
E o filho se torna confessional pelo pai: "Mas esses versos também refletem a situação dele, em certo aspecto. A crise geral da indústria fonográfica atinge muito os artistas da geração dele. Ele ocupa um lugar peculiar, não vende milhões como Djavan nem faz um trabalho comercial que pudesse ampliar mais seu espaço".
Francisco conclui: "O que conquistou foi com muito esforço, e cada vez parece que é necessário fazer mais esforço para manter. Aqueles versos poderiam servir para ele também".
Sobre a releitura do agora ministro da Cultura, João ri: "Gravei em agosto, não sabia que ele iria ser ministro. Mas acho superlegal, Gil é um viajante à moda de Luiz Gonzaga, mas pelo mundo afora. Tem condições de resolver várias de nossas questões culturais".
De volta às dissonâncias da parceria de gerações distintas, Francisco é quem admite, de novo: "Sem dúvida eu não teria tido a oportunidade de trabalhar com ele se não fosse seu filho".
Mas João defende a dissonância: "Às vezes sinto que estou mais aprendendo com Chico do que ensinando coisas a ele. Sinto mais ele me trazendo vontade, prazer. Quem recebe sou eu".
Vem, então, a comparação com a parceria clássica entre Bosco e o letrista Aldir Blanc, há anos interrompida. "Nós temos a mesma idade, começamos juntos, ambos universitários, vendo o mundo da mesma maneira. Hoje tudo é diferente, o modo de ouvir música, absorver estilos e histórias", diz.
Mesmo assim o reencontro Bosco-Blanc já se deu, no final de 2001. Cantaram juntos o clássico da dupla "O Bêbado e a Equilibrista" (79) para um songbook ainda não lançado de João. "Temos nos falado muito desde então, mas por enquanto não aconteceu nenhuma nova parceria", encerra o assunto, conciso.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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