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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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Centralização pode ameaçar diversidade

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira desconfiança que surge a respeito da criação de uma secretaria federal centralizando todo o dinheiro para patrocínio das estatais é se a política de escolha dos projetos continuaria diversificada.
"Não vejo problema em centralizar, se houver transparência", afirma a produtora Marlene Salgado, que teve o projeto teatral Pano de Roda patrocinado pela Petrobras. "Mas, centralizando, temos que ver que política é essa que vai se estabelecer. Que tipo de projeto será escolhido? É só aquele já consagrado, porque assim o governo terá maior retorno de marketing?".
A produtora diz que é constantemente questionada pelos diretores de marketing das empresas se os atores de seus projetos já participaram de trabalhos na TV. "Por isso, as pessoas envolvidas na seleção têm que estar muito inteiradas da situação, saber como funciona a forma de produção em diversas regiões do país", afirma.
O produtor de cinema Fabiano Gullane alerta para um possível retrocesso: "Agora que o cinema brasileiro está funcionando, mexer no modelo pode atrapalhar. A menos que a idéia seja extremamente bem realizada".
Gullane trabalhou na captação de projetos como "Bicho de Sete Cabeças", "Carandiru" e "Nina". Para ele, as estatais cumprem o seu papel. "As estatais são mais democráticas que as privadas. Há empresas privadas que apóiam projeto de um só perfil, enquanto as estatais abrem muito mais o leque. A BR, Eletrobrás, BNDES, Correios, Furnas estão constantemente investindo em produções."
"Hoje, existem comissões nas estatais que, mal ou bem, fazem algum tipo de avaliação. Cada um tem seus critérios e por isso mesmo mais projetos distintos são atendidos", afirma Gullane. Essa diversidade, portanto, poderia sofrer com a centralização.
Para dois dos captadores de projetos recém-aprovados, a criação da secretaria de patrocínio facilitaria a vida. "Acho que seria muito mais fácil para captar. Hoje, temos que bater de porta em porta, vender a idéia, mostrar os benefícios. Isso facilitaria bastante, diz Dilson Barros Maciel, gerente-nacional da ONG Moradia e Cidadania. Beto Carrero pensa igual: "Acho uma tremenda de uma idéia. Acho que tem que haver uma comissão para julgar e só os projetos que realmente merecem devem ganhar".


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