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Arrigo Barnabé reconstrói "Clara Crocodilo"
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Passados 20 anos que marcaram
seu profético retorno, o "inimigo
público número 1", "vítima de um
poderoso laboratório multinacional" dá novamente as caras. Clara
Crocodilo, personagem-título do
disco de estréia de Arrigo Barnabé, renasce mais uma vez, desta
vez dentro do projeto "São Paulistas", em duas apresentações: a de
hoje acontece às 21h no Sesc Pompéia e a de amanhã às 20h no Sesc
Ipiranga.
A segunda vinda marca a primeira vez que os integrantes da
banda Sabor de Veneno, que
acompanhava o músico na época
do disco (1980), se reúnem. "Tá
sendo muito legal reencontrar todo mundo", conta Barnabé, que
puxou a reunião. "Não tocávamos juntos desde 1981." Arrigo já
havia reapresentado a ópera pop
em fevereiro de 1999, com outra
banda. Naquela época, apenas seu
irmão, Paulo, havia tocado na Sabor de Veneno.
Ao reunir a banda, Arrigo só
não conseguiu quatro nomes originais: "Dois deles morreram [o
baixista Otávio Fialho e o percussionista Rogério Benatti], e dois
eu não consegui encontrar: o [tecladista] Bozo Barretti deve estar
viajando e o guitarrista Gilson
Guibson, sumiu". Entre os sobreviventes estão todo o naipe de metais (Chico Guedes, Baldo Versolatto, Mané Silveira, Felix Wagner
e Ronei Stella), o baterista Paulo
Barnabé, a tecladista Regina Porto
e as vocalistas Vânia Bastos e Suzana Salles. Tetê Espíndola completa o time no retorno da banda.
"Ela não era da banda, mas gravou o disco", conta.
Embora identificada com o início da decadência urbana de São
Paulo do final dos anos 70, Arrigo
não pensava exatamente na cidade quando compôs sua peça pop.
"Acho que é mais sobre o impacto
da metrópole, como um todo. E
acho que o fato de eu ter estudado
arquitetura me deu um certo
olhar diferenciado para a cidade",
lembra o músico.
"Mas o que me motivou a escrever sobre aquilo é que a música
brasileira dos anos 70 não falava
da cidade. Músicas como "Três
Apitos", do Noel Rosa, ou "Arranha-Céu", do Orestes Barbosa,
eram muito mais contemporâneas do que o que vinha sendo
produzido na época. Sentia falta
daquele cotidiano urbano -telefone público, office-boy, fliperama", explica.
As inspirações para a obra vinham de lugares diferentes: o nome do personagem foi inspirado
na economia de letras de "Aura
Amara", do poeta Artaud Daniel
(1180-1210) e a narrativa da faixa-título veio de locuções de programas policiais de rádios AM. "E o
monstro, no fim das contas, é a
própria música", revela Arrigo,
desconversando. "É uma coisa
meio isomórfica mesmo."
Nova vanguarda
Antes de Arrigo, duas facetas
distintas da nova vanguarda paulistana. Hoje é a vez do grupo eletrônico Bojo, apresentando o
show "Vocabulário". Amanhã é a
vez do grupo instrumental Hurtmold, cujas influências incluem o
jazz rock dos anos 70, o hardcore
frio e retilíneo do grupo Fugazi e o
pós-rock do grupo Slint.
CLARA CROCODILO. Apresentação de
Arrigo Barnabé e banda Sabor de
Veneno. Quando: hoje, às 21h, no Sesc
Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, tel. 0/
xx/11/3871-7700), e amanhã, às 20h, no
Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822,
Ipiranga. tel. 0/xx/11/3340-2000).
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15.
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