São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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Arrigo Barnabé reconstrói "Clara Crocodilo"

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Passados 20 anos que marcaram seu profético retorno, o "inimigo público número 1", "vítima de um poderoso laboratório multinacional" dá novamente as caras. Clara Crocodilo, personagem-título do disco de estréia de Arrigo Barnabé, renasce mais uma vez, desta vez dentro do projeto "São Paulistas", em duas apresentações: a de hoje acontece às 21h no Sesc Pompéia e a de amanhã às 20h no Sesc Ipiranga.
A segunda vinda marca a primeira vez que os integrantes da banda Sabor de Veneno, que acompanhava o músico na época do disco (1980), se reúnem. "Tá sendo muito legal reencontrar todo mundo", conta Barnabé, que puxou a reunião. "Não tocávamos juntos desde 1981." Arrigo já havia reapresentado a ópera pop em fevereiro de 1999, com outra banda. Naquela época, apenas seu irmão, Paulo, havia tocado na Sabor de Veneno.
Ao reunir a banda, Arrigo só não conseguiu quatro nomes originais: "Dois deles morreram [o baixista Otávio Fialho e o percussionista Rogério Benatti], e dois eu não consegui encontrar: o [tecladista] Bozo Barretti deve estar viajando e o guitarrista Gilson Guibson, sumiu". Entre os sobreviventes estão todo o naipe de metais (Chico Guedes, Baldo Versolatto, Mané Silveira, Felix Wagner e Ronei Stella), o baterista Paulo Barnabé, a tecladista Regina Porto e as vocalistas Vânia Bastos e Suzana Salles. Tetê Espíndola completa o time no retorno da banda. "Ela não era da banda, mas gravou o disco", conta.
Embora identificada com o início da decadência urbana de São Paulo do final dos anos 70, Arrigo não pensava exatamente na cidade quando compôs sua peça pop. "Acho que é mais sobre o impacto da metrópole, como um todo. E acho que o fato de eu ter estudado arquitetura me deu um certo olhar diferenciado para a cidade", lembra o músico.
"Mas o que me motivou a escrever sobre aquilo é que a música brasileira dos anos 70 não falava da cidade. Músicas como "Três Apitos", do Noel Rosa, ou "Arranha-Céu", do Orestes Barbosa, eram muito mais contemporâneas do que o que vinha sendo produzido na época. Sentia falta daquele cotidiano urbano -telefone público, office-boy, fliperama", explica.
As inspirações para a obra vinham de lugares diferentes: o nome do personagem foi inspirado na economia de letras de "Aura Amara", do poeta Artaud Daniel (1180-1210) e a narrativa da faixa-título veio de locuções de programas policiais de rádios AM. "E o monstro, no fim das contas, é a própria música", revela Arrigo, desconversando. "É uma coisa meio isomórfica mesmo."

Nova vanguarda
Antes de Arrigo, duas facetas distintas da nova vanguarda paulistana. Hoje é a vez do grupo eletrônico Bojo, apresentando o show "Vocabulário". Amanhã é a vez do grupo instrumental Hurtmold, cujas influências incluem o jazz rock dos anos 70, o hardcore frio e retilíneo do grupo Fugazi e o pós-rock do grupo Slint.


CLARA CROCODILO. Apresentação de Arrigo Barnabé e banda Sabor de Veneno. Quando: hoje, às 21h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, tel. 0/ xx/11/3871-7700), e amanhã, às 20h, no Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, Ipiranga. tel. 0/xx/11/3340-2000). Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15.


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