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SP 450
Na Ipiranga com São João, músico canta hoje com Zé Miguel Wisnik, Nando Reis, Jair Rodrigues, Jair Oliveira e Rappin" Hood
Com convidados, Caetano explica "Sampa"
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Talvez a maior expectativa de
deslumbramento de um brasileiro que visite São Paulo pela primeira vez passe longe da av. Paulista, do edifício Copan ou da Igreja da Sé. É provável que, para muitos, o lugar que traduziria essa
sensação seja uma simples esquina do centro da cidade: a que une
as avenidas Ipiranga e São João.
Foi lá que algo aconteceu no coração de Caetano Veloso e deu ao
cruzamento os versos mais famosos da canção "Sampa", de 1978.
Tornada cartão-postal do imaginário nacional, a esquina recebe o
compositor hoje, às 23h, para um
show que comemora os 450 anos
de São Paulo. O show não é inédito no local: o baiano já se apresentara ali em 1995.
Caetano, porém, recusa a "invenção" da esquina. "O lugar já
era mencionado em "Ronda", de
Paulo Vanzolini, cuja melodia eu
também cito em "Sampa'", afirma. Na verdade, Vanzolini cita
apenas a São João, sem a Ipiranga.
Existe alguma correção a ser feita na música, 26 anos depois? "O
essencial de Sampa permanece.
Acho que as correções necessárias
foram feitas pelo Jair [Oliveira]",
disse, rindo, referindo-se à canção
"Uma Outra Beleza" do filho de
Jair Rodrigues, espécie de "resposta" a "Sampa". Ambos são
convidados de Caetano no show,
que terá ainda Nando Reis, José
Miguel Wisnik e Rappin" Hood.
Para Caetano, Jair Oliveira comentou "o estranhamento das estranhezas" que o baiano sentiu ao
chegar à cidade, principalmente a
"deselegância discreta" das paulistanas. "Havia, no meu caso,
uma questão de classe: eu andava
num ambiente de classe média
para baixo, então havia essa deselegância. Eu não conhecia aqueles
paulistas que consideram os outros como uma classe muito inferior, por terem mais dinheiro e
mais viagens ao exterior", afirma.
Ainda sobre os estranhamentos
de "Sampa", o compositor se recordou de quando conheceu a cidade, nos anos 60. "Cheguei com
a [Maria] Bethânia, e a cidade nos
pareceu feia, não parecia grande...
nos pareceu provinciana, com
aqueles cartazes de cinema de
mau gosto. Tinha algo de cidade
do interior", afirma, ressaltando
que a canção é uma crônica da
época. Segundo ele, os comentários sobre a cidade presentes na
canção se tornaram com o tempo
menos "indiscutíveis". "Hoje a
paulistana já é pop, é Daslu, é São
Paulo Fashion Week, e as meninas de São Paulo hoje são elegantes. Não eram!", exclama.
O show
Ao lado dos cinco convidados,
Caetano disse que o show de hoje
será marcado pelo despojamento.
"Não estamos ensaiando há dois
meses com uma banda. Não é um
espetáculo de Las Vegas", disse,
justificando o caráter intimista da
apresentação -banquinho e violão. Ou violões, já que Nando Reis
e Jair Oliveira confirmaram empolgados as presenças dos seus.
"O que não vai faltar são Jaíres",
comentou Caetano, com humor,
ao que Jair Rodrigues emendou:
"Então é melhor "já ires" embora".
A descontração foi marcante durante a entrevista coletiva.
Animadamente, Caetano e Jair
Rodrigues trocam idéias sobre
músicas que devem cantar no
show. Além da confirmadíssima
"Sampa", estarão lá "Lampião de
Gaz", de Zica Bergami, sucesso de
Inezita Barroso, e "São, São Paulo,
Meu Amor", de Tom Zé, vencedora do festival de 68.
Os duos serão uma constante.
"Nando Reis e eu estamos em dúvida se cantaremos "O Segundo
Sol" ou "Relicário'", disse Caetano,
que pediu a Jair Oliveira uma frasezinha de "Uma Outra Beleza",
"Assum Branco" a Zé Miguel e
"Tudo no Meu Nome" a Rappin"
Hood. "Vai ser um prazer cantar
um "sou negrão" com você", disse
Caetano ao rapper, que agradeceu
afirmando que, devido ao exílio,
Caetano é contestador como um
"rapper, só que anos à frente".
CAETANO VELOSO E CONVIDADOS.
Show em comemoração dos 450 anos de
São Paulo. Onde: entre as av. Ipiranga e
São João. Quando: hoje, às 23h. Grátis.
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