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Diretor associa tráfico à ruína de cidades
DE LONDRES
Tudo o que viu e viveu ao
longo de 18 meses, nas montanhas do Peru, na favela carioca
e nas cidades colombianas,
mudou a opinião do documentarista Angus Macqueen sobre
drogas. Ele passou a defender,
por exemplo, a legalização do
consumo. Em entrevista à Folha, Macqueen afirma que ficou impressionado pela forma
como o tráfico é capaz de destruir as sociedades.
"No Peru, você tem uma cultura sendo destruída. No Rio,
você tem uma cidade sendo
destruída. Na Colômbia, é um
Estado, é o país inteiro."
A entrevista à Folha começou numa manhã agitada, no
escritório da produtora October Films, onde Macqueen é
um dos diretores. Continuou
dentro de um táxi. E terminou
em uma outra produtora, na
qual Macqueen foi alugar um
equipamento que levaria, nesta
semana, para a Indonésia, onde pretende fazer um documentário sobre a reconstrução
após o tsunami.
"O truque de fazer documentário é encontrar pessoas como
o Zé e a Maria Cristina [Chirolla, chefe do departamento de
combate à lavagem de dinheiro
na Colômbia; ela é protagonista do terceiro episódio de "Cocaine"]. Quando você está sentado em sua casa em Londres,
você pensa: eu conheço esse tipo. Você sente que você os entende", diz Macqueen.
Ele mesmo parece se envolver, de certa forma, com os personagens. Fala com tom de carinho e preocupação sobre Maria Cristina -que recebeu
ameaças de morte enquanto o
documentário era filmado na
Colômbia- e Zé e sua família.
Segundo ele, a ajuda de Zé -
o ex-traficante que hoje trabalha em um posto de gasolina
durante o dia e de segurança
privado à noite- foi fundamental. Só depois que a equipe
de Macqueen o encontrou, por
intermédio do motorista contratado por eles no Rio, é que as
"portas" do Dona Marta começaram a se abrir.
O documentarista diz que
uma das coisas mais impressionantes que acredita ter conseguido em "Cocaine" foi mostrar as etapas de produção da
cocaína, exibidas, principalmente, no primeiro episódio
filmado no Peru. Sobre o Rio,
Macqueen se diz chocado por
ter visto "adolescentes com armas, comandando as vidas de
milhares de pessoas".
"A situação no Rio é a de uma
casa de loucos", diz.
Tudo isso o levou a mudar de
opinião sobre a legalização do
uso de drogas. Segundo ele, a
sociedade mente sobre a cocaína. Ele -que diz nunca ter experimentado- afirma que a
droga vicia, mas mata pouca
gente. E afirma que a "tragédia" que presenciou na América Latina não ocorre em razão
dos danos que a cocaína causa
ao cérebro das pessoas, mas
porque seu uso é ilegal.
Macqueen -que já se expôs
a situações mais perigosas no
passado, como quando fez documentários em países do Leste Europeu nos anos 80- diz
que não pretende ser visto como um herói e que seu objetivo
é "buscar dar voz às pessoas cujas vozes não ouvimos".
(EF)
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