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Grupo cria fábula social de SP
Companhia Teatro de Narradores parte da "Odisséia" de Homero para chegar às formas de violência na cidade
"Um Dia de Ulysses" estréia amanhã no Espaço Maquinaria, sede do coletivo ligado a movimentos de moradia e dos sem-terra
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma peculiaridade do teatro
de grupo em São Paulo é a vocação para pensar a cidade em cena. É o que move a Companhia
Teatro de Narradores em "Um
Dia de Ulysses", que funde histórias e figuras envolvidas em
tensões sociais, políticas e existenciais sob o pano de fundo de
um toque de recolher de criminosos à la PCC (Primeiro Comando da Capital).
Um morador de cortiço, uma
prostituta, um travesti, uma cineasta, um ator e uma militante sem-teto têm suas trajetórias embaralhadas no espetáculo que estréia amanhã, aniversário de São Paulo, no Espaço Maquinaria, sede da companhia na Bela Vista.
A idéia da viagem como organização da experiência, do
aprendizado, como exposta na
"Odisséia", poema épico de Homero, motiva os Narradores
desde 2005. O processo foi
transformado e contaminado
pelas cenas de intervenções do
grupo junto a movimentos sociais como o de moradia do centro (MMC) e o dos sem-terra
(MST). Os artistas chegaram a
contracenar com a reintegração de um prédio na rua do Ouvidor, na região da Sé, e a desapropriação de outro, na Casa do
Politécnico da USP (Cadopô),
no Bom Retiro.
"Não é uma adaptação da
"Odisséia" nem uma transcriação documental do material
que a gente levantou. É, sim,
uma tentativa de organizar essas referências numa fábula",
diz o diretor, José Fernando de
Azevedo, 33.
Uma fábula bastante difusa,
segundo ele, por meio da qual o
espectador acompanha pequenas histórias do centro da cidade. É o caso do homem que volta ao cortiço onde morou dez
anos antes e se depara com um
shopping. "A questão do regresso é marcante. O sujeito
volta a seu lugar para rever sua
Penélope, sua São Paulo", afirma a atriz Barbara Araujo, 30,
numa referência a Ulysses,
guerreiro grego que volta a Ítaca após a destruição de Tróia.
Desenham-se ainda as trajetórias da prostituta e do travesti, com os respectivos filhos no
encalço; a militante por moradia que vira tema de documentário; a cineasta pequeno-burguesa que é questionada sobre
sua imersão; e o ator que enfrenta impasse com os colegas,
que não conseguem levantar
um espetáculo.
Aqui, diz Azevedo, ocorrem
citações a "Um Grito Parado no
Ar", de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Trata-se de
exercício de "metateatro" no
qual a equipe não consegue
deslanchar nos ensaios para
uma montagem na época da ditadura. De certa forma, a idéia
espelha dilemas e obstáculos
dos próprios Narradores, que
completam dez anos.
As apresentações acontecem
numa sala do Maquinaria com
capacidade para 40 pessoas. O
espaço cenográfico (por Cristiane Cortilio) sugere uma área
em construção, entre madeirites e uma janela, por meio da
qual é possível espiar a cidade.
UM DIA DE ULYSSES
Onde: Espaço Maquinaria (r. Treze de
Maio, 240, tel. 0/xx/11/3259-7580)
Quando: estréia amanhã; sex., sáb. e
dom., às 20h. Até maio
Quanto: R$ 10
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