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Crítica
"A Pane" é peça inteligente com estilo kafkiano e interpretações requintadas
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Friedrich Dürrenmatt é
um criador de fábulas
intrigantes. Em seu
conto "A Pane", um forasteiro
em um vilarejo -que, por uma
pane de seu carro, é obrigado a
pernoitar na casa de um juiz
aposentado- aceita o convite
de participar enquanto réu de
um simulacro de julgamento
que o anfitrião costumava fazer
junto a seus colegas. Aos poucos, durante o jantar gastronômico, vai se convencendo de
que é um assassino.
Terrível como Kafka, mas
sem perder a bonomia, o próprio autor do conto o adaptou
em seguida para o rádio e os
palcos. A versão atual, no entanto, é feita especialmente pelo renomado jurista e político
Nilo Batista para o interessante
projeto "Teatro na Justiça", da
Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
Conduzida pelo professor de
direção teatral José Henrique e
contando com a idealizadora
do projeto, Silvia Monte, em
seu elenco, a produção é a primeira encenada exclusivamente por profissionais da área teatral (antes disso, vários advogados famosos experimentaram
exercer seus dons teatrais pela
primeira vez no palco).
Indo além de seus princípios
pedagógicos, o espetáculo resulta em uma diversão inteligente, com algumas interpretações requintadas. Henrique
Pagnoncelli convence na sua
interpretação do homem comum que se embriaga deleitosamente pela culpa, ao passo
que o elenco "jurídico" não faria feio em nenhum tribunal,
com o bônus do distanciamento irônico magistral.
A adaptação de Batista ousa
bem ao incorporar recursos
épicos de narração (que estão
em casa no universo dos tribunais) e auxilia no aspecto "pedagógico" ao abrasileirar referências, embora com exageros.
A direção acerta em voltar ao
tom original de fábula, com
uma atemporalidade auxiliada
por luz e figurino. Curiosamente, um dos ganchos de marketing da montagem (a de se servir um cardápio real preparado
por um restaurante patrocinador) acaba tomando uma dimensão desnecessária. A verdadeira degustação de "A Pane"
é a sua inteligência.
A PANE
Quando: sáb., às 21h; dom., às 19h; até
10/2
Onde: Sesc Consolação (teatro Sesc
Anchieta - r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11 3234-3000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: bom
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