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MÚSICA
"Sambatown", em processo de finalização, é dirigido por Jodele Larcher e tem a participação de grandes nomes
Documentário sobre samba vinga o botequim
XICO SÁ
CRITICO DA FOLHA
Junta um bocado de bamba e
a nada condoreira espuma flutuante da cerveja... e a linguagem
não é mais a do cinema, muito
menos a da TV. Vinga a estética
do botequim, independentemente do enquadramento do samba.
Não tem mistério. Não há produção ou direção de arte que governem, por mais que tentem folclorizar, a fuleiragem da alma, não é,
mestre Fulêiro?, personagem que
veremos mais adiante.
"Sambatown - A Cidade do
Samba", documentário sobre o
Rio e o seu gênero-mor, é rodado
em 16 mm e vídeo digital, tem direção de Jodele Larcher e bota para quebrar na reunião de gente do
ramo. É informação até dizer basta. Para um brasileiro de outra
formação ou geografia de ritmo,
já é uma enciclopédia; para um
gringo, é o tesouro da juventude.
O documentário está em fase de
finalização. Tem a sorte de contar
com a narrativa de Nei Lopes, o
bamba que sabe demais. "Sambatown" salta de estação em estação
de trem para alcançar as escolas e
os compositores espalhados pelo
Rio. Sergio Cabral, jornalista e
pesquisador desse mundo, levanta voz: "O samba é carioca".
Lopes, mais sábio, mostra que o
couro do gato é mais curtido. E recita as vozes d'África sem medo.
Dá-lhe congo, maxixe e tantas
umbigadas. Deita sabedoria o rapaz do fiat lux do ziriguidum.
Nesse ponto, samba e Luiz Gonzaga se colam: "Quando tu balança, dá um nó na minha pança",
prega o rei do baião.
Mas, no Nordeste, se diz mesmo
assim: "Ramo (sic) pro samba".
Mesmo que seja o que se convencionou chamar forró, "for all".
"Passou a noite no samba, desgraçado!", gritam as mulheres com
seus cabras safados, independentemente do gênero em voga ou
questão. Dance o que dançar, a
nomenclatura é samba.
O ministro Gilberto Gil depõe
no documentário a favor dessa
dialética do esclarecimento. Meio
desanimado, é verdade, fora do
plano das espumas flutuantes e
cachaças outras. Quem tem carreira a zelar, imagem etc. dificilmente fica à vontade na deliciosa
confusão do mundo. Pena.
O diletantismo samba clube está
na voz de Fulêiro, mestre-personagem da fita. Mas quem tira onda é Aloísio Machado, 55 de samba, sabe-se lá quantos de vida.
Conta aquela história de sexo com
madame. Um "Casa Grande &
Senzala" da fuleiragem. "Pela entrada de serviço/ eu uso o artifício..." Penetra no ambiente luxuoso. Vai levar calor, diz, à burguesa que tem tudo e nada tem.
"Vem logo, vem curar teu nego/
que chegou de porre/ lá da boemia." Martinho da Vila dá o prefixo. Tenta decifrar o mistério. O
samba é do botequim. Diz que
nem compõe tanto no tal ambiente, como os das antigas, mas reconhece. Haroldo Costa, jornalista e
produtor de rádio e TV, homem
do Salgueiro, é outro narrador de
responsabilidade. Os personagens não são apenas os mais conhecidos. Tem uma pá de tias Suricas e Xangôs da Mangueira.
Seu Jorge, que tá podendo, faz o
consenso do morro e do asfalto.
Nelson Sargento, dor, cachaça e
argumento, aprova, no soslaio de
compromisso. A cantora Teresa
Cristina, portelense, saúda Paulinho da Viola, coisa linda.
Cabe ao moço Jorge a reunião
dos bambas. Como é do ramo, cozinha o galo direitinho. É o homem-transição entre as antigas e
os novos poleiros do balacobaco,
ziriguidum, samba esporte fino.
"Para entender o samba, você não
precisa sair de onde tá", diz Seu
Jorge. A menos que você seja Gilberto Freyre, o pernambucano,
que saiu, meados dos anos 20 do
século passado, para tomar a bênção a Pixinguinha ou entendê-lo.
É tudo "mutirão do amor", como bem sabe Jorge Aragão e sua
prosopopéia de fundo de quintal.
"Its true." Verdade, como diz a legenda do "Sambatown", para
gringo ver, quando entra em campo a voz de garganta de cerveja
mui gelada de Zeca Pagodinho.
Não tem mistério.
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