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Livro reúne capas que deram cara à bossa nova
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quem conhece o compacto
"Bossa e Bossa", lançado em 1959
pelo Conjunto "Bossa Nova" (assim mesmo, entre aspas), formado por jovens como Roberto Menescal e Luiz Carlos Vinhas?
Ou "Jack Wilson Plays Brazilian
Mancini", LP de 1967 com as canções de Henry Mancini tocadas
em ritmo de bossa nova por músicos como o violonista "Tony Brazil" (também entre aspas), pseudônimo de Tom Jobim?
Ou, ainda, o disco de 1961 de
Eduardo Lobo, que depois se tornaria Edu Lobo e passaria a ver
com olhos severamente críticos
seu compacto de estréia?
As capas dessas preciosidades
são três das cerca de 700 reunidas
em "Bossa Nova e Outras Bossas
-°A Arte e o Design das Capas dos
LPs". O livro é resultado da obstinação dos autores: Caetano Rodrigues, um dos principais colecionadores de discos do país, e
Charles Gavin, baterista dos Titãs
e responsável, nos últimos anos,
pelo lançamento em CD de 350
LPs que estavam mofando nos arquivos das gravadoras.
A edição de luxo, em formato de
LP e espessura de um robusto álbum, terá 500 exemplares vendidos (por R$ 200) a partir de março
no site (www.vivario.org.br) e
nos postos do Viva Rio, com renda revertida para a campanha de
desarmamento feita pela ONG.
Os outros 2.000 exemplares patrocinados pela Petrobras estão
sendo distribuídos para bibliotecas públicas e outras instituições.
Os autores negociam uma edição
comercial.
"A bossa nova já nasceu moderna, e os artistas gráficos e fotógrafos foram se adaptando àquela
música diferente que estava surgindo. A linguagem visual ficou à
altura das transformações musicais", diz Gavin, 44.
Entre os que mais contribuíram
para a criação da identidade visual da bossa nova estão os fotógrafos Mafra e Francisco Pereira e
o artista gráfico Cesar G. Vilela.
Hoje com 74 anos, Vilela foi o
inventor do marcante estilo da
Elenco, gravadora de Aloysio de
Oliveira especializada em bossa
nova: capas normalmente com
fundo branco, poucos elementos,
ousadas tipologias e disposições
das letras e, muitas vezes, ilustrações em vez de fotos.
"Na época, não havia toda essa
promoção em torno de um disco
que há hoje. Então, a capa do LP
era seu display, precisava vendê-lo. Como havia muita poluição visual nas lojas, criei capas mais
simples, claras, despojadas", conta Vilela, que também trabalhou
nos EUA e calcula ter desenhado
cerca de mil capas.
Ele diz que chegou a seu estilo
experimentando, com poucas referências prévias, já que os discos
internacionais não chegavam
aqui com freqüência. Mas Gavin e
Rodrigues vêem familiaridade
com os LPs americanos de jazz.
"As capas da Blue Note, da Verve, da Impulse eram muito bonitas, não se limitavam a estampar a
cara do artista. Assim como a bossa nova sofreu influência do jazz,
as capas também devem ter sofrido", diz Gavin.
Mas "Bossa Nova e Outras Bossas" não é só um livro de design.
Funciona como um grande catálogo do gênero, apresentando,
por capítulos, os discos da "linha
de frente da bossa nova" (João
Gilberto e Tom Jobim), os de cantoras, cantores, instrumentais, internacionais e as trilhas e coletâneas. Todos os capítulos têm textos de abertura de Ruy Castro,
além de pequenos comentários
dos autores.
"Queria limitar os discos até
1967, mas tivemos que abrir exceções por causa da beleza e da importância de alguns, como "Amoroso" [de João Gilberto, de 1978]",
conta Rodrigues, 69, proprietário
das capas, algumas conseguidas
com apoios como o de um havaiano apaixonado por música brasileira. "A enorme maioria dos discos nunca saiu em CD, e muitos
só existem nas mãos de colecionadores", diz.
Gavin e Rodrigues sonham com
o relançamento em CD de muitos
desses discos e a disponibilização
dos LPs para consultas em instituições especializadas.
Entre os atrativos do livro estão
as capas que exploravam a febre
da bossa nova e sua associação a
alegria e juventude. São os casos
de "Guitarra Bossa Nova", de
Waltel Branco, "Sambalanço", da
Moderna Orquestra de Sambas, e
"Bossa Nova nos "States'", do saxofonista Juarez Araújo. As capas
mostram como a felicidade de um
tempo pode virar breguice em outro momento.
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