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Madri celebra o expressionismo
DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
Quatro artistas queriam libertar
a expressão e os hábitos sociais
dos cânones acadêmicos e do
bom gosto burguês. Aspiravam
criar formas de expressão e transformar os valores morais e de
comportamento. Em 7 de junho
de 1905, formaram o grupo Die
Brücke (A Ponte) e deram início
ao expressionismo alemão.
Para celebrar o primeiro século
do movimento, o Museu
Thyssen-Bornemisza (www.museothyssen.org) e a Fundação Caja Madrid exibem até 15 de maio,
na capital espanhola, a retrospectiva "Brücke - O Nascimento do
Expressionismo Alemão", que
reúne 190 trabalhos do grupo fundado em Dresden por Erich Heckel, Fritz Bleyl, Ernst Ludwig
Kirchner e Karl Schmidt-Rottluff,
ao qual se juntaram Max Pechstein, Otto Mueller e Emil Nolde.
A mostra está dividida em 11
núcleos. Permeia cada obra a estética inovadora do grupo: o uso de
cores carregadas, o estilo de composição rápida, a aparência rústica e a representação de figuras
nuas. Eles se inspiravam em imagens das culturas africana, oceânica e asiática, conhecidas por
meio de publicações, museus e
exposições antropológicas.
O primitivismo, que dá nome a
um dos principais capítulos da
exposição, constituía um ponto
central para o Die Brücke. Seu
projeto artístico ia além da apropriação essencialmente formalista do cubismo de Picasso.
A confraria alemã pretendia
não só imitar a arte exótica como
também desejava adotar um estilo de vida isolado dos progressos
da modernidade, voltado à harmonia entre o homem e a natureza. O nudismo era prática habitual entre os artistas. "Foram pioneiros na busca de uma cultura
extramoral", diz o curador Javier
Arnaldo, comparando obras com
as culturas beatnik e hippie.
Outro núcleo, "O Espetáculo
como Ritual", enfoca o tratamento velado do primitivismo, juntando imagens de espetáculos de
circo e cabarés, universo marginal
e sensual, repleto de substratos da
cultura popular. Já a seção "Nus
na Paisagem" oferece vários registros dos banhos em riachos e repousos nas estâncias do grupo.
A nudez imersa no cotidiano
também está presente em "Interiores com Modelo", com cenas
dos estúdios onde trabalhavam, e
em "Entre a Fonte e o Ápice", que
trata da valorização do nu como
símbolo do reformismo cultural
da virada do século 19 para o 20.
O contraponto ao idealismo
neo-romântico foi a cidade de
Berlim, para onde os artistas se
transferiram em 1911, começo de
um afastamento que resultou na
dissolução do grupo, em 1913.
Em "Os Selvagens na Cidade"
predominam os retratos da vida
urbana: vistas de espaços públicos, de locais de circulação e de
bordéis. A esperança libertária cede lugar à crítica e à desolação.
"Eles suspeitavam da iminência
de uma crise social generalizada",
afirma Javier Arnaldo, sobre a
proximidade da Primeira Guerra.
O caráter provocador teria uma
possível semelhança com a arte
dos dias atuais. No entanto, o curador ressalta que aquilo que antes se propunha para chamar a
atenção do público para a urgência de mudanças na sociedade é
hoje instrumento do próprio status quo. "Agora a provocação serve muitas vezes à publicidade."
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