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A nova Hollywood
Em sua 80ª edição, que acontece hoje, Oscar consolida processo de renovação, privilegiando o talento de diretores como os irmãos Coen, Paul Thomas Anderson e Jason Reitman
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Se é verdade que os "velhinhos" controlam a Academia
de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, como
ainda se costuma dizer em relação às preferências de seus
6.000 integrantes, então já não
se fazem mais "velhinhos" como antigamente.
Nos anos 70, eles preferiam
"Golpe de Mestre" (1973) e
"Rocky" (1976), mas também
"O Poderoso Chefão" (1972) e
"Um Estranho no Ninho"
(1975). Na década de 80, consagraram "Gente como a Gente"
(1980), "Gandhi" (1983), "Laços
de Ternura" (1984) e "Entre
Dois Amores" (1986), ainda que
sobrasse também para "O Último Imperador" (1987).
"Dança com Lobos" (1990),
"A Lista de Schindler" (1993),
"Forrest Gump - O Contador
de Histórias" (1994) e "Titanic"
(1997) estão entre as preferências dos anos 90, junto a "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e
"Os Imperdoáveis" (1992).
No século 21, a troca de guarda em Hollywood se expressa
em dois movimentos distintos.
O primeiro, característico da
Academia, é a reverência aos
velhinhos de verdade, jovens
rebeldes de ontem transformados em mestres da geração que
tomou o poder, como Clint
Eastwood ("Menina de Ouro",
2005) e Martin Scorsese ("Os
Infiltrados", 2007).
O segundo, que privilegia de
forma corporativa o reconhecimento ao talento de representantes da nova ordem, como
Peter Jackson ("O Senhor dos
Anéis", 2004) e Paul Haggis
("Crash", 2006), pauta a 80ª cerimônia de entrega do prêmio,
realizada hoje, em Los Angeles.
A vez dos Coen
Se as previsões da imprensa
norte-americana se confirmarem, os principais vencedores
da noite serão os irmãos Joel,
53, e Ethan Coen, 50, que devem receber os prêmios de melhor filme (eles são os produtores), direção e roteiro adaptado
por "Onde os Fracos Não Têm
Vez", policial com ambientação
de faroeste que, em tempos de
outros velhinhos, poderia aspirar somente a indicações secundárias -e olhe lá.
A festa dos cinqüentões deverá incluir o inglês Daniel
Day-Lewis, 50, favorito ao Oscar de melhor ator por "Sangue
Negro", de Paul Thomas Anderson, 37, que disputa o Oscar
de direção e roteiro adaptado
em status semelhante ao dos irmãos Coen à época de "Fargo"
(1996): ele é o jovem talento cujo dia ainda chegará.
Até pouco tempo atrás visto
como representante da novíssima geração, Anderson já começou a parecer "velhinho", ao
menos neste ano, em que o lugar da nova turma da cidade é
ocupado pelos realizadores de
"Juno": o diretor Jason Reitman, 30, a atriz Ellen Page, 21, e
a roteirista Diablo Cody, 29.
O processo de renovação já
havia sido notado dois anos
atrás, quando "Crash" disputou
o Oscar de melhor filme com
outros colegas do cenário independente, ligados aos grandes
estúdios, mas à margem deles:
"O Segredo de Brokeback
Mountain" (história de amor
gay), "Capote" (drama sobre
um jornalista gay que se envolve com um assassino) e "Boa
Noite e Boa Sorte" (apologia liberal da independência jornalística contra os poderosos).
Oscar dos independentes
Neste ano, ao menos quatro
concorrentes na principal categoria pertencem ao mesmo espectro: "Onde os Fracos Não
Têm Vez" (produzido pela Paramount Vantage e pela Miramax, entre outras), "Sangue
Negro" (idem), "Juno" (Fox
Searchlight e outras duas produtoras menores) e "Conduta
de Risco" (produzido por George Clooney, Steven Soderbergh, Anthony Minghella e
Sydney Pollack, entre outros).
Apenas "Desejo e Reparação" (produzido pela britânica
Working Title e pela francesa
Studio Canal) tem um modelo
de produção que lembra o dos
dramas de reconstituição histórica bem-sucedidos em outras ocasiões. O Oscar, ao completar 80 anos, não traduz apenas uma nova troca de guarda
em Hollywood. Ele aponta
também para uma outra forma
de realizar filmes em que autonomia, inventividade e alguma
ousadia possam renovar o cinema como negócio no limiar de
uma revolução tecnológica que,
para muitos, provocará o seu
fim, tal como o conhecemos.
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