São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Teatralidade de Day-Lewis pode render 2º prêmio

Vencedor do Oscar em 1990, com "Meu Pé Esquerdo", ator inglês moderniza estilo de veteranos como Laurence Olivier

Na pele do homem-monstro movido pela ganância de "Sangue Negro", Day-Lewis recusa o minimalismo e flerta com a canastrice

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Daniel Day-Lewis faz jus à estirpe da grande escola de interpretação britânica, ao perpetuar e modernizar o estilo de Laurence Olivier, Alec Guinness, David Niven e Peter O'Toole -todos reconhecidos pela Academia. Sem medo de mergulhar fundo na composição de seus personagens, ele recusa o minimalismo e busca a grandiosidade, flertando com a canastrice. Mas sua teatralidade, estranhamente, guarda incrível empatia com a câmera.
Como Daniel Plainview, o homem-monstro de "Sangue Negro", que despreza a humanidade e é movido pela ganância, Daniel Day-Lewis foi indicado pela quarta vez ao Oscar de melhor ator e pode, com justiça, ganhar sua segunda estatueta. A primeira veio em 1990, pelo filme "Meu Pé Esquerdo", pequena produção irlandesa em que vivia Chris Brown, um homem com paralisia cerebral.
Filho do poeta Cecil Day-Lewis e neto, por parte de mãe, de Michael Balcon -figura importantíssima do cinema inglês, que chefiou os estúdios Ealing-, Daniel Day-Lewis estudou teatro em Bristol e chegou a atuar na Royal Shakespeare Company. No cinema, depois de algumas pontas (uma delas em "Gandhi"), a primeira vez em que chamou atenção de fato foi em 1985, quando foram lançados "Uma Janela para o Amor", de James Ivory, e "Minha Adorável Lavanderia", de Stephen Frears.
No primeiro, típica produção de época, ele encarnava a essência do esnobe inglês; no segundo, era o oposto absoluto: um punk londrino que namorava um jovem de origem paquistanesa. Essa dupla de personagens lhe rendeu o prêmio de ator coadjuvante da Associação de Críticos de Nova York.
Em 1988, Lewis viveu o fotógrafo Tomas em "A Insustentável Leveza do Ser", adaptação de Phillip Kaufman para o best-seller de Milan Kundera -um trabalho que, hoje, ele não vê com bons olhos: "Fui tragado pelo furacão criado em torno do projeto e acreditei que todos os atores jovens queriam aquele papel. Mas se tivesse prestado atenção e lido o roteiro com calma, saberia que não estava pronto para a experiência", disse Lewis, recentemente, em entrevista ao jornal inglês "The Guardian".
Outros de seus trabalhos marcantes são "Em Nome do Pai" (que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar); "As Bruxas de Salém", adaptação da peça de Arthur Miller em que ele conheceu sua atual mulher (Rebecca Miller, filha do autor), e as duas parcerias com Martin Scorsese: "A Época da Inocência" (1993) e "Gangues de Nova York" (2002, filme que lhe rendeu sua terceira indicação ao Oscar).


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