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Teatralidade de Day-Lewis pode render 2º prêmio
Vencedor do Oscar em 1990, com "Meu Pé Esquerdo", ator
inglês moderniza estilo de veteranos como Laurence Olivier
Na pele do homem-monstro
movido pela ganância de
"Sangue Negro", Day-Lewis
recusa o minimalismo e
flerta com a canastrice
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Daniel Day-Lewis faz jus à
estirpe da grande escola de interpretação britânica, ao perpetuar e modernizar o estilo de
Laurence Olivier, Alec Guinness, David Niven e Peter
O'Toole -todos reconhecidos
pela Academia. Sem medo de
mergulhar fundo na composição de seus personagens, ele recusa o minimalismo e busca a
grandiosidade, flertando com a
canastrice. Mas sua teatralidade, estranhamente, guarda incrível empatia com a câmera.
Como Daniel Plainview, o
homem-monstro de "Sangue
Negro", que despreza a humanidade e é movido pela ganância, Daniel Day-Lewis foi indicado pela quarta vez ao Oscar
de melhor ator e pode, com justiça, ganhar sua segunda estatueta. A primeira veio em 1990,
pelo filme "Meu Pé Esquerdo",
pequena produção irlandesa
em que vivia Chris Brown, um
homem com paralisia cerebral.
Filho do poeta Cecil Day-Lewis e neto, por parte de mãe, de
Michael Balcon -figura importantíssima do cinema inglês,
que chefiou os estúdios Ealing-, Daniel Day-Lewis estudou teatro em Bristol e chegou
a atuar na Royal Shakespeare
Company. No cinema, depois
de algumas pontas (uma delas
em "Gandhi"), a primeira vez
em que chamou atenção de fato
foi em 1985, quando foram lançados "Uma Janela para o
Amor", de James Ivory, e "Minha Adorável Lavanderia", de
Stephen Frears.
No primeiro, típica produção
de época, ele encarnava a essência do esnobe inglês; no segundo, era o oposto absoluto:
um punk londrino que namorava um jovem de origem paquistanesa. Essa dupla de personagens lhe rendeu o prêmio de
ator coadjuvante da Associação
de Críticos de Nova York.
Em 1988, Lewis viveu o fotógrafo Tomas em "A Insustentável Leveza do Ser", adaptação
de Phillip Kaufman para o best-seller de Milan Kundera -um
trabalho que, hoje, ele não vê
com bons olhos: "Fui tragado
pelo furacão criado em torno
do projeto e acreditei que todos
os atores jovens queriam aquele papel. Mas se tivesse prestado atenção e lido o roteiro com
calma, saberia que não estava
pronto para a experiência", disse Lewis, recentemente, em entrevista ao jornal inglês "The
Guardian".
Outros de seus trabalhos
marcantes são "Em Nome do
Pai" (que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar); "As
Bruxas de Salém", adaptação da
peça de Arthur Miller em que
ele conheceu sua atual mulher
(Rebecca Miller, filha do autor), e as duas parcerias com
Martin Scorsese: "A Época da
Inocência" (1993) e "Gangues
de Nova York" (2002, filme que
lhe rendeu sua terceira indicação ao Oscar).
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