São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Crítica

Macetes regem o hit "Miss Sunshine"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O que chamamos de "cinema independente americano" é, quase sempre, uma série de macetes destinados a fazer crer que estamos vendo outra coisa que não cinema de Hollywood e, mais, que somos inteligentes por ver isso.
"Pequena Miss Sunshine" (TC Pipoca, 20h) não foge à regra, com seus personagens excêntricos. Lá estão o professor proustiano suicida, a menininha fanatizada por concursos de miss, o rapaz que se recusa a falar, o pai em busca do sucesso, o avô... bem, veremos ao final o que ele apronta.
Demorei para confessar que eu os detestava individualmente e como família, até porque o filme tem seu humor, tem sua atração, é sedutor e não abominável. É certo, não errado.
Seu problema, a rigor, é este: tudo está certo, no lugar. Cada fragmento parece encerrar uma crítica aos americanos. Mesmo a Kombi em que viajam para levar a garota ao concurso é a propósito: uma charanga caindo aos pedaços.
Essa família nos comove no primeiro momento porque não nos parecemos com ela. Por pior que sejamos, sempre parecemos um tanto superiores a eles. Mesmo a mãe, único ser razoavelmente plausível, acaba parecendo uma anomalia, na medida em que sua normalidade se torna apenas uma excentricidade entre outras.
"Miss Sunshine" concorreu ao Oscar graças ao uso intensivo e inteligente desses e outros macetes. Nos EUA, o "mainstream" é mais honesto.


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