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Crítica
Macetes regem o hit "Miss Sunshine"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que chamamos de "cinema
independente americano" é,
quase sempre, uma série de
macetes destinados a fazer crer
que estamos vendo outra coisa
que não cinema de Hollywood
e, mais, que somos inteligentes
por ver isso.
"Pequena Miss Sunshine"
(TC Pipoca, 20h) não foge à regra, com seus personagens excêntricos. Lá estão o professor
proustiano suicida, a menininha fanatizada por concursos
de miss, o rapaz que se recusa a
falar, o pai em busca do sucesso, o avô... bem, veremos ao final o que ele apronta.
Demorei para confessar que
eu os detestava individualmente e como família, até porque o
filme tem seu humor, tem sua
atração, é sedutor e não abominável. É certo, não errado.
Seu problema, a rigor, é este:
tudo está certo, no lugar. Cada
fragmento parece encerrar
uma crítica aos americanos.
Mesmo a Kombi em que viajam para levar a garota ao concurso é a propósito: uma charanga caindo aos pedaços.
Essa família nos comove no
primeiro momento porque não
nos parecemos com ela. Por
pior que sejamos, sempre parecemos um tanto superiores a
eles. Mesmo a mãe, único ser
razoavelmente plausível, acaba
parecendo uma anomalia, na
medida em que sua normalidade se torna apenas uma excentricidade entre outras.
"Miss Sunshine" concorreu
ao Oscar graças ao uso intensivo e inteligente desses e outros
macetes. Nos EUA, o "mainstream" é mais honesto.
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