São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

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CONEXÃO POP

A harpa é pop


A cantora e harpista norte-americana Joanna Newsom acaba de lançar nos EUA "Have One on Me", excelente álbum triplo


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Joanna Newsom não é das figuras mais convencionais no pop. Primeiro, porque, além de cantar, ela toca harpa. Segundo, porque em uma época em que muitos discutem se o formato do disco está chegando ao fim, ela acaba de lançar um CD triplo.
Triplo. Cansa só de ler "CD triplo", certo. Mas vai na fé.
"Have One on Me" é um disco extremamente criativo e fora dos padrões do pop.
Não me entenda mal. Sou o primeiro a elogiar faixas como "Single Ladies" e "Bad Romance", músicas que não se levam a sério, feitas a partir de melodias redondas, pop até não poder mais, mas de vez em quando é bom algo mais complexo, menos imediato.
Em "Have One on Me", não espere nada celebratório, festivo. O clima é melancólico, etéreo, lento. Mas nunca chato. É o terceiro álbum de Joanna Newsom, que nasceu na Califórnia e tem apenas 28 anos.
Ela namora Andy Samberg, que pertence ao "Saturday Night Live" e é um dos principais novos comediantes dos EUA.
Se você procura por rótulos, pode chamar sua música de "freak folk", "folk abstrato", "pop avant-garde". É difícil classificar Joanna Newsom.
"Have One on Me" traz 18 faixas -algumas com oito, nove, até 11 minutos de duração. Seu principal instrumento é a harpa, que dá um tom meio fantasioso a faixas como "Good Intentions Paving Company".
Mas ela é acompanhada por teclados, violinos (como em "Easy"), guitarras ("Baby Birch"), muitos pianos.
Joni Mitchell e Kate Bush são algumas das referências pescadas no álbum.
Ela canta sobre perdas, desilusões amargas. Suas letras não são fáceis, o otimismo não é uma opção.
A riqueza musical do álbum é contrastada com a voz de Newsom -se o disco tem um ponto fraco, é esse. Não que ela possua uma voz ruim, mas às vezes soa infantil demais.
Joanna Newsom é uma artista talentosa e versátil. Sente-se tão confortável tocando num local intimista, como o teatro do Sesc Santana, em São Paulo (ela se apresentou no lugar em 2007), como no festival All Tomorrow's Parties, convidada pelo curador Matt Groening (o criador dos Simpsons).
Lança discos pelo selo Drag City, casa de bandas cult como Royal Trux e Pavement. O site NPR colocou todas as faixas de "Have One On Me" para streaming (http://bit.ly/b13goT). Aproveite.

 

"Canal de quem?" (no original, "Whosetube?"). É o que pergunta Damian Kulash Jr., vocalista da banda indie-pop OK Go, em artigo publicado na última sexta no "New York Times".
O ponto do roqueiro é o seguinte: as gravadoras estão atrapalhando a divulgação de seus artistas feita por blogs e sites ao querer cobrar desses locais pela exibição de vídeos de sites como o YouTube.
Ele cita como exemplo a música "Here It Goes Again". A própria banda produziu e dirigiu o clipe da canção. As imagens dos músicos fazendo passos de dança em esteiras de ginástica foi um sucesso estrondoso em 2006. O vídeo foi visto por milhões de pessoas e ajudou o OK Go a tornar-se um nome conhecido.
O problema é que agora a EMI não deixa blogs incorporarem em suas páginas os clipes do grupo. A visualização dos vídeos caiu drasticamente (90%) e os músicos não podem, por contrato, fazer nada.

thiago.ney@uol.com.br


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