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CINEMA
Críticos consideram justa a concessão do Urso de Ouro a "Central do Brasil" pelo festival de Berlim
Imprensa européia aplaude premiação
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
Grande parte dos principais jornais europeus elogiou ontem a
concessão de dois prêmios para a
co-produção franco-brasileira
"Central do Brasil", de Walter Salles, pelo 48º Festival de Cinema de
Berlim- o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda Montenegro.
A imprensa alemã arrefeceu as
críticas ao nível da mostra competitiva e aprovou a decisão do júri
presidido pelo ator britânico Ben
Kingsley.
Prêmio "justo"
"América latina bate Hollywood" era o título da chamada
com foto no alto da primeira página do diário berlinense "Der Tagesspiegel".
O crítico Jan Schulz-Ojala considerava o prêmio "justo" numa
"Berlinale de grandes emoções",
"filmes fortes" e "júri seguro".
Tobias Kniebe, no "Sueddesutsche Zeitung", de Munique, concordava que foi uma "boa decisão", frisando que o festival "mais
uma vez dá a vitória ao cinema
clássico".
O diário espanhol "El País" afirmou em manchete de página que
"Central do Brasil' ganha um justo Urso de Ouro".
O crítico Angel Fernandez-Santos sustentava que a atriz Fernanda Montenegro "arredonda este
filme belo e emocionante com
uma interpretação de notável eficácia emocional".
O tradicional diário londrino
"The Times", por sua vez, assegurava na manchete que na competição havia filmes para todos os gostos.
Geoff Brown classificou como
"forte" a disputa. Seus maiores
elogios foram para a "performance magnífica" de Montenegro.
Restrições
A principal voz dissonante veio
da Itália, de onde se ouviram as
maiores restrições ao filme de
Walter Salles.
O veterano crítico Tullio Kezich,
do "Corriere della Sera", disse que
a vitória de "Central" foi "surpreendentemente acolhida com
simpatia".
Para ele, os concorrentes mais
fortes eram "Wag the Dog" (Abane o Cão), de Barry Levinson, premiado com o Urso de Prata - Prêmio Especial do Júri, e "On Connait la Chanson", de Alain Resnais, que acabou também levando
seu Urso de Prata como reconhecimento pela carreira.
Salto
"Central do Brasil" foi o filme
certo na hora certa. Além das qualidades próprias -que superam
deficiências de roteiro-, o terceiro longa-metragem de Walter Salles pousou no circuito internacional de festivais num momento de
vácuo, propiciado pela retração
das duas últimas grandes ondas
regionais: o cinema iraniano e o
do eixo China-Hong Kong-Taiwan.
É cedo para prognosticar uma
explosão de interesse no cinema
brasileiro, mas a reconquista da
atenção internacional pulou alguns degraus com o triunfo de Salles e a indicação para o Oscar de
"O Que É Isso, Companheiro?" de
Bruno Barreto.
Recorde
Prova palpável: ainda antes do
triunfo de "Central do Brasil", o
estande brasileiro no mercado
berlinense, organizado pelo Grupo Novo de Cinema e TV, batia
seu recorde de movimentação.
Só "Guerra de Canudos", de Sérgio Rezende, exibido com sucesso
na mostra paralela Panorama, estabeleceu negociações com 15 países.
"Central do Brasil" merecia vencer? O quase consenso em torno
da premiação indica que sim. A
atriz francesa Jeanne Moreau, presidindo certa vez o júri de Cannes,
defendeu que os vitoriosos em
grandes festivais impõem-se por
sua própria excelência.
O filme de Walter Salles exibiu a
sua, assim como "The Big Lebowski" dos irmãos Coen, injustamente esnobado pelo júri.
"Nó na Garganta", de Neil Jordan, também chegou quase lá. O
Urso de Prata de melhor diretor
carrega um implícito reconhecimento deste "quase".
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