São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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CINEMA
Críticos consideram justa a concessão do Urso de Ouro a "Central do Brasil" pelo festival de Berlim
Imprensa européia aplaude premiação

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

Grande parte dos principais jornais europeus elogiou ontem a concessão de dois prêmios para a co-produção franco-brasileira "Central do Brasil", de Walter Salles, pelo 48º Festival de Cinema de Berlim- o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda Montenegro.
A imprensa alemã arrefeceu as críticas ao nível da mostra competitiva e aprovou a decisão do júri presidido pelo ator britânico Ben Kingsley.
Prêmio "justo"
"América latina bate Hollywood" era o título da chamada com foto no alto da primeira página do diário berlinense "Der Tagesspiegel".
O crítico Jan Schulz-Ojala considerava o prêmio "justo" numa "Berlinale de grandes emoções", "filmes fortes" e "júri seguro".
Tobias Kniebe, no "Sueddesutsche Zeitung", de Munique, concordava que foi uma "boa decisão", frisando que o festival "mais uma vez dá a vitória ao cinema clássico".
O diário espanhol "El País" afirmou em manchete de página que "Central do Brasil' ganha um justo Urso de Ouro".
O crítico Angel Fernandez-Santos sustentava que a atriz Fernanda Montenegro "arredonda este filme belo e emocionante com uma interpretação de notável eficácia emocional".
O tradicional diário londrino "The Times", por sua vez, assegurava na manchete que na competição havia filmes para todos os gostos.
Geoff Brown classificou como "forte" a disputa. Seus maiores elogios foram para a "performance magnífica" de Montenegro.
Restrições
A principal voz dissonante veio da Itália, de onde se ouviram as maiores restrições ao filme de Walter Salles.
O veterano crítico Tullio Kezich, do "Corriere della Sera", disse que a vitória de "Central" foi "surpreendentemente acolhida com simpatia".
Para ele, os concorrentes mais fortes eram "Wag the Dog" (Abane o Cão), de Barry Levinson, premiado com o Urso de Prata - Prêmio Especial do Júri, e "On Connait la Chanson", de Alain Resnais, que acabou também levando seu Urso de Prata como reconhecimento pela carreira.
Salto
"Central do Brasil" foi o filme certo na hora certa. Além das qualidades próprias -que superam deficiências de roteiro-, o terceiro longa-metragem de Walter Salles pousou no circuito internacional de festivais num momento de vácuo, propiciado pela retração das duas últimas grandes ondas regionais: o cinema iraniano e o do eixo China-Hong Kong-Taiwan.
É cedo para prognosticar uma explosão de interesse no cinema brasileiro, mas a reconquista da atenção internacional pulou alguns degraus com o triunfo de Salles e a indicação para o Oscar de "O Que É Isso, Companheiro?" de Bruno Barreto.
Recorde
Prova palpável: ainda antes do triunfo de "Central do Brasil", o estande brasileiro no mercado berlinense, organizado pelo Grupo Novo de Cinema e TV, batia seu recorde de movimentação.
Só "Guerra de Canudos", de Sérgio Rezende, exibido com sucesso na mostra paralela Panorama, estabeleceu negociações com 15 países.
"Central do Brasil" merecia vencer? O quase consenso em torno da premiação indica que sim. A atriz francesa Jeanne Moreau, presidindo certa vez o júri de Cannes, defendeu que os vitoriosos em grandes festivais impõem-se por sua própria excelência.
O filme de Walter Salles exibiu a sua, assim como "The Big Lebowski" dos irmãos Coen, injustamente esnobado pelo júri.
"Nó na Garganta", de Neil Jordan, também chegou quase lá. O Urso de Prata de melhor diretor carrega um implícito reconhecimento deste "quase".



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