São Paulo, segunda, 24 de março de 1997.

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CRÍTICA
Haynes filma pesadelo da assepsia

CÁSSIO STARLING CARLOS
Editor-adjunto do Mais!

O que aconteceria se uma dona-de-casa instalada em um oásis de conforto e segurança absolutos desenvolvesse uma aversão a suas conquistas? É sobre essa hipótese perversa que Todd Haynes constrói seu segundo filme, "A Salvo", não exibido nos cinemas brasileiros e lançado agora em vídeo.
Em seu filme de estréia, "Veneno", Haynes elaborou um poema de uma beleza furiosa, levando para as telas o imaginário de Jean Genet e seu decadentismo homossexual. Em "A Salvo", Haynes investe numa beleza abstrata -absolutamente adequada ao pesadelo da assepsia que ele põe em cena. Sua referência mais direta é o "Deserto Vermelho" de Antonioni, aqui refilmado sob disfarce.
Julianne Moore -impecável- faz o papel de Carol White, uma mulher que conquistou os sonhos básicos: marido dedicado, casa luxuosa, amigas fiéis.
Mesmo assim ela sofre. O sexo torna-se um suplício. A compra de um sofá novo e caro que é entregue em cor trocada pode lhe causar uma crise de nervos. Até beber um copo de leite pode causar nela uma parada respiratória.
Só a descoberta de uma comunidade alternativa isolada de todos os perigos vai resolver seu problema. Ali convivem pessoas que desenvolveram uma estranha forma de "alergia à civilização".
Mesmo que a sinopse de "A Salvo" sugira uma espécie de manifesto do Greenpeace, Haynes passa longe do discurso ambientalista. "A Salvo" é um poema luminoso sobre as forças obscuras sempre prontas a implodir o oásis do bem-estar.

Filme: A Salvo Produção: EUA, 1995, 111 min. Direção: Todd Haynes Elenco: Julianne Moore, Peter Friedman Lançamento: Abril Vídeo (tel. 011/837-4542)
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