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CINEMA
No Brasil, diretor diz que filmará "Oliver Twist", porque quer fazer "um filme para crianças" depois de "O Pianista"
Roman Polanski prepara longa infantil
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor franco-polonês Roman Polanski, 70, diz que divorcia
o cinema da vida. "Não tenho a
pretensão ou a ambição de fazer
uma obra autobiográfica. O que
se aproxima muito da minha vida
não me interessa." E contradiz a si
mesmo: "Por isso levei tanto tempo para fazer "O Pianista'".
Quarenta anos separam "O Pianista" (2002) -mais recente longa de Polanski, em que trata da
perseguição nazista aos judeus,
experiência que conhece pessoalmente- de seu filme de estréia,
"A Faca na Água" (1962).
Ambos os títulos estão em exibição em mostra retrospectiva da
obra do diretor, em cartaz até
amanhã, no Cinesesc, em São
Paulo, com a exibição também de
"Repulsa ao Sexo", "A Dança dos
Vampiros" e "Le Bateau sur l'Herbe" (O Barco na Relva). Polanski
veio ao Brasil receber a homenagem e falou à imprensa anteontem, numa entrevista coletiva na
qual exibiu ironia, bom humor e
impaciência, alternadamente.
Contradizer-se sobre o cinema é
um movimento natural de quem
mantém com a arte uma relação
"sem cartesianismo". Afirma o
diretor: "Faço cinema como faço
esporte, me alimento, faço amor.
É sobretudo uma forma de satisfação".
O diretor disse que, depois de
"O Pianista", se interrogou sobre
o futuro de sua obra. "O que vou
fazer agora: uma comédia? um filme policial banal? Seria impossível retornar a esse tipo de coisa."
O tema do próximo longa surgiu da rotina doméstica. "Brincando com meus filhos, eu me dei
conta de que o que realmente
quero fazer é um filme para crianças. Pensei nos livros que amava
quando tinha a idade deles, aí
pensei em "Oliver Twist" [de
Charles Dickens], e esse é o tema
do meu novo filme."
Polanski foi premiado com o
Oscar de melhor diretor por "O
Pianista" no ano passado, mas
não estava presente à cerimônia
de entrega da estatueta. Ele pode
ser preso se entrar nos EUA, onde
é acusado de haver praticado sexo
não-consentido com uma menor
de idade, no fim da década de 70.
"Na América há um grande número de cineastas que apreciam
meu trabalho. Eles exprimiram isso quando meu Oscar foi anunciado. Fui aplaudido de pé. Isso
não tem nada a ver com meus
problemas na Califórnia."
Depois de dizer que "um bom
diretor pode tirar algo de atores
não tão bons", Polanski impacientou-se quando questionado
sobre como trabalha com atores.
"É como perguntar a um cirurgião como ele opera um cérebro.
É algo complexo demais."
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