São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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CINEMA

No Brasil, diretor diz que filmará "Oliver Twist", porque quer fazer "um filme para crianças" depois de "O Pianista"

Roman Polanski prepara longa infantil

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor franco-polonês Roman Polanski, 70, diz que divorcia o cinema da vida. "Não tenho a pretensão ou a ambição de fazer uma obra autobiográfica. O que se aproxima muito da minha vida não me interessa." E contradiz a si mesmo: "Por isso levei tanto tempo para fazer "O Pianista'".
Quarenta anos separam "O Pianista" (2002) -mais recente longa de Polanski, em que trata da perseguição nazista aos judeus, experiência que conhece pessoalmente- de seu filme de estréia, "A Faca na Água" (1962).
Ambos os títulos estão em exibição em mostra retrospectiva da obra do diretor, em cartaz até amanhã, no Cinesesc, em São Paulo, com a exibição também de "Repulsa ao Sexo", "A Dança dos Vampiros" e "Le Bateau sur l'Herbe" (O Barco na Relva). Polanski veio ao Brasil receber a homenagem e falou à imprensa anteontem, numa entrevista coletiva na qual exibiu ironia, bom humor e impaciência, alternadamente.
Contradizer-se sobre o cinema é um movimento natural de quem mantém com a arte uma relação "sem cartesianismo". Afirma o diretor: "Faço cinema como faço esporte, me alimento, faço amor. É sobretudo uma forma de satisfação".
O diretor disse que, depois de "O Pianista", se interrogou sobre o futuro de sua obra. "O que vou fazer agora: uma comédia? um filme policial banal? Seria impossível retornar a esse tipo de coisa."
O tema do próximo longa surgiu da rotina doméstica. "Brincando com meus filhos, eu me dei conta de que o que realmente quero fazer é um filme para crianças. Pensei nos livros que amava quando tinha a idade deles, aí pensei em "Oliver Twist" [de Charles Dickens], e esse é o tema do meu novo filme."
Polanski foi premiado com o Oscar de melhor diretor por "O Pianista" no ano passado, mas não estava presente à cerimônia de entrega da estatueta. Ele pode ser preso se entrar nos EUA, onde é acusado de haver praticado sexo não-consentido com uma menor de idade, no fim da década de 70.
"Na América há um grande número de cineastas que apreciam meu trabalho. Eles exprimiram isso quando meu Oscar foi anunciado. Fui aplaudido de pé. Isso não tem nada a ver com meus problemas na Califórnia."
Depois de dizer que "um bom diretor pode tirar algo de atores não tão bons", Polanski impacientou-se quando questionado sobre como trabalha com atores. "É como perguntar a um cirurgião como ele opera um cérebro. É algo complexo demais."


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