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13º FESTIVAL DE CURITIBA
Dois espetáculos de Campinas e um da capital paranaense atualizam o pensamento político e artístico do dramaturgo alemão
Fringe saúda Bertolt Brecht em três peças
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O escritor de peças Bertolt
Brecht, como tratava a si, viveu 58
anos e sublimou tempos sombrios em teatro e poesia. Tempos
de guerra, de intolerância, atualizados pelos eventos históricos
deste nascente século 21 e espelhados no Festival de Teatro de
Curitiba.
A obra do alemão Brecht (1898-1956) recorta parte da programação do Fringe e da Mostra Oficial.
Ora com seus textos dramáticos,
ora com seu pensamento político,
humanista. Em verdade, um e outro não se descolam.
"Encenar Brecht é interferir no
modo de pensar maniqueísta de
nossa época e propor a dialética",
diz o diretor Marcelo Lazzaratto,
37, que trouxe para o Fringe, mostra paralela do festival, duas montagens do autor: "O Círculo de Giz
Caucasiano", com a cia. Turma
Zero Zero, e "Terror e Miséria no
3º Reich", com a cia. Lês Commediens Tropicales, ambos com alunos de Artes Cênicas da Unicamp.
Os dois elencos somam 57 atores.
Essa percepção dialética da realidade, para além do bem e do
mal, fica evidente em "Terror e
Miséria no 3º Reich" (1938).
Brecht mostra como a ascensão
de Adolf Hitler obteve adesão de
todas as classes sociais. Relações
humanas foram rompidas ou estabelecidas diante do medo.
"A peça foca as pessoas comuns, a família, o empregado, o
patrão. Não há heróis", diz Lazzaratto. O microcosmo é contaminado pelo persuasão de Hitler
(1889-1945), que promete "soerguimento do povo alemão".
A ação se passa em meados dos
anos 30, eminência da Segunda
Guerra (1939-45). São encenados
16 dos 24 quadros de "Terror e
Miséria". Os atores do Commediens Tropicales ocupam o Moinho Rebouças, engenho de moagem de trigo no século passado.
Térreo, primeiro e segundo andares, salas contíguas e o pátio do
edifício transformam-se no cenário para a matança de judeus no
campo de concentração, o alojamento da Juventude Hitlerista, a
marcha da polícia nazista metida
em seus uniformes azul-marinho
escuro e símbolo da suástica atado ao braço esquerdo, por aí vai.
O público é deslocado de um
ponto a outro, entre gritos, barulhos de portas de aço cerradas e de
aviões que passam na rota para o
aeroporto de São José dos Pinhais, o que corrobora o realismo,
apesar da narrativa épica. "Falta
muito para os bons tempos", diz
um dos personagens.
Em "O Círculo de Giz Caucasiano", Lazzaratto e a Turma Zero
Zero colocam em xeque a posse
da terra. "Quem tem direito sobre
ela? Quem nela nasceu e a toma
como propriedade ou quem dela
melhor cuida?" são as questões
lançadas e abordadas por meio da
metáfora de uma criança esquecida pela mãe, mulher do governador, e adotada por uma criada em
meio a uma revolta no palácio.
Inspirada na parábola do rei Salomão, o ápice é um julgamento
para ver com quem ficará a criança. O juiz, um cidadão vindo de
classe baixa, recorre à prova do
círculo de giz: as mulheres têm
que puxar o bebê ao centro.
Outra montagem, desta vez local, faz releitura de duas peças radiofônicas de Brecht, "O Vôo sobre o Oceano" e "Baden-Baden".
O resultado é o espetáculo "A
Longa Viagem do Comandante
Fulano de Tal através do Grande
Oceano", com adaptação e direção de Enéas Lour.
Narra a história do Comandante Aviador, que, pela primeira vez
na história, tenta cruzar o oceano
com sua máquina voadora. A peça traça metáforas dessa longa e
solitária viagem com a própria
trajetória do homem comum pela
vida, a transpor obstáculos como
tempestade, nevoeiro, sono e,
principalmente, a si mesmo.
"Fazer uma peça do Brecht, como diz o jargão dos artistas, não é
fácil. E a principal dificuldade é o
esforço de aproximação com o tal
Bertolt Brecht. Fácil seria assumir
a "forma do teatro de Brecht" em
oposição ao "seu conteúdo político", considerando atual apenas
uma dessas partes. Porém a forma
do teatro de Brecht é a expressão
de sua política. Assim, torna-se
impossível dissociar forma e conteúdo, pois toda a ação é política
em Brecht", escreve Lour.
A fotógrafa Lenise Pinheiro e o repórter Valmir Santos viajam a convite da
organização do FTC
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