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"REENCARNAÇÃO"
Segundo Glazer segue sem ter o que dizer
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Considerado uma nova
promessa entre os britânicos, Jonathan Glazer é hábil em
criar atmosferas e definir um universo visual e sonoro fechado para desenvolver suas histórias. Essa
característica se faz evidente nos
dois longas que dirigiu após farta
experiência em videoclipes e comerciais: a festejada releitura britânica de filmes de gângster "Sexy
Beast" (2000) e, agora, o drama
psicológico com tintas sobrenaturais "Reencarnação".
Enquanto "Sexy Beast" é quente
e explosivo, com interpretações
ruidosas de Ben Kingsley e Ray
Winstone, "Reencarnação" é invernal, calmo e asséptico. Ambos
guardam coerência interna, mas
carecem do principal, que é basicamente um ponto de vista, ter algo a dizer. Glazer, por enquanto,
provou ter domínio da técnica,
mas ainda não disse a que veio.
Por isso "Reencarnação" é um daqueles filmes estranhos, em que
tudo funciona a contento, porém
não chega a ser convincente.
O roteiro (de Glazer, Jean-Claude Carrière e Milo Addica) está
amarradinho, com diálogos precisos. Os atores se entregaram aos
papéis, principalmente Nicole
Kidman, como Anna, e o excepcional Danny Huston, como seu
noivo. A fotografia (de Harry Savides, o mesmo de "Elefante") e a
música (de Alexandre Desplat, de
"Moça com Brinco de Pérola")
enchem olhos e ouvidos. Mas, ao
fim da projeção, fica a pergunta
de "Sexy Beast": "E daí?".
Como num conto fantástico de
Henry James, "Reencarnação" é
detalhadamente pensado para fabricar uma atmosfera gótica a
partir da exploração de elementos
psicológicos. No caso, a fragilidade de Anna, mulher que amava
tanto o marido, Sean, que, dez
anos depois da morte dele, ainda
não havia superado o luto. Certo
dia, quando finalmente cede ao
assédio do novo pretendente e decide se casar, uma criança chamada Sean aparece na sua vida, dizendo ser a encarnação do morto.
Glazer insiste num tom excessivamente sóbrio, que deveria ajudar a dar credibilidade à história,
mas acaba tornando patente a
construção elaborada, o planejamento das cenas. Não por acaso,
Kidman usa um corte de cabelo
igual ao de Mia Farrow em "O Bebê de Rosemary". A luz, em vários
momentos, lembra a de "De
Olhos Bem Fechados". No entanto "Reencarnação" não chega aos
pés desses filmes que evidentemente serviram de modelo.
Reencarnação
Birth
Produção: EUA, 2004
Direção: Jonathan Glazer
Com: Nicole Kidman, Cameron Bright
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Bristol e circuito
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